58.

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Sina.

Não sabia exatamente que horas eram, mas acordei um pouco desnorteada e com uma sensação ruim dentro de mim. Me sentei com cuidado na cama para não acordar e com cuidado, me arrastei até o banheiro.

Aproveitei que já estava nua e entrei debaixo do chuveiro e deixando a água quente me atingir por completo. Aquela sensação de angústia e desespero dentro de mim estava tomando uma proporção avassaladora e eu não queria me sentir assim. Só amei alguém uma vez na vida, e não foi algo com uma proporção tão grande como estava sendo agora.

Noah despertava coisas em mim que eu jamais havia sentido. Eram novas sensações, novos sentimentos, novas emoções. O amor, que era para ser algo tão lindo, estava me ferindo. Em momento algum eu iria abrir minha boca e contar tudo a ele. Preferia guardar isso dentro do meu coração do que ser humilhada por ele outra vez. Preferia ser tomada pelo meu orgulho do que pelo sentimento da rejeição.

Apliquei uma quantidade de shampoo em meus cabelos e em seguida passei o sabonete, tirando o cheiro dele que estava impregnado em mim, e a cada parte do meu corpo que eu tocava me lembrava da noite passada e de suas mãos em mim.

Meu choro cessou com uma ideia que surgiu na minha mente. Eu estava me sentindo assim porque ele era o único homem que eu estava me envolvendo no momento. A partir do momento que eu conhecesse outro cara e começasse a sair com ele, as coisas seriam diferentes. E é aí que Christian entra outra vez. Assim como ele me apresentou Noah, poderia me apresentar outros homens. Tudo iria mudar agora.

Saí do banho enrolada na toalha e caminhei até o closet, tirando o pano do meu corpo e jogando na cadeira do canto direito. Abri uma das portas e procurei algo confortável, o tempo estava frio.

— Bom dia. — Ouvi a voz rouca de Noah na porta e tentei cobrir minhas partes com a mão, o que arrancou a risada extremamente sexy dele. — Nada que eu já não tenha visto, não é?

— Sim. — Respondi sem graça. — Se quiser tomar banho, o banheiro está livre. Acho que tem algumas roupas do Christian de quando era mais novo que cabem em você.

— Certo, estou indo. — Só então percebi que ele estava nu e com sua ereção matinal gritando no meio de suas pernas. Tentei não ligar para isso e ele saiu, entrando no banheiro e ligando o chuveiro.

Coloquei o meu clássico conjunto de moletom da Balmain e borrifei um pouco de perfume por meu corpo. Cuidadosamente, entrei no quarto do meu irmão e abri sua gaveta de roupas antigas, pegando uma camiseta e uma calça que servissem em Noah. Arrumei tudo e deixei como se ninguém tivesse mexido. Voltei para o quarto e me sentei na cama, esperando Noah terminar seu banho de princesa.

— Toma, eu acho que isso cabe em você. — Entreguei a ele assim que saiu pela porta do banheiro, com minha toalha pendurada em seus quadris.

— Valeu. — Ele respondeu e deixou a toalha cair no chão, me deixando vislumbrar sua nudez mais uma vez. — O que foi? Quer uma rapidinha antes do café? — Perguntou quando percebeu que eu estava olhando para seu membro. Corei por ter sido pega no flagra.

— Não. — Respondi e revirei os olhos.
— Quero que você se troque logo, estou morrendo de fome.

— Tudo bem, capitã. — Noah ironizou e por fim vestiu a roupa, que ironicamente serviu perfeitamente nele. Algo em Noah me lembrava Christian, mas eu não sabia o que era. Dei de ombros e caminhei junto dele em direção à cozinha.

— Sobrou uma pizza de ontem e tem um pouco de suco de laranja, quer? — Perguntei abrindo a geladeira e tirando a caixa de dentro.

— Pode ser. — Respondeu sem me olhar, mexeu no celular e digitou algo.

