Capítulo 25

3.4K 598 287
                                    

Se a cena que se desenrolara na sala tivesse sido filmada, tinha certeza de que poderia vender a gravação como sendo a imitação perfeita de um potro selvagem tentando se libertar de uma armadilha no meio da floresta.

Théo tentava me acalmar enquanto eu o empurrava e esperneava, desesperada para fugir da sala e esconder minha nudez o mais rápido possível.

— É minha irmã! — Sibilei entre dentes.

— Calma! — Ele sibilou de volta. — A porta está trancada. Se ela está tocando a campainha é porque está sem chave.

Parei por alguns instantes, absorvendo as palavras. Era verdade.

— Eu não imaginava que um tapa seu podia doer tanto. Parabéns. — Ele massageou o braço e me entregou o sutiã de volta, sem se incomodar com a campainha soando sem parar. Mafalda só poderia estar com muita vontade de ir ao banheiro pela forma incessante com que tocava.

— Desculpa. Eu esqueci que Mafalda podia chegar. — Mordi o lábio inferior, olhando para a porta. — O que eu vou dizer?

— Você poderia começar pelo meu nome.

Revirei os olhos.

— Você entendeu. Nós estamos com cara de culpados. — Olhei para nossos aspectos no espelho no canto da sala. — E roupas também.

— Não me sinto culpado por absolutamente nada. — Ele me abraçou por trás e beijou meu pescoço.

— Théo! — Eu o afastei, sem saber se ria ou se ralhava com ele.

— É melhor atender logo ou ela vai ter uma síncope.

— Sim.

Respirei fundo. Ainda tentei desamassar a camisa antes de girar a chave no ferrolho, mas era inútil.

— Por que demorou tanto? — Mafalda entrou, parecendo carregar uma tempestade junto. — Você recebeu algu... — Ela parou de brusco ao notar que tínhamos companhia.

— Théo, essa é Mafalda, minha irmã. Mafalda, esse é Théo, meu... — Théo me lançou um olhar de ameaça, como se me desafiasse a chamá-lo mais uma vez de amigo. — Bem, esse é Théo.

— Prazer. — Ele se adiantou, estendendo a mão.

Mafalda retribuiu o gesto com um meio sorriso, mas a testa enrugada a denunciava. 

— Mônica, você pegou alguma correspondência para mim na portaria nos últimos dias?

— Não. — Tentei puxar algum fiapo de memória sem muito sucesso até olhar para Théo e ser assolada pela lembrança do dia seguinte ao nosso primeiro encontro. Merda. — Teve uma. Acho que era do seguro de saúde.

Mafalda xingou alto.

— Por que você não me entregou?

— Ainda está comigo, calma. — Peguei minha bolsa e comecei a vasculhar seu interior, apressada. Bem no fundo, amassada e suja, estava a carta. Entreguei para Mafalda, que pegou o envelope com mais rispidez do que o necessário. Com as mãos tremendo, ela rasgou o papel. — Eu pago os juros do atraso.

— Seria bom se fosse apenas uma questão de juros. — Ela levou as mãos às têmporas, deixando a carta cair.

— O que houve?

— Meu plano de saúde foi cancelado.

Mafalda voltou a xingar de todas as formas imagináveis e, se é que era possível, me senti ainda pior.

— Calma, Mamá. Isso não é o fim do mundo.

— Não é o fim do mundo? — Mafalda gargalhou de nervoso. — Eu não tenho mais plano de saúde, Mônica. — Ela arregalou os olhos para mim.

̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶  MônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora