Capítulo 30

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Não sabia dizer se os dias que se seguiram passaram num piscar de olhos ou à conta gotas. Minha rotina se resumia a pernoitar no apartamento, trabalhar e correr de volta para o hospital assim que o expediente terminava para que nossa mãe pudesse descansar.

Ao final de uma semana, Mafalda já havia sido transferida para o quarto, mas tudo o que sabíamos era que um trombo provocara a cegueira e o único fator de risco que parecia justificá-lo era a gravidez.

— Eu ainda não consigo acreditar que sua irmã não sabe quem é o pai.

— Ela sabe, mãe.

Dona Lúcia balançou a cabeça para os lados e voltou a dobrar uma pilha de roupas e guardar na mala de mão em cima da cama. Mafalda tomava banho enquanto nós esperávamos que o médico aparecesse para lhe dar alta.

— O que adianta saber um nome? — Ela parou de dobrar as roupas. — Como ela vai sustentar uma criança com apenas um nome e sem um emprego, Mônica? 

— Ela vai arranjar outro.

— Grávida? Ela tem sorte o suficiente que você está segurando as contas da casa. Eu ainda nem sei como faremos para pagar as despesas do hospital se não resolvermos o problema com o plano de saúde.

Suspirei, sem saber mais o que dizer.

— Sim, a situação de Mafalda não é nada fácil. Mas tudo o que ela não precisa agora é da própria mãe a colocando pra baixo. Ela acabou de ter um AVC, pelo amor de Deus, tenha um pouco de consideração e seja apenas a mãe que ela precisa agora.

Dona Lúcia me olhou magoada. O olhar de reprovação da nossa mãe sempre me dava calafrios. Ela estava prestes a retorquir quando Mafalda saiu do banheiro.

— Eu vou falar com alguma enfermeira para saber da alta. Terminem de arrumar as malas. — Ela jogou a peça de roupa na poltrona ao lado da cama.

Mafalda a observou sair do quarto pisando duro. Ela desembaraçava os cabelos molhados com uma escova de madeira e, com a outra mão, digitava algo no celular. A blusa de alcinhas deixava à vista a ligeira curva em seu abdômem. 

— O que houve?

Dei de ombros.

— Mamá, eu posso sentir?

Antes que Mafalda respondesse, pousei a mão em sua barriga quando ela sentou-se na cama.

— Não dá pra sentir nada ainda. Só tem quinze semanas. 

— Eu nunca vou entender essa contagem. Se você e Nuno transaram duas semanas antes do meu noivado, devia ter treze semanas, não quinze.

— Nina! — Mafalda gritou.

— O quê?

Eu tirei a mão, com medo de que tivesse quebrado o bebê.

— Nuno entrou em contato comigo! Nuno me mandou uma mensagem!

— Quê? Como? Onde?

— Eu não sei! — Ela tinha os olhos vidrados na tela do celular. — Ele chegou em Portugal do mochilão há uma semana e só teve tempo de me procurar agora. Ele quer saber como eu estou. O que eu respondo?!

A porta do quarto se abriu e dona Lúcia entrou, uma pasta de papéis debaixo do braço, sendo seguida por uma enfermeira atarantada.

— Já resolvi tudo. Terminaram a mala?

Mafalda me encarou de olhos arregalados, gesticulando com a boca para que eu ficasse calada. Em poucos minutos, nós já estávamos no hall do Hospital, esperando pelo manobrista trazer o carro.

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora