Não sabia dizer se os dias que se seguiram passaram num piscar de olhos ou à conta gotas. Minha rotina se resumia a pernoitar no apartamento, trabalhar e correr de volta para o hospital assim que o expediente terminava para que nossa mãe pudesse descansar.
Ao final de uma semana, Mafalda já havia sido transferida para o quarto, mas tudo o que sabíamos era que um trombo provocara a cegueira e o único fator de risco que parecia justificá-lo era a gravidez.
— Eu ainda não consigo acreditar que sua irmã não sabe quem é o pai.
— Ela sabe, mãe.
Dona Lúcia balançou a cabeça para os lados e voltou a dobrar uma pilha de roupas e guardar na mala de mão em cima da cama. Mafalda tomava banho enquanto nós esperávamos que o médico aparecesse para lhe dar alta.
— O que adianta saber um nome? — Ela parou de dobrar as roupas. — Como ela vai sustentar uma criança com apenas um nome e sem um emprego, Mônica?
— Ela vai arranjar outro.
— Grávida? Ela tem sorte o suficiente que você está segurando as contas da casa. Eu ainda nem sei como faremos para pagar as despesas do hospital se não resolvermos o problema com o plano de saúde.
Suspirei, sem saber mais o que dizer.
— Sim, a situação de Mafalda não é nada fácil. Mas tudo o que ela não precisa agora é da própria mãe a colocando pra baixo. Ela acabou de ter um AVC, pelo amor de Deus, tenha um pouco de consideração e seja apenas a mãe que ela precisa agora.
Dona Lúcia me olhou magoada. O olhar de reprovação da nossa mãe sempre me dava calafrios. Ela estava prestes a retorquir quando Mafalda saiu do banheiro.
— Eu vou falar com alguma enfermeira para saber da alta. Terminem de arrumar as malas. — Ela jogou a peça de roupa na poltrona ao lado da cama.
Mafalda a observou sair do quarto pisando duro. Ela desembaraçava os cabelos molhados com uma escova de madeira e, com a outra mão, digitava algo no celular. A blusa de alcinhas deixava à vista a ligeira curva em seu abdômem.
— O que houve?
Dei de ombros.
— Mamá, eu posso sentir?
Antes que Mafalda respondesse, pousei a mão em sua barriga quando ela sentou-se na cama.
— Não dá pra sentir nada ainda. Só tem quinze semanas.
— Eu nunca vou entender essa contagem. Se você e Nuno transaram duas semanas antes do meu noivado, devia ter treze semanas, não quinze.
— Nina! — Mafalda gritou.
— O quê?
Eu tirei a mão, com medo de que tivesse quebrado o bebê.
— Nuno entrou em contato comigo! Nuno me mandou uma mensagem!
— Quê? Como? Onde?
— Eu não sei! — Ela tinha os olhos vidrados na tela do celular. — Ele chegou em Portugal do mochilão há uma semana e só teve tempo de me procurar agora. Ele quer saber como eu estou. O que eu respondo?!
A porta do quarto se abriu e dona Lúcia entrou, uma pasta de papéis debaixo do braço, sendo seguida por uma enfermeira atarantada.
— Já resolvi tudo. Terminaram a mala?
Mafalda me encarou de olhos arregalados, gesticulando com a boca para que eu ficasse calada. Em poucos minutos, nós já estávamos no hall do Hospital, esperando pelo manobrista trazer o carro.
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̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶ Mônica
Genç Kız EdebiyatıNós havíamos nascido um para o outro. Afinal, éramos Eduardo e Mônica, o casal mais famoso da música brasileira. Então por que, quando ele me perguntou as palavrinhas mágicas, algo em mim gritou não, não, não? Eu, que sempre desejei um relacionament...