17.

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Sina.

Juro, ainda bem que hoje é sábado. Não sei com que cara olharia para Noah ao lembrar de que nos beijamos ontem em duas situações diferentes. Provavelmente ele iria olhar para mim e rir. Provavelmente ele iria caminha até mim com aquele sorriso sacana. Provavelmente ele iria tocar em meu ombro e subir suas mãos até meus pescoço. Provavelmente ele iria sussurrar alguma besteira no meu ouvido e tentar me humilhar. Provavelmente ele iria ficar bem próximo de mim até nossas respirações se misturarem. Provavelmente ele iria me beijar. Provavelmente ele iria me sentar sobre a mesa e enfiar as mãos na minha blusa. Provavelmente ele iria abaixar a calça e exibir seu membro duro. Provavelmente nós iríamos transar.

Espera, o quê?

Não, definitivamente não.

Eu iria devolver na mesma moeda e deixar ele falando sozinho.

Hoje tinha horário marcado no salão, como meu irmão disse ontem.

Você deve estar achando estranho meu irmão saber dos meus horários. Não entenda mal, ele só é preocupado. Christian faz questão de cuidar de tudo em mim, até dessas coisas pessoais, sempre foi assim. Ele cuida de mim e agora da Anastasia. Iríamos juntas para o salão fazer depilação. Certamente iríamos pegar um cinema depois.

Tomo um banho para tirar a ressaca e desço para tomar café, mas vejo que o almoço já estava sendo servido.

— Boa tarde. — Digo e beijo o topo da cabeça do meu irmão. — Perdão pelo horário.

— Boa tarde, Sina. Pensei que você não ia acordar mais hoje. — Me olha de canto.

— Eu nem bebi tanto assim, mas fiquei com uma ressaca daquelas. — Coloco meu prato na mesa e sento-me ao lado do meu irmão.

— Sua ressaca dá fome assim? — Ri falando do meu humilde prato que servia facilmente três pessoas.

— Sim, mas não como essa fome de hoje. — Dou uma garfada e Christian arqueia a sobrancelha para mim. — O que foi?

— Quero falar sobre ontem.

— Mas eu não. — Dou mais uma garfada cheia para não ter que falar com Christian.

— Uma hora teremos que falar sobre o Noah. — Me olha sério. — E não, eu não vim pedir para você namorar com ele. Só vim pedir, como sempre, para que você tenha cuidado. Noah é um excelente homem, um excelente profissional, mas eu zelo a minha irmã. Não quero que aconteça alguma coisa com você.

Engulo em seco o almoço.

— Deixa de ser emocionado, Christian. Foi só um beijo. — Aquele seu olhar desconfiado e desacreditado em mim não me permitia mentir. — Tá bom. Dois. Foram só dois beijos que não voltarão a se repetir. Noah é meu colega de trabalho e eu exijo respeito. — Meu irmão revira os olhos e bufa impaciente. Podia ver a fumaça pegando fogo sair de seu nariz.

— Não lembro de nenhuma norma no contrato proibir relação amorosa e afetiva entre funcionários. Você parece uma velha. Você só tem vinte e dois anos, Sina. Precisa viver, precisa se permitir. Desse jeito daqui a pouco quem não vai mais aguentar você sou eu. — Aquilo doeu no fundo da alma. Porque a verdade dói.

— Eu sei, Christian. Só gosto de separar as coisas, entende? — Deixo minha mão pousar em seu ombro. — E nem se eu quisesse teria alguma chance com o Noah, ele já deixou bem claro que não faço o tipo dele. — Um sorriso sugestivo tenta escapar de seus lábios. — E não me pergunte como uma conversa de trabalho entre nós parou nesse assunto, nem eu me lembro.

— Tudo bem, não irei falar nada. — Ri e termina seu almoço.

Anastasia me liga e diz que estava pronta. Pego a chave do carro e saio para buscá-la.

Paro em sua casa e ela entra no carro, me olhando desconfiada.

— Ah, não. Christian já foi falar para você? — Resmungo e ela ri colocando o cinto de segurança.

— Desculpa. Seu irmão só está feliz, Sina. Entenda ele.

— Mas ele pode ficar emocionado sem sair abrindo o bico. E outra, não foi nada demais.

— Eu sei disso, e sei como o seu irmão gosta de aumentar as coisas. Aliás, como foi lá?

— Foi legal. Precisava relaxar um pouco, me divertir. Esse lado do Noah até que é legal. — Deixo um sorriso escapar dos meus lábios.

— Esse lado que beija você?

— O quê? Não! — Estaciono o carro na vaga e saio de dentro rapidamente. — Vamos mudar esse assunto, por favor.

Entramos no salão e esperamos ser atendidas. Ficamos conversando sobre coisas femininas com outras mulheres que estavam lá até que a nossa vez chegasse.

Aproveitei que estava no salão e hidratei os cabelos, enquanto Ana contava sua história de amor com o meu irmão para as meninas, que ouviam tudo atentamente.

Depois que saímos de lá, resolvemos ir no shopping almoçar. Meu irmão, possessivo como sempre, enlouqueceu quando o avisei. Ana obviamente relutou mas eu não deixei que a mesma fosse embora.

Fizemos uma tarde de compras, entramos em várias lojas e mesmo sem estar precisando acabei comprando algumas coisas. Já estávamos saindo quando meu irmão me ligou, pedindo para passar na empresa e buscá-lo, pois seu carro havia quebrado.

Deixei Anastasia em seu apartamento e fui buscar Christian.

O tempo estava nublado, eu podia jurar que algumas gotas de chuva caíam sobre o carro. Estacionei na rua ao lado, não queria que Noah visse meu carro e viesse falar comigo. Caminhava em passos largos, estava sozinha na rua.

Sentia meu coração acelerar a cada passo que eu dava e o ar faltar em meu peito. Parecia que eu sentia que algo iria me acontecer.

Estava prestes a virar a esquina quando senti duas mãos me puxarem e me jogarem no chão.

Levantei meu olhar assustada e encarei a pessoa à minha frente. Aqueles olhos, aquele olhar.

Eu podia conhecê-los de qualquer lugar.

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora