Se a cena que se desenrolara na sala tivesse sido filmada, tinha certeza de que poderia vender a gravação como sendo a imitação perfeita de um potro selvagem tentando se libertar de uma armadilha no meio da floresta.
Théo tentava me acalmar enquanto eu o empurrava e esperneava, desesperada para fugir da sala e esconder minha nudez o mais rápido possível.
— É minha irmã! — Sibilei entre dentes.
— Calma! — Ele sibilou de volta. — A porta está trancada. Se ela está tocando a campainha é porque está sem chave.
Parei por alguns instantes, absorvendo as palavras. Era verdade.
— Eu não imaginava que um tapa seu podia doer tanto. Parabéns. — Ele massageou o braço e me entregou o sutiã de volta, sem se incomodar com a campainha soando sem parar. Mafalda só poderia estar com muita vontade de ir ao banheiro pela forma incessante com que tocava.
— Desculpa. Eu esqueci que Mafalda podia chegar. — Mordi o lábio inferior, olhando para a porta. — O que eu vou dizer?
— Você poderia começar pelo meu nome.
Revirei os olhos.
— Você entendeu. Nós estamos com cara de culpados. — Olhei para nossos aspectos no espelho no canto da sala. — E roupas também.
— Não me sinto culpado por absolutamente nada. — Ele me abraçou por trás e beijou meu pescoço.
— Théo! — Eu o afastei, sem saber se ria ou se ralhava com ele.
— É melhor atender logo ou ela vai ter uma síncope.
— Sim.
Respirei fundo. Ainda tentei desamassar a camisa antes de girar a chave no ferrolho, mas era inútil.
— Por que demorou tanto? — Mafalda entrou, parecendo carregar uma tempestade junto. — Você recebeu algu... — Ela parou de brusco ao notar que tínhamos companhia.
— Théo, essa é Mafalda, minha irmã. Mafalda, esse é Théo, meu... — Théo me lançou um olhar de ameaça, como se me desafiasse a chamá-lo mais uma vez de amigo. — Bem, esse é Théo.
— Prazer. — Ele se adiantou, estendendo a mão.
Mafalda retribuiu o gesto com um meio sorriso, mas a testa enrugada a denunciava.
— Mônica, você pegou alguma correspondência para mim na portaria nos últimos dias?
— Não. — Tentei puxar algum fiapo de memória sem muito sucesso até olhar para Théo e ser assolada pela lembrança do dia seguinte ao nosso primeiro encontro. Merda. — Teve uma. Acho que era do seguro de saúde.
Mafalda xingou alto.
— Por que você não me entregou?
— Ainda está comigo, calma. — Peguei minha bolsa e comecei a vasculhar seu interior, apressada. Bem no fundo, amassada e suja, estava a carta. Entreguei para Mafalda, que pegou o envelope com mais rispidez do que o necessário. Com as mãos tremendo, ela rasgou o papel. — Eu pago os juros do atraso.
— Seria bom se fosse apenas uma questão de juros. — Ela levou as mãos às têmporas, deixando a carta cair.
— O que houve?
— Meu plano de saúde foi cancelado.
Mafalda voltou a xingar de todas as formas imagináveis e, se é que era possível, me senti ainda pior.
— Calma, Mamá. Isso não é o fim do mundo.
— Não é o fim do mundo? — Mafalda gargalhou de nervoso. — Eu não tenho mais plano de saúde, Mônica. — Ela arregalou os olhos para mim.
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̶E̶d̶u̶a̶r̶d̶o̶ ̶e̶ Mônica
ChickLitNós havíamos nascido um para o outro. Afinal, éramos Eduardo e Mônica, o casal mais famoso da música brasileira. Então por que, quando ele me perguntou as palavrinhas mágicas, algo em mim gritou não, não, não? Eu, que sempre desejei um relacionament...