Capítulo 23

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Xinguei alto e me ajoelhei, levando as mãos ao olho atingido, na tentativa de que a pressão afastasse a dor.

— Mônica? — Senti a mão de Lorenzo no ombro.

O barulho dos martelos havia parado e percebi que chamara a atenção de todo mundo. Aquele definitivamente não era o meu dia de sorte.

— Dona Mônica, tá tudo bem? — Jorge tocou meu outro ombro.

— Está tudo bem sim. — Eu me levantei. — Por que vocês pararam? Não foi nada demais. Podem voltar.

— Então porque tu continuas com a mão em cima do olho?

Lorenzo cruzou os braços.

— Foi só um estilhaço minúsculo, Lorenzo.

Eu abaixei a mão.

— Teu olho está avermelhado e lacrimejando, Mônica. — Lorenzo me examinou de perto. — Vamos, eu vou te levar numa emergência.

— Claro que não. A obra não pode ficar sem um engenheiro e você ainda precisa ir no setor de André. — Sussurrei para Lorenzo e me dirigi aos pedreiros. — Vamos, pessoal. Voltem para o que estavam fazendo.

— Mônica, tu passaste o dia distraída no celular no canteiro de obras. — Ele levantou a voz. — Esqueceu de colocar o equipamento de proteção individual quando deveria ser a primeira a dar o exemplo a todo mundo. Causou um acidente em ti mesma e, para completar, agora te recusas a ir ao hospital. O que mais tu queres fazer para ganhar um atestado de irresponsabilidade? Que baita de um exemplo que tu estás passando para o resto da equipe!

Abri a boca e fechei mais de uma vez. Jorge e os outros pedreiros se afastaram, fingindo que haviam encontrado algo mais interessante para fazer.

— Eu vou ao hospital, mas você não precisa me levar.

Lorenzo cruzou os braços.

— É? E como tu vais dirigir nesse estado?

Segurei a vontade de bufar, mas tinha que dar o braço a torcer. Meu olho doía e lacrimejava demais para que pudesse dirigir.

— Eu vim de Uber hoje para o trabalho, posso dirigir teu carro até o hospital e depois te deixo em casa, se for o caso.

— Certo.

Quando Lorenzo se afastou para conversar com os pedreiros antes de irmos, corri para a segurança do interior do meu carro. Ao encostar a testa no volante, fechei os olhos e tentei não pensar no olho que ardia, mas o celular vibrando em meu bolso não estava ajudando.

— O quê? Se for sobre aquela maldita legenda...

Olá para você também!

— Théo?! — Eu congelei. — Não vi que era você. Desculpa, eu não estou no melhor dos meus dias.

Tudo bem. O que houve?

Respirei fundo.

— Tanta coisa que não sei nem por onde começar.

Bem, considerando que meu voo para São Paulo é às onze da noite, você tem... pelo menos umas oito horas para me contar tudo.

— Você vai viajar?

Senti uma pontada de decepção ao constatar que não o veria tão cedo.

Sim. Um encontro para apaixonados por cerveja artesanal e, claro, alguns empresários chatos também.

— Parece interessante.

E é! Vai ter gente de todo lugar do Brasil, centenas de cervejas artesanais para degustação, palestras...

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora