Fazia alguns minutos desde que ficara sozinha quando escutei o barulho do trinco da porta sendo virado.
— Rosa? — Tentei parecer mais corajosa do que de fato me sentia no momento.
— Sou eu, Lorenzo. Esqueci a carteira na mesa.
— Ah, oi, Lorenzo!
Abri a porta.
— Desculpe se te assustei. Esbarrei em Rosa no caminho e ela me disse que tu ainda estavas aqui. Imaginei que a porta estivesse aberta.
— Preferimos trancar quando ficamos sozinhas aqui até tarde.
— Entendi. — Ele pôs as mãos nos bolsos.
— Então... sua carteira?
Não olhe para a testa dele, pensei. Não olhe para a testa dele.
— Ah, sim, sim. Minha carteira. — Ele pegou o objeto de couro, jogado em cima da mesa da bagunça. — Tu vais ficar? O prédio está bem deserto.
— Não, já estava me preparando para desligar os computadores, na verdade. — Apontei com o dedão para as mesas.
— Posso te esperar.
— Obrigada. Você pode ir desligando enquanto arrumo a bolsa, então?
— Claro.
Em alguns segundos, já havia reunido minhas coisas.
— Vamos? — Disse quando as telas dos computadores apagaram.
Lorenzo assentiu com a cabeça e coloquei a bolsa debaixo do braço — bem presa dessa vez, já bastava de confusão por um dia.
— Ei, acho que você sujou a testa com alguma coisa. — Ofereci o pacote de lencinhos umedecidos infantis que Rosa mantinha na mesa dela.
— Não tinha percebido. Obrigado, guria. — Ele aceitou e limpou a testa.
Talvez eu não fosse mais para o inferno. Quem sabe o purgatório?
— Meu carro está no G1. E o teu? — Lorenzo perguntou enquanto trancava a porta da sala.
— Também.
Apertei o botão para chamar o elevador.
— Ótimo. — Ele me devolveu a chave.
Nós caímos no silêncio. Eu rodava o porta-chaves no dedo indicador enquanto Lorenzo mexia no celular e transferia o peso do calcanhar para a ponta dos pés repetidamente.
Ele devia estar pensando no nosso flerte na praia. Eu também estava. Nós havíamos fingido que nada acontecera, mas aquela era a primeira vez que estávamos sozinhos desde então.
— Chegou. — Quebrei o silêncio quando o elevador parou no andar.
Mesmo depois de entrarmos na cabine, continuamos calados, deixando apenas o barulho das engrenagens do elevador falar por nós. Era como se houvesse um verdadeiro elefante branco dividindo o espaço daquela cabine minúscula conosco. Quando o elevador parou no andar, foi como se o ar tivesse voltado para os pulmões.
— Até amanhã. — Acenei para ele quando me aproximei do meu carro.
— Até. — Ele acenou de volta.
Respirei aliviada ao sentar no banco do motorista. Não sabia por que a situação era tão desconfortável. Afinal, Lorenzo havia sido gentil o suficiente para não mencionar o flerte com nossos colegas de trabalho, não havia porque se constranger. Não que aquele dia tivesse importância o suficiente para ser mencionado, mas, ainda assim, eu apreciara o gesto.
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̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶ Mônica
ChickLitNós havíamos nascido um para o outro. Afinal, éramos Eduardo e Mônica, o casal mais famoso da música brasileira. Então por que, quando ele me perguntou as palavrinhas mágicas, algo em mim gritou não, não, não? Eu, que sempre desejei um relacionament...