Capítulo 5

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O Bar do Chefe ficava num casarão antigo num dos bairros nobres de Recife. Apesar do nome, de dia, o lugar funcionava como restaurante de família. Apenas à noite era que o ambiente ficava mais com cara de festa e o enorme jardim que circundava o casarão era tomado por jovens conversando, bebendo e flertando.

Mas estrear a vida de solteira ali nem de longe fora uma boa ideia. Todo mundo da época da faculdade parecia estar lá, obrigando-me a explicar a mesma história repetidas vezes sempre que alguém me perguntava sobre Eduardo.

— Nina, se você se estressar por isso a noite toda, não vai se divertir. — Felipa falou enquanto descíamos as escadas para entrar no porão onde ficava o pub e pegar drinks. Mafalda havia ficado para trás, conversando com alguns amigos.

O lugar estava abarrotado e o reggaeton do momento ecoava num volume altíssimo pelas paredes pichadas. Alguns casais dançavam mais colados que o necessário para um ambiente público. Precisei me espremer por entre as pessoas para conseguir chegar até o barman e escolhi a primeira bebida que consegui entender no cardápio em letras neon acima do balcão.

À uma da madrugada, meus lábios já estavam dormentes e eu tinha certeza de que tudo o que falava não soava como imaginava. Havia perdido o costume de beber desde que Eduardo quase terminara comigo depois de eu ficar bêbada numa festa da turma, logo no início do namoro. No final das contas, era até melhor porque eu podia dirigir na volta e deixar Eduardo e os amigos em segurança em casa.

— Ahn?

Com a música naquela altura, nem com um ouvido de tuberculoso eu conseguiria escutar Felipa. Ou será que a bebida também havia me deixado surda? Não duvidava.

— Tem um boyzinho que não parou de olhar para você a noite toda.

Revirei os olhos, sabendo que ela estava me zoando — àquela altura da madrugada, eu já devia parecer um espantalho — e voltei a dançar conforme as batidas da música. O álcool devia estar falando, mas me sentia uma dançarina profissional.

— O de preto, não é? Eu notei também!

Percebendo que elas falavam sério, senti o estômago revirar de ansiedade. Ou era ânsia de vômito?

— Ele tá vindo!

— Esqueçam. Nós combinamos de não ficar com ninguém hoje. Não vou quebrar nosso pacto.

Ainda assim, me senti bem por ser o alvo do interesse de alguém, ainda mais na companhia de Felipa e Larissa, as verdadeiras encarnações da Bela Adormecida e da Pocahontas dos desenhos animados da Disney.

— Posso conhecer a menina mais bonita desse lugar?

Quando o rapaz colocou a mão na minha cintura, quase como num passe de mágica, a súbita animação se esvaiu. Odiava quando algum desconhecido me tocava sem permissão.

— Desculpe, eu estou com minhas amigas... — Fingi uma expressão de tristeza e indiquei Felipa e Larissa com a cabeça. Ele devia ser apenas alguns centímetros mais alto do que eu. Seu rosto tinha traços bonitos, apesar da pouca luz do ambiente.

— Eu preciso ir ao banheiro urgente, Lari!

— Eu vou com você, Fê!

Traidoras malditas.

— Parece que suas amigas não estão mais aqui.

Controlei a vontade de dizer "você jura?!" e, em vez disso, apenas dei um riso desconsertado, que o rapaz deve ter interpretado como um convite, e se aproximou um pouco mais.

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora