86.

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Noah.

Hoje a empresa estava mais agitada do que nunca. Pessoas circulando pelo corredor, conversando alto, subindo e descendo o elevador. Um dia atípico.

Logo pensei nela e senti o meu coração apertar.

Sina com certeza devia estar irritada em sua sala, reclamando do barulho e dizendo que era impossível calcular alguma coisa com aquela gritaria. Ela com certeza iria fazer alguma coisa no almoço. Isso era tão Sina Grey.

Demorei cerca de dez minutos até conseguir chegar ao meu setor, já que o elevador estava um verdadeiro caos. Meu setor só não estava caótico quanto a recepção. Passei pelo corredor e todos os funcionários me olharam estranho, logo fiquei com medo.

O clima não estava dos melhores e definitivamente algo havia acontecido.

— Bom dia. — Disse assim que entrei na minha sala e vi Anna, minha estagiária, abrindo as janelas.

— Bom dia, Sr. Urrea. — Ela me respondeu e ligou o ar-condicionado.

— Hoje está uma verdadeira zona por aqui. — Sentei em minha mesa e joguei minha maleta no chão.

— E vai ficar assim pelos próximos meses. — Enruguei a testa. Como assim pelos próximos meses?

— O que aconteceu? — Perguntei e Anna me olhou pelo ombro com um olhar de pena.

— Você não foi avisado?

— Pode falar logo o que infernos aconteceu? — Rosnei e ela girou em seus calcanhares e marchou em minha direção.

— Perdão. — Ela coçou a nuca. — A irmã do Sr. Grey foi transferida de unidade junto com sua assistente.

Meu coração parou por cinco segundos e voltou a funcionar lentamente. Não podia ser real. Ela não poderia ter feito isso por minha causa.

— Você só pode estar brincando. — Ri desacreditado.

— Por que eu mentiria, Urrea? — Anna sentou-se na cadeira a minha frente. — Você acha que está esse alvoroço hoje por quê? Sina era uma das melhores funcionárias daqui, todos agora terão que se adaptar até que o Sr. Grey contrate alguém a altura.

Senti meu corpo arder e desajeitadamente puxei o nó da minha gravata.

Eu não iria mais ver Sina. Eu não teria mais a sua presença. E tudo por minha culpa.

Eu a fiz abrir mão do trabalho, do lugar que ela já estava acomodada. Eu baguncei completamente a vida de Sina, em todos os aspectos.

— Já volto. — Levantei-me e saí correndo até o elevador, apertando o botão do último andar. Eu precisava falar com Christian o mais rápido possível, Sina não deveria ter feito isso.

A sensação que eu tinha era de que iria ter um ataque cardíaco a qualquer momento e que cada segundo que se passava, a metragem do elevador diminuía. Eu me sentia sufocado, agonizado, prestes a morrer.

Assim que senti o solavanco do elevador e vi as portas metálicas se abrirem, andei desesperadamente até a sala do chefe.

Entrei na sala sem bater na porta e Christian acabou se assustando ao me ver ali sem nada marcado.

— Bom dia, Noah. Aconteceu algo? — Ele me olhou assustado.

Respirei profundamente.

— A Sina. — Minha garganta fechou e eu não consegui falar mais nada. Christian pareceu entender o que estava se passando comigo e veio em minha direção.

— Ah. — Ele riu sem mostrar os dentes. — Você já deve estar sabendo da bronca que a senhorita Sina me arranjou.

— Desculpa. — Disse num sopro. — Foi culpa minha.

— Em partes. — Respondeu simples. — Eu vi o estado em que a minha irmã chegou em casa. Eu sabia que não era uma boa ela aparecer na sua casa, mas você conhece Sina Grey.

Abaixei a cabeça.

— Conheço sim, muito bem por sinal. Eu quem deveria ter saído, não ela. Sina é sua irmã, está com você desde sempre, eu cheguei praticamente agora.

— Ei — Christian tocou meu ombro e eu o olhei com o canto dos olhos. —, não fale isso. Eu sei que vocês tiveram problemas pessoais, mas isso não deveria ter afetado o trabalho. Tanto você quanto a minha irmã são profissionais excelentes e eu não queria perder nenhum dos dois.

— Eu amo a sua irmã, Christian. Amo como nunca amei nenhuma outra mulher antes. — Apoiei meu rosto com as mãos. — Nem eu sei explicar o meu amor por Sina, mas isso nunca daria certo.

— Por quê? — Christian sentou-se no sofá ao meu lado. — Por que não daria certo?

— Porque... Eu não sei. — Admiti. — Acho que não seria capaz de amar Sina na mesma intensidade que ela merece.

— Você está sendo egoísta, Noah. Sinto te informar. — Suspirei. Christian estava certo. — Se vocês se amam, o que tem de errado que possa impedir vocês de viverem esse amor?

— Eu nunca amei antes.

— E daí? Sempre há tempo para aprender. — Tinha esquecido que paciência e delicadeza não eram dom dos Grey. — Se você a ama mesmo, estaria disposto a tentar pelo amor que sentem.

— Estou sendo infantil, não é?

— Sim. — Apertei os lábios. — Sina está péssima e sei que você também não está bem. Você deveria dar uma chance a esse amor, e se não desse certo, vocês desistiriam. É assim que funciona.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Christian me fez refletir sobre a minha atitude.

Eu só havia pensado em mim mesmo e no meu medo. Como Sina estava? Como ela deve ter se sentido quando despejei aquele monte de coisa nela e saí? Como o coração dela deve ter ficado quando eu admiti que o sentimento era recíproco mas pedi que ela saísse? Eu não me coloquei em seu lugar e não lembrei de que ela também tinha sentimentos.

— Eu vou tentar.

Christian levantou as sobrancelhas e me olhou.

— Finalmente.

— Onde a Sina está trabalhando agora? Queria passar por lá para fazer uma surpresa.

— Desculpa, Noah. Ela pediu que eu não falasse para ninguém. — Ele me respondeu com um olhar nada agradável. — Acho melhor você dar um tempo a Sina e deixar ela assimilar as coisas até tudo voltar ao normal.

— Por favor. — Fiz biquinho. Se com mulher funcionava, com homem deveria funcionar também.

— Desculpa, é a palavra da minha irmã. Não irei me meter entre vocês dois, se quiser você mesmo peça. — Ele levantou do sofá e voltou para sua mesa.

— Tudo bem, entendo a sua posição. Vou voltar ao trabalho, tenha um bom dia. — Sorri e saí de sua sala.

Eu estava perdendo Sina, isso era um fato. Eu a amava desde sempre, mas sempre  fui egoísta e orgulhoso para admitir meus próprios sentimentos.

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora