— Está fazendo sol hoje, hã?
Espremi os olhos, na tentativa de enxergar a mulher sem ser ofuscada pela claridade. Seu corpo tinha proporções estranhas e sua pele parecia maltratada pela luz do sol por debaixo de todo o protetor solar no rosto.
Eu estava rodeada por um mar de pessoas de camisas laranja berrante, óculos espelhados, shorts minúsculos, leggings estampadas e tênis em todas as cores neon possíveis de se imaginar. Ah, e bonés e viseiras. Muitos bonés e viseiras.
— Sim, não sei como vou aguentar até o fim dos dez quilômetros.
— Primeira vez na corrida das Pontes?
— Primeira vez em qualquer corrida oficial.
— Eu lembro a primeira vez que corri meus dez quilômetros. Faz tanto tempo! Quantos quilômetros você já fez?
— Cinco.
— Ah, quem faz cinco, faz dez.
— Foi o que me disseram.
Já era a segunda pessoa que me dizia isso e aquela mulher parecia saber do que estava falando. Ela tinha um cinto de utilidades do Batman com minigarrafas d'água e isotônicos, pelo amor de Deus! Se alguém sabia do que estava falando, era ela.
Talvez não fosse tão impossível assim chegar até o fim. Era só uma questão de dobrar uma meta que eu já conseguia alcançar. Muito simples. Quem fazia cinco, fazia dez.
Lembrei-me de Lorenzo e senti-me culpada por não o ter avisado que decidira ir à corrida. Ele havia sido tão atencioso. Eu deveria ter ao menos enviado alguma mensagem avisando que estaria ali.
E se nos esbarrássemos no meio da corrida? Era óbvio que uma decisão tomada às cinco horas da manhã de um Domingo não tinha condições de ser uma boa ideia.
A verdade era que eu toparia qualquer coisa para não continuar em casa, ruminando a imagem de Théo e Luma juntos. Mas, pensando melhor, correr sozinha durante dez quilômetros apenas daria mais tempo para meu cérebro me torturar.
Estava decidida a sair do meio da multidão quando escutei uma espécie de sirene soar e, de repente, comecei a ser empurrada por diversas pessoas caminhando na direção do arco da linha de largada.
— Começou. Boa corrida, menina! — A mulher colocou a mão no meu ombro, dirigindo-me um sorriso encorajador que me fez mudar de ideia.
Demorou algum tempo para que a multidão dispersasse o suficiente para podermos dar passos mais largos e começarmos a correr de verdade. Ao longo das ruas, recebíamos os incentivos de pedestres e até de alguns motoristas. Pessoas com coletes da organização entregavam copos d'água aos participantes.
Em certo ponto, precisei jogar água na cabeça para me refrescar — e porque queria imitar alguns corredores com cara de profissionais que faziam isso também.
Minha mais nova amiga tinha uma passada rápida e tive que me apressar para a acompanhar. Mas, ao terminar os três primeiros quilômetros, percebi que aquela não fora uma ideia muito sensata e me vi acenando um adeus ao precisar parar para recuperar o fôlego.
— Guria?
Senti um súbito frio na barriga. Eu sabia que deveria ter desistido.
— Oi... Lo... renzo.
Na tentativa de disfarçar o estado arfante, tomei um longo gole d'água e joguei o copo numa lixeira próxima
— Eu pensei que tu não vinhas pra corrida.
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̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶ Mônica
ChickLitNós havíamos nascido um para o outro. Afinal, éramos Eduardo e Mônica, o casal mais famoso da música brasileira. Então por que, quando ele me perguntou as palavrinhas mágicas, algo em mim gritou não, não, não? Eu, que sempre desejei um relacionament...