45.

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Sina.

Após o episódio ridículo no corredor da empresa, estive evitando Noah por dias. Passei a almoçar depois de todos só para não ter de me encontrar com ele no refeitório. Tudo o que eu tinha para resolver com ele, resolvia por e-mail. Quanto menos contato, melhor.

Eu não entendia o motivo, mas fiquei muito chateada com tudo o que o Noah tinha feito. Eu achei que ele queria tentar pelo menos ser meu amigo, mas vi que não. Homens sendo homens. Fingiu que se importava comigo, foi cavalheiro e depois que finalmente conseguiu o que queria me deu um pé na bunda. Certo, não foi bem um pé na bunda, nós não tínhamos nada. Só que ele foi um escroto comigo por causa de um pinguinho de água na gola de sua roupa. E outra, ele veio com o papo de "eu te trato mal o tempo todo aqui, mas na hora que meu pau ficar duro para você, você vem e eu te como". Quem ela pensa que eu sou?

Já se passava mais de um mês que eu não o via, e minha entrada doía de saudades. Espera, saudades? Sentia falta de tê-lo dentro de mim, apenas isso. Não passava disso e nunca iria passar. Longe de mim sentir saudades da pessoa que ele era.

Nesse momento, eu caminhava nervosa até o elevador, pela primeira vez teria que olhar na cara dele. Tínhamos assuntos para tratar que não se resolviam atrás de uma tela de computador. A subida foi torturante e eu sentia meu coração acelerar a cada segundo que passava e conforme eu ia me aproximando do seu andar.

Escutei o sino do elevador soar e a porta se abrir. Por Deus, eu parecia uma adolescente prestes a dar seu primeiro beijo. Me arrastei para fora e recebi olhares suspeitos das pessoas que estavam ali. Sim, todos ficaram sabendo da droga do nosso final de semana. E ainda dizem que as mulheres são fofoqueiras. Cheguei no final do corredor e bati na porta, mas nem sinal dele. Bati mais uma vez, mais forte, mas ainda sem sinal dele.

- Noah, abre essa merda! - Dei um murro na porta, mas outra vez fui ignorada. Encostei o ouvido na porta para verificar se ele estava ali, mas me arrependi no mesmo instante.

Pude ouvir o barulho da sua escrivaninha batendo na parede e os seus gemidos misturados com o de outra mulher. Senti um nó se formar na minha garganta e me afastei rapidamente, agora entendendo o porquê dos olhares para mim. Me apressei em entrar no elevador e sair dali o mais rápido possível.

Por que infernos eu estava me importando? Ele era livre, solteiro, poderia fazer o que quisesse da vida sem me dar satisfações de nada. Se eu estivesse incomodada, o problema era totalmente meu. Senti que levei cerca de uma hora para descer os setores e chegar no meu. Entrei na minha sala correndo e alcancei minha garrafa de água, virando todo o conteúdo na minha boca.

- O que foi, Sina? - Shivani perguntou me olhando assustada.

- Noah sendo Noah.

- O que aquele idiota fez agora? - Vi ela fechar os punhos e dar um soquinho na perna.

- Por incrível que pareça, nada.

- Eu não estou entendendo.

- Eu cheguei na sala dele, chamei várias vezes e ele não respondeu. Daí eu tive a brilhante ideia de encostar meu ouvido na porta para saber ao menos se ele estava vivo. Péssima ideia. - Fiz uma careta ao lembrar da cena. - Ouvi ele gemendo com uma mulher lá dentro e a escrivaninha batendo na parede.

- E por que você ficou assim?

- Assim como?

- Nervosa. Você chegou aqui mais branca do que papel e sua cara está estranha.

- Mas eu estou bem. - Menti.

- Você não me engana, Sina Deinert. Vai, fala logo.

- Falar o que, garota?

- Que você sentiu ciúmes. - Cruzou os braços e me encarou como se estivesse esperando uma resposta.

- Ciúmes? Eu? - Ri. - Longe disso. - Ela me encarou séria. Droga, eu não sabia mentir para a minha amiga.
- Tudo bem, talvez eu tenha ficado um pouco incomodada. Mas eu não deveria e nem posso me sentir assim. - Balancei a cabeça. - Já passa.

- Sina?

- O quê?

- Você está apaixonada. - Me engasguei com a minha própria saliva ao ouvir Shivani pronunciar aquelas palavras.

- Está louca? Eu não estou apaixonada.

- Vamos tirar a prova disso agora. - Ela disse e pegou seu celular, digitando algo nele e me deixando ainda mais nervosa.

- Shivani... O que você fez? - Levantei a sobrancelha, curiosa.

- Nada, ué. Não posso mais digitar no meu celular? Eu poderia estar mandando mensagem para qualquer pessoa, inclusive para você. - Ela arqueou a sobrancelha de volta para mim.

- Se fosse para mim meu celular teria apitado.

- Não foi para ninguém importante, ok? Agora aquieta o cu aí e volta a trabalhar. - Levantei as mãos em sinal de rendição e ela riu.

- Tudo bem, não está mais aqui quem falou.

Coloquei os fones no ouvido e voltei a digitar minhas notas. O dia de hoje seria cheio e eu teria muita coisa para fazer, não poderia me distrair com absolutamente nada. Já me deixei distrair muito nos últimos dias por causa de Noah, e eu não queria que aquilo continuasse. Ele foi só mais uma pessoa que apareceu na minha vida, não poderia me deixar afetar daquele jeito. Precisava colocar o trabalho em primeiro lugar na minha vida, era somente aqui que eu ficava bem, não sofrendo por homem.

Sempre fui uma pessoa centrada, sempre soube visar minhas prioridades e o que valia a pena na minha vida. Sempre foquei em mim mesma, no meu trabalho, nas minhas amizades e nas viagens que gostava de fazer. Nunca coloquei homem - além do meu irmão - como prioridade pois eu sabia que não passava de sexo, tanto para mim quanto para eles. Mas Noah foi diferente, ele conseguiu me deixar essa bagunça sem fazer absolutamente nada. Eu deveria saber que esse homem era uma furada desde a primeira vez que o vi.

Talvez se eu tivesse realmente o evitado como fazia no começo as coisas estariam diferentes. Ele estava certo quando disse que sua especialidade era invadir as coisas dos outros. Olha eu aqui pensando nele mais uma vez e me perdendo no que estava digitando na droga desse computador.

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora