18.

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Sina.

FLASHBACK ON

Quando tinha apenas oito anos, lembro-me que Christian veio chorando me contar que o papai e a mamãe haviam sido parados na rua e sofrido ameaça.

Aqui em casa nunca fora segredo de que meus pais eram dependentes químicos, e tentávamos levar isso numa boa. E dava para viver numa boa com aquilo. Nossos pais conseguiam dinheiro para nos sustentar naquele mundo. Eu vivia aquele mundo, eu presenciava aqueles acontecimentos. Até o momento que eles foram ameaçados.

Isso aqui virou um completo inferno. Eles ficavam jogando culpa um no outro por causa das dívidas, e acabou sobrando para mim e para meu irmão. Lembro da primeira vez que papai chegou alterado em casa e bateu em mim e apagou um cigarro na pele do meu irmão. A mamãe apanhou tanto que apagou, e eu tive que cuidar deles dois sozinha. Eu chorava vendo minha família naquela situação, mas nunca entendi o que realmente aconteceu.

Aquilo acabou virando algo constante. Papai chegava em casa bêbado e drogado, brigava com a mamãe, a desmaiava, batia em mim e logo depois apagava o cigarro que estava na sua boca na pele do meu irmão.

E a coisa piorou. Começaram a invadir nossa casa, tacar pedra na porta, atear fogo em lixo na frente ou na lateral de onde morávamos. Nossa casa que não era grande coisa começou a ficar deteriorada.

Eu passei a viver no modo automatico: acordar, ver os meus pais brigando, ir para a escola, fugir um pouco dessa realidade, voltar e apanhar até alguém aparecer na nossa porta jurando morte aos meus pais.

Tivemos que nos mudar antes que as coisas piorassem por aqui. Fomos para uma casa afastada da cidade, no meio de árvores gigantes e barulhos assustadores da floresta ao lado. Meus pais imaginaram que aquele lugar era seguro, então eu e Christian costumávamos passar a tarde toda sozinhos ali.

Era inverno e os meus pais, juntamente com o meu irmão, tinham saído para comprar mantimentos, que a ida ao mercado seria dificultada pela chuva e pela neve. O vento soprava forte e balançava as janelas. Me encolhia a cada vez que um trovão rasgava o céu escuro. Apenas a luz da cozinha iluminava a casa.

Nenhum sinal da minha família. Me tremia de pensar no que poderia ter acontecido. Minha barriga roncava de fome mas eu preferia ficar encolhida nos lençóis. Me deixei vencer pelo sono e dormi ali mesmo no sofá.

Escutei batidas na porta, então imaginei que eles haviam chegado. Pulei contente do sofá e fui abrir a porta, colocando o melhor sorriso no rosto para recebê-los. Mas eles não haviam chegado.

Na porta estava um homem que aparentava ter quarenta anos, trajava uma roupa velha e tinha a barba por fazer. Olhei para ele assustada e quando ia fechar a porta, senti algo gelado tocar a minha testa.

Não ouse fechar a porta, princesa! — Ameaçou encostando a arma em minha testa.

Senti minha garganta fechar e tentei correr, mas minhas pernas haviam travado. Me empurrou até o sofá mantendo o objeto na minha cabeça. sentia as lágrimas rolarem em meu rosto.

— A bebê da família está chorando por que não tem papai e mamãe para proteger? — Suas mãos ásperas tocam o meu rosto e eu arrepio. — Pode deixar que eu cuido de você para eles.

Ainda com a arma em minha cabeça, ele me leva até a varanda do lado da casa.

— Agora a princesa vai pegar uma corda para o tio aqui. — Apenas obedeci calada e busquei uma corda grossa que tinha na cozinha. — Agora senta na porra da cadeira e fica calada! — Grita e eu estremeço, tentando obedecê-lo mais uma vez.

O homem pega a corda e passa por todo o meu corpo, prendendo-me a uma cadeira gelada de metal. Quando termina, puxa uma cadeira para o meu lado e se senta, ainda com o objeto na minha cabeça. Acho que fiquei vivenciando aquele pesadelo por cerca de uma hora, até o momento que ouço o grito da minha mãe ao me ver naquela condição.

— Solta ela, seu idiota! — Ela corre em minha direção, mas o homem puxa o gatilho da arma, ameaçando atirar. Um grito rasga a minha garganta e eu sinto sua mão espalmar meu braço. Eu era tão nova, não deveria estar passando por essa situação.

— É o seguinte, ou me paga a dívida ou eu estouro a cabeça da princesa aqui de bala. — Agora ele batia a arma em minha cabeça sem pena alguma.

falei que não tenho dinheiro aqui, Adão. Me dê mais algumas semanas e tudo estará resolvido.

— Mês passado você me disse a mesma coisa e até hoje nada! — Grita e aponta a arma para o meu pai.

— Eu prometo que dessa vez será diferente! Eu prometo! peço que solte a minha filha! — Meu pai suplicava ajoelhado em sua frente. Mesmo sem rezar peço à Deus que me tire daquela situação. Ele parece ter atendido ao meu pedido e o homem se afasta de mim. Me olha e logo em seguida olha para os meus pais.

vou deixar porque a princesa foi comportada. Mas eu volto! Estejam cientes!

Quando ele saiu, meu pai desata o nó da corda que me prendia e, pela primeira vez em minha vida, recebo um carinho seu. Permito-me viver aquele afeto raro e desabo em lágrimas. Depois entramos e fomos dormir. Aproveitamos o início do inverno sentando ao redor da fogueira para nos aquecer. Parecia que finalmente estávamos nos acertando como família.

Mas, exatamente como foi prometido, duas semanas depois Adão voltou, executando meus pais a sangue frio enquanto estávamos na escola.

FLASHBACK OFF

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora