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Sina.

Há exatas duas semanas atrás, eu chegava no meu novo local de trabalho. Eu e Shivani agora éramos funcionárias da representante da Lâncome de Paris em Los Angeles.

Eu saí completamente da minha zona de conforto e confesso que no começo estranhei a mudança do tipo de coisa que eu trabalhava. Era algo novo e completamente diferente, mas eu sentia que já estava me acostumando.

Continuava tendo a minha própria sala com Shivani. O clima aqui era mais leve, eu ganhava perfume de graça e meu horário era reduzido, para que coisa melhor?

Sentia falta de estar lá, de estar com o meu irmão, de estar com o pessoal do meu setor, mas essa havia sido a melhor decisão que tomei. Doeu e ainda dói, mas foi necessário pelo bem da minha saúde mental. Se eu quisesse esquecê-lo, eu deveria ficar longe.

Cheguei para mais um dia de trabalho e caminhei até o setor financeiro — aqui era bem menor que a empresa Grey, então não havia mais de um andar e cada um dividido por setor, era dividido por corredores, o que particularmente eu amava —. Tudo aqui cheirava maravilhosamente bem e as cores davam vida ao local e a nós.

Entrei na minha sala e vi que Shivani já havia chegado. Diferentes das salas da empresa do meu irmão, que eram todas em tons de cinza ou preto, aqui era em tons pastéis. A sala era menor, mas aconchegante do mesmo jeito. Eu me sentia bem aqui.

— Bom dia, Shivani. — Abracei minha amiga e entreguei a ela uma caixinha de chocolates.

— Bom dia, Sina. — Ela sorriu. — O que devo as honras para ganhar um mimo seu?

— Duas semanas de emprego novo. — Abri a minha própria caixinha de chocolates, tirando um de dentro e mordendo.

— Mas já? — Perguntou. — Passa rápido.

— Depois de meses me sentindo mal, acho que essas foram as duas melhores semanas da minha vida. — Sentei-me na mesa e liguei o notebook.

— Fico feliz de ouvir isso, Sina. De verdade. — Shivani foi a pessoa que esteve comigo em todos os momentos e ela mais do que ninguém sabia o que eu havia passado.

— Eu gosto daqui. Pensei que não me encontraria mais em outro trabalho, mas vi que não. Sinto falta às vezes de estar tão perto do meu irmão, mas tudo passa quando chego em casa e o vejo. — Expliquei. — Não me arrependo da decisão que tomei. A vida precisava seguir, eu precisava dar o próximo passo e acho que mudar de trabalho foi uma escolha saudável. Eu não iria me concentrar no meu trabalho lembrando que ele estava ali por perto.

A morena coçou a nuca.

— Você ainda pensa nele?

Se eu falar que esqueci o Noah, estaria mentindo. — Suspirei. — Eu ainda sou muito apaixonada por ele, nunca estive tão envolvida fisicamente e sentimentalmente com alguém, não é algo que esquecemos fácil. Mas me manter distante dele, focar no meu novo trabalho e novo estilo de vida vai me ajudar. Eu espero. — A última parte eu disse para mim mesma.

A verdade era que eu queria que nada disso fosse preciso e que eu e Noah estivéssemos felizes juntos. Queria estar feliz ao seu lado, mas ele quem escolheu isso, infelizmente não podia fazer nada. Eu até estaria disposta a ensiná-lo a amar.

— Mas e aí, você já decidiu se irá fazer o seu mba? — Perguntou, animada.

— Vou fazer sim, claro. Mas, depois que viemos trabalhar aqui e eu senti o gostinho da França, eu quero ir para lá. — Sorri ao me imaginar naquele lugar.

— Na França? — Shivani gritou.

— Sim, ué. Qual é o problema? Seria apenas um ano, iria passar rápido. — Dei de ombros.

— Você iria me deixar? — Fez biquinho.

— Pensa, Shivani. Essa viagem seria perfeita para mim. — Ela torceu o nariz. — Eu iria viver outra vida, outra realidade, respirar novos ares, tudo isso fazendo o que eu gosto. — Gesticulei, listando nos dedos as vantagens. — Eu iria finalmente esquecer o Noah, e quem sabe eu não voltasse acompanhada de um francês? — Sorri maliciosa.

— Você realmente pensa nisso? Um ano é muita coisa, Sina. Como vou ficar um ano longe de você?

— Eu te levo na mala. — Dei uma piscadela.

— Acho que você está se precipitando... — Revirei os olhos.

— Eu ainda tenho dois meses para pensar até o dia da prova, relaxa.

— Tudo bem, né. — Deu de ombros e começamos os trabalhos do dia.

Por sermos uma empresa representante, as coisas aqui eram mais tranquilas. Shivani recebia todos os arquivos, os separava por data e eu fazia a revisão final, por isso o horário reduzido, porque o trabalho era mais leve.

Estava colocando meus fones de ouvido para conseguir me concentrar naquele monte de números quando ouvi minha amiga me chamar.

— Aconteceu algo? — Indaguei. Ela parecia nervosa depois de ter olhado o celular, o que me deixou preocupada.

— Acabei de receber uma mensagem pedindo que adiantássemos os trabalhos de amanhã.

— Por quê? — Enruguei a testa. Isso estava muito estranho.

— Apareceu uma reunião de última hora amanhã. — Ela sorriu e eu ainda não me sentia convencida.

— Mas só você foi comunicada? Por que eu não recebi essa mensagem também? — Shivani mexeu-se inquieta na cadeira e eu semicerrei os olhos.

— Eu realmente não sei. — Defendeu-se. — Mas se pediram...

— Eu tinha alguns planos para hoje a tarde, tinha muita coisa para resolver.
— Resmunguei.

— É o trabalho, Sina. Não tem o que fazer.

— Fazer o que, né. — Suspirei. — Vamos aos trabalhos! — Fingi estar com uma taça na mão e brindei em direção à Shivani, que caiu na risada.

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora