51.

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Sina.

Depois que admiti para mim mesma que — infelizmente — estava apaixonada, pareceu que tirei um peso das minhas costas. Antes aquilo ficava entalado na minha garganta e sempre que alguém tocava no assunto e eu mentia, era como se um nó cheio de espinhos se formasse ao redor do meu pescoço.

Estava me arrumando para ir a tal festa do Noah. Nunca havia ido em nenhuma festa dele, mas ouvi falar que eram boas, e iria ver com os meus próprios olhos. Coloquei um vestido simples e meu amado par de tênis, não curtia muito ir para sociais de salto, nunca era seguro para mim. Depois de ter feito minha maquiagem, passei uma camada de gloss em meus lábios e borrifei meu perfume favorito no corpo.

Não tinha plano algum de ir para a cama naquela noite, por isso coloquei uma lingerie simples e até um pouco broxante, caso Noah ainda tentasse algo comigo. Não era justo eu estar sofrendo de amor e ele estar marcando de transar com outras. Noah iria sofrer assim como eu estava sofrendo.

Chamei o táxi e fui para a frente da casa esperar. Meu irmão tinha viajado a trabalho, então não precisava dar satisfações a ninguém. Cerca de quinze minutos depois, o carro parou na frente da casa e eu entrei, seguindo rumo à mansão Urrea.

Quando cheguei, desci do veículo e observei a grande casa que estava na minha frente.

Diferente da minha, que tinha um milhão de coisas de segurança e uma cor escura, a casa dos Urrea tinha vida. A frente era de madeira e pintada na cor bege, com uma grande sacada na frente. Me aproximei e toquei a campainha, que rapidamente foi atendida por Noah. Ele me analisou de cima a baixo e senti meu coração contorcer dentro do peito.

— Você veio. — Antes que eu pudesse reagir, ele me puxou para dentro e beijou o topo da minha cabeça. — E está linda.

— Eu não discumpro com a minha palavra, você sabe disso.

Observei a sala e fiquei ainda mais admirada. O lugar era tão bonito e bem decorado que nem parecia que apenas dois homens moravam ali. A sala era dividida em duas partes: sala de jantar e a sala de televisão. Um tapete creme contrastava com o piso de madeira escuro e combinava com o grande sofá de couro. A sala de jantar era ocupada pela maior parte por uma mesa com um lindo lustre em cima. Havia uma porta que certamente dava acesso à cozinha.

— Vem. — Noah me arrastou até a grande porta, e ao abrir, percebi que estava certa. Entramos na cozinha, que era bem maior que a da minha casa. Tudo limpo e em seu devido lugar. Me sentei em uma banqueta que estava ali e ele me serviu um prato com alguns biscoitos de chocolate.

Sorri e aceitei a comida. Comi tudo em silêncio enquanto Noah me observava sorrindo.

— Estavam uma delícia! Quem fez? — Perguntei assim que terminei de comer.

— Eu. — Ele respondeu orgulhoso.

— Está brincando! — Dei um soquinho em seu braço.

— Você não conhece quase nada sobre mim, Sina.

— Porque você nunca permitiu isso, Noah. — Brinquei com os meus dedos enquanto encarava o chão.

— Eu estou aqui, Sina. Realmente disposto a mudar. Eu sei que já pedi desculpas a você e prometi que iria mudar outra vez, mas falhei. Dessa vez vai ser diferente.

— E por que me tratou daquele jeito naquele dia? — Olhei para Noah, que parecia estar triste e envergonhado.

— E-eu não sei. Nós ficamos tão bem aquele final de semana, e quando voltamos para o trabalho, toda aquela coisa da pressão e do ambiente mexeram comigo. Eu me arrependi depois, mas não tive coragem de fazer algo.

— Talvez a situação fosse diferente hoje. — Disse e ele me lançou um olhar arrependido.

— Desculpa. — Se aproximou de mim e segurou minha mão junto da sua. — Divirta-se o quanto quiser essa noite aqui em casa, é o mínimo que posso fazer por você.

— Já falei que nós dois nunca mais.

— Eu não posso também. — Levei um certo tempo para entender o que ele queria dizer. Já tinha marcado algo para essa noite.

— Ótimo.

— Ótimo. — Noah se aproximou ainda mais de mim e eu podia sentir sua respiração bagunçando os fios soltos em minha testa.

Levantei o rosto e encarei seus olhos. Diferente de mim, Noah era um mistério. Seus olhos não transmitiam nada concreto ou algo que me desse alguma certeza. Eu não poderia saber assim se ele também sentia algo por mim ou era realmente apenas desejo. Eu tinha que descobrir um jeito de desvendar esse homem.

Suas mãos seguraram meu rosto, fazendo um carinho por toda a minha bochecha, me deixando anestesiada e fraca a cada deslizada que seu polegar dava pelo lugar. Senti seu rosto se aproximar do meu e sua respiração serena bater em meu queixo. Vamos, Sina Grey, reaja!

Por que infernos eu congelava ao toque desse homem? Por que eu não conseguia elaborar uma frase ou mandar um impulso nervoso aos meus músculos para que eles fizessem algo? Por que eu era tão entregue à Noah?

Seu lábio superior roçou o meu e o meu coração entrou em estado de alerta. Apoiei minhas mãos suadas na bancada e minha cabeça se inclinou mais para cima, fazendo com que seu lábio tocasse o meu.

Não, não, não.

Noah vagarosamente abriu um pouco seus lábios e senti a ponta da sua língua tocar a minha carne. Abri mais um pouco a boca e antes que eu fizesse a burrada de avançar, a campainha tocou, fazendo Noah dar um pulo para longe de mim e sair caminhando até a sala. Desci da banqueta e procurei nos armários um copo para tomar um pouco de água gelada.

Virei todo o líquido frio na minha boca e fui até a outra porta, que dava acesso à área da piscina. Quando saí, respirei o máximo de ar que podia, enchendo meus pulmões e fazendo meus neurônios voltarem a funcionar.

Se não fosse a campainha, nós teríamos nos beijado. Acho que o universo percebeu que eu não reajo sozinha e decidiu me dar uma força.

Peguei algo para beber e vi os amigos de Noah se aproximarem de mim.

— Sina, quanto tempo! — Lamar foi o primeiro a me cumprimentar com um abraço. — Noah te prendeu num cativeiro? Nunca mais nos vimos.

— A vida adulta, né. — Respondi sem jeito.

Cumprimentei todos os outros meninos com um abraço e conversei um pouco com eles. Eu preferia mil vezes os amigos da faculdade do Noah do que os do trabalho. Os companheiros de trabalho dele eram nojentos e diziam coisas horríveis sobre as mulheres. Já Lamar, Josh, Bailey e Krystian eram diferentes, sabiam ser legais comigo e não me ver apenas como "a irmã de Christian Grey que o Noah comia".

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora