06.

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Sina.

Geralmente, crianças costumam sonhar com o que querem se tornar ao crescer. Eu nunca tive isso. A única coisa que eu queria para a minha vida era paz. Admito, não tive uma infância normal. Meu pai sempre batia na minha mãe na minha frente e apagava o cigarro no corpo dela. Poucos anos depois, perdemos os mesmos para as drogas. Lembro-me de cada detalhe daquele dia, de quando vimos nosso pais roxos no chão da sala fria. Achava que ali tudo estava perdido, mas apareceu a Grace e salvou nossas vidas. Obviamente ela não nos amou como uma mãe de verdade amaria, mas nunca nos deixou faltar nada.

Nunca soube exatamente o que queria fazer da vida. Eu só queria... Ser feliz, isso já me bastava. Christian, me ajudando com os deveres da escola que descobriu meu talento para cálculos. Foi aí que eu investi na carreira de contadora.

Estava no carro com meu irmão, a caminho da empresa quando ele dirige, pela primeira vez naquele dia, a palavra à mim.

— O que achou do Noah?

— Engraçado, Christian. Para me dar um mísero bom dia você não fala comigo, mas para falar de homem rapidinho você faz as pazes comigo.

— Em momento algum falei que estava com raiva de você.

— Não era o que parecia. — Respondi, virando o rosto para o outro lado.

— Desculpa, Sina, desculpa. Tive problemas com a Anastasia e...

— Não desconte seus problemas em mim, já falei que odeio isso.

— Tudo bem, desculpa. Mas o que você achou do Noah?

— De novo isso?

— Sim.

— Eu não achei nada dele. Garoto estúpido e mal educado.

— Mas vocês se viram ontem pela primeira vez.

— Infelizmente não. Nos esbarramos naquele dia da reunião, e ele foi um filho da puta comigo, devo acrescentar.

Finalmente chegamos ao destino e eu pulei do carro, não queria mais falar daquele garoto que tirou minha noite de sono.

Ao pôr o pé na entrada, pedi a Deus para que não encontrasse Noah hoje, não estava preparada para revê-lo.

Entrei no elevador em silêncio, acompanhada de outros funcionários. O quinto andar nunca esteve tão longe.

Ao passar pelo corredor até minha sala, recebi diversos cumprimentos de bom dia dos funcionários. Não era porque eu era a diretora financeira, longe disso. Toda essa aclamação e devoção se devia ao meu sobrenome.

Tirei a chave da bolsa e coloquei na maçaneta, girando a mesma. Estranhei ao perceber que já estava aberta. Imaginei que alguém da faxina havia esquecido de fechar. Dei de ombros, mexendo no trinco e empurrando a porta a minha frente, encontrando alguém sentado sobre minha mesa.

Não era qualquer alguém.

O que diabos você está fazendo aqui? — Perguntei, jogando minhas pastas na mesa.

— Precisamos conversar. — Noah respondeu, brincando com a manga de seu paletó.

— Custava ter esperado eu chegar? É a minha sala, você invadiu! — Perguntei, indignada.

— Era urgente. — Respondeu, sereno, não parecendo se incomodar com os meus gritos.

— Olha, se for sobre ontem... — Escutei sua risada e o olhei sem entender.

— Como? Se toca, garota, minha vida não gira em torno de você. Vim falar de negócios, você pouco me importa.

Uou. Aquilo me atingiu como uma facada.

— De qualquer maneira, me esperar era interessante.

— Vai continuar remoendo isso? Supera! — Noah disse sem paciência, saindo da mesa.

— Vamos, fale logo. Não tenho todo o tempo do mundo. — Disse enquanto ligava meu computador.

Fui até o outro lado da sala, onde se encontrava o meu armário. Enquanto procurava alguns documentos, senti minhas costas queimarem. Virei de frente rapidamente, vendo Noah me analisar de cima a baixo. Corei.

— Vai continuar me secando ou vai falar logo o que você quer?

— Não tinha percebido o quanto você é linda. Minha raiva por você naquele incidente foi tão grande que acabei deixando passar esse detalhe. — Ele disse, vindo em minha direção. — O que eu quero? Bom, no momento eu queria estar em casa, deitado na minha cama enquanto alguma ruiva peituda cavalga sobre meu pau. — Imaginei a merda da cena e senti um arrepio percorrer meu corpo. — Mas, voltando ao foco do trabalho, preciso das notas dos pagamentos dos últimos seis meses.

— Tudo bem. — Respondi, sentando-me em minha cadeira. — Quando eu terminar de fazer as notas dessa semana eu mando para o e-mail do seu setor.

— Sina? — Olhei para ele rapidamente.
— Acho que você não entendeu bem. — Noah disse e foi para trás da minha cadeira. — Eu preciso dessas notas. Agora. — Falou perto do meu ouvido fazendo-me sentir uma eletricidade nas minhas partes baixas. — Eu gosto de mandar, de estar no controle. E quando eu quero algo, eu consigo. — Noah se inclina mais para perto de mim e desliza seus dedos sobre meus ombros, seguindo caminho até meu pescoço. — E eu quero essas notas agora mesmo. — Disse e se afastou, indo em direção à porta e saindo da sala.

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora