Reencontrar Eduardo depois de quase um mês sem trocarmos uma palavra sequer provocou um imediato frio na barriga seguido de um total constrangimento. Não havia explicação lógica que eu pudesse dar para amenizar a situação.
Antes que as portas do elevador fechassem, Eduardo ergueu o braço, impedindo-as de continuar.
— Então foi por isso que você terminou comigo? — Ele quebrou o silêncio mórbido, olhando de mim para Théo como se nós lhe causássemos repulsa.
— Edu, não é isso que...
— O porteiro me avisou que você estava no prédio e, por um momento, pensei que tivesse vindo pedir perdão. Até que ele me disse com quem você havia chegado. Aquela história de o amor acabou era uma grande mentira, não era? Você só estava sendo uma vadia e me traindo com ele.
O que poderia falar em minha defesa? Como poderia rebater a acusação quando eu própria me sentia uma vadia? A lembrança da garotinha medrosa, esperando no sofá da Diretora do colégio para ser repreendida, impregnava-me a cabeça.
— Eu e Mônica nunca tivemos nada enquanto vocês estavam juntos, Eduardo.
Meu ex apenas o olhou com desprezo.
— Boa sorte sendo mais uma das conquistas desse aí, Mônica. No final das contas, você e sua irmã até que se parecem mesmo.
Théo cerrou o punho e eu temi que uma briga se iniciasse ali mesmo, mas Eduardo retirou o braço do vão da porta, deixando que o elevador fechasse. Sem conseguir me segurar, joguei-me nos braços de Théo e chorei, baixinho.
— Por que você deixou que ele a tratasse daquele jeito? — Théo afagava meus cabelos.
— Porque eu sou o que ele disse. — Minha voz soava embargada, mas ao menos as lágrimas haviam cessado. — Uma vadia.
— É claro que não, Mônica.
— Como não? Eu terminei um namoro de anos com um cara legal e, menos de um mês depois, quase dormi com o vizinho dele. Que tipo de mulher faz isso?
— Uma mulher solteira?
— Eu sei o que está pensando, Théo. Eduardo não é uma má pessoa. Pra falar a verdade, acho que só terminei com ele por causa de uma promessa idiota que fiz ao meu pai antes de ele morrer. Mas eu e Eduardo mal discutíamos e, quando isso acontecia, normalmente era algo que eu fazia errado e...
— Ou será que você aceitava que ele te fizesse se sentir errada?
Não respondi. Em vez disso, dei-me conta de que eu e Théo ainda estávamos abraçados. Fechei os olhos, deixando o cheiro de mar e folhas de louro me acalmar. Em silêncio, Théo continuou afagando meus cabelos devagar. Droga. Por que eu tinha que ter estragado tudo?
Nós só nos separamos quando as portas do elevador voltaram a abrir e um casal de idosos entrou. Por sorte, o táxi ainda nos esperava e, em poucos minutos, eu estava me despedindo de Théo e pensando que nunca mais o veria.
Ao entrar em casa, desejando um minuto de sossego, dei de cara com Mafalda. Minha irmã levantou-se de brusco assim que me viu, derrubando a bolsa térmica de gel que mantinha sobre a barriga.
— Nina, por que você mentiu? Você não foi a um jantar do trabalho. Você estava com o vizinho do prédio de Eduardo. Não passou por sua cabeça que ele poderia esbarrar em vocês dois?
— Como você sabe disso?
— Eu... Er... — Ela balbuciou. — Eduardo me ligou dizendo uns desaforos.
— Ele o quê? Eu não acredito que ele fez isso.
Eu sabia que não havia sido legal encontrar com Eduardo daquele jeito. A escolha do apartamento fora péssima, mas, ainda assim, ele não tinha o direito de envolver minha irmã na história. No que diabos Eduardo estava pensando?
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̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶ Mônica
ChickLitNós havíamos nascido um para o outro. Afinal, éramos Eduardo e Mônica, o casal mais famoso da música brasileira. Então por que, quando ele me perguntou as palavrinhas mágicas, algo em mim gritou não, não, não? Eu, que sempre desejei um relacionament...