88.

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Noah.

Fim do expediente. Foi o dia menos produtivo e mais turbulento da minha vida. Tudo o que eu fazia me lembrava Sina, todo lugar que eu olhava nessa