Afrouxei os dedos que seguravam o lençol, agora todo amassado. Meu peito subia e descia acelerado e ainda podia sentir os resquícios do formigamento em uma das canelas.
Cobri-me até a cabeça e voltei a fechar os olhos. A roupa de cama parecia mais macia e cheirosa do que o habitual. Deixaria o banho quente para depois. Aliás, passaria o resto do Domingo enfiada debaixo dos lençóis.
— Mônica?
Era Mafalda, mas não tive coragem de responder que havia chegado. Queria ficar quietinha, naquela posição fetal, para não deixar a sensação escapar. Mas, depois de alguns segundos, o peso na consciência foi maior e sentei na beira da cama. Eu esquecera de avisar à Mafalda que cancelara o jantar de aniversário.
Coloquei as roupas de volta e prendi os cabelos num coque, já me preparando para ouvir a bronca por causa de todo o trabalho que Mafalda tivera para reservar as mesas em meu nome. Talvez, se eu lhe jogasse chocolates e balançasse uma bandeira branca antes de me aproximar, ela me perdoasse.
Eu estava prestes a bater na porta entreaberta quando a escutei sair do banheiro, falando ao telefone com a voz alterada.
— Eu estou grávida, Eduardo. Grávida, entendeu?
Segurei a respiração. Eu havia escutado direito? Toquei de leve na porta, abrindo-a apenas alguns centímetros a mais. Mafalda usava um top e colocava, desajeitada, o short jeans com a mão livre. Agora começava a ficar impossível não enxergar a ligeira elevação no abdômen da minha irmã.
— Não ligo a mínima para o seu orgulho ferido, Eduardo. Existe uma criança envolvida na história. Você quer que meu filho cresça sem um pai, seu idiota? Se você continuar me ignorando, eu juro, Eduardo, eu juro que vou entrar na justiça.
Escutei os passos de Mafalda vindo em minha direção, mas não consegui me mover. Ela parou de brusco ao abrir a porta e eu pude enxergar o espanto se formando em seus olhos.
— Eu posso explicar, Mônica.
— Como você...
Era difícil formular uma frase. Nada que eu pensava ficava por muito tempo na cabeça. Mafalda jogou o celular na cama e deu um passo em minha direção.
— Mônica, escute.
— Como você pôde, Mafalda? Não me toque! — Recuei quando ela fez menção de segurar meu braço.
Mafalda havia me condenado logo que eu terminara o relacionamento com Eduardo. Por quê? Se ela e Eduardo estavam tendo um caso, por que ela desejaria que eu voltasse para ele?
Aquilo não fazia sentido. Mafalda deveria ter comemorado meu término, eu deixara o caminho livre para eles. Como ela poderia preferir manter Eduardo num papel de mero tio, quando ele poderia assumir a paternidade do filho? Que tipo de pessoa doente podia querer criar uma criança daquela forma?
— Eu só escondi isso de vocês porque...
Ela balbuciou algo incompreensível.
— Depois nós conversamos. Eu preciso ficar sozinha agora.
— Me ajuda.
— Ajuda? Como você pode me pedir isso logo agora, Mafalda?
Mafalda fez menção de segurar meu braço, mas sua mão foi na direção errada, tremendo.
— Mônica, eu não consigo enxergar.
~*~
Esfreguei os olhos com as costas das mãos, sentindo pela primeira vez os músculos das pernas rígidos por causa da corrida. Já fazia algum tempo que Mafalda dormira, mas eu não queria pegar no sono. Precisava ficar observando-a e garantir que estava tudo bem.
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̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶ Mônica
Literatura FemininaNós havíamos nascido um para o outro. Afinal, éramos Eduardo e Mônica, o casal mais famoso da música brasileira. Então por que, quando ele me perguntou as palavrinhas mágicas, algo em mim gritou não, não, não? Eu, que sempre desejei um relacionament...