Em silêncio, coloquei a pizza no forno para aquecer e logo depois servi dois copos de suco para nós dois. Assim que ficou pronta, tirei do forno e levei até à mesa. Comemos tudo silenciosamente, enquanto Noah continuava mexendo no celular. Recolhi tudo que estava sobre a mesa e coloquei na pia, indo para a sala de televisão em seguida. Noah me acompanhou e finalmente largou o celular, apoiando a cabeça no meu colo.

— Eu não te fiz um oral ontem. — Quebrou o silêncio constrangedor de quase vinte minutos com algo mais constrangedor ainda.

— Tudo bem. — Respondi e tentei manter o foco no jornal que passava na televisão.

— Deixa eu te fazer agora. — Me assustei com a proposta repentina dele.

— Está louco? A pizza te fez mal ou você é intolerante a glúten e a reação no seu corpo é delírio?

— Pensei que éramos amigos com benefícios. — Dei um tapa na sua testa e ele gemeu de dor.

— E somos, mas tudo tem hora e lugar. Já pensou se meu irmão aparece na porta e vê você com a cabeça enfiada no meio das minhas pernas? Ele ia te colocar pra fora a chutes na sua bunda.

— Ele já fez isso alguma vez? — Senti a mão de Noah tocar meu queixo e massagear a região.

— Eu dei uns beijinhos no antigo rapaz que trabalhava na sala dele. Eles eram bem próximos e eu imaginei que isso fosse até bom para quem sabe nós tentássemos um relacionamento, só que Christian chegou em casa de surpresa um dia e viu a porta do meu quarto aberta e entrou. O cara estava por cima de mim enquanto nós transávamos. Meu irmão demitiu ele e fiquei sabendo que até hoje ele tem dificuldades para arranjar um novo emprego. — Respondi e dei de ombros.

— Então você não tem medo do seu irmão te flagrar, mas sim da pessoa que está com você se dar mal?

— Óbvio! — Ele se levantou e eu o encarei desentendida.

— Acho melhor eu ir.

— Por quê? — Perguntei sem entender nada.

— Eu estou com muita vontade de transar com você de novo e não quero te forçar a nada, e ficar aqui não está me ajudando. — Segurou meu rosto com as mãos e depositou um beijo rápido em meus lábios. — Tchau, depois a gente se fala.

— Tá, né. Tchau. — Ri da sua sinceridade e ele saiu.

Coloquei um filme e assisti tudo atentamente. Senti meus olhos pesarem e quando me encobri para dormir, ouvi a porta da sala sendo aberta. Dei um pulo e vi que era Christian.

Ele veio correndo até o sofá e se sentou ao meu lado, me puxando para poder me aninhar em seus braços. Ficar longe do meu irmão era uma tortura. Ele era meu porto seguro e eu só me sentia bem com ele perto de mim.

— Como você está? — Seu olhar conseguia desvendar qualquer segredo meu, e eu não conseguia esconder nada dele. — Estava morrendo de saudades.

— Eu também. — Passei meus braços em seu pescoço e fechei os olhos, sentindo aquela sensação ruim outra vez. Percebi as primeiras lágrimas rolarem dos meus olhos e me permiti chorar, enquanto era acalentada por meu irmão.

— Sina... Aconteceu algo? — Suas mãos afagaram meus cabelos tentando me consolar de algo que ele nem sabia.

— Sim. Algo horrível. — Disse entre soluços e choros altos.

— Pelo amor de Deus, Sina. Fala logo o que foi! — Sua voz soou desesperada e eu comecei a sentir minhas mãos tremerem.

Suspirei. Precisava contar ao meu irmão ou iria morrer entalada com isso na garganta.

— Você estava certo. Sempre esteve. — Disse baixinho.

— Como assim? Em relação a quê? — Perguntou com o semblante confuso.

— Ao Noah. Você não disse que iríamos acabar nos apaixonando uma hora?

— Sim. E vocês estão apaixonados? — Afirmei com a cabeça e ele riu animado. — Que bom, Sina! Eu sempre soube que iria sair amor disso!

— Aí é que está o problema. — Ele levantou uma sobrancelha e sua expressão ficou mais confusa do que estava antes. — Só quem está apaixonada na relação, lance, seja lá o que for, sou eu.

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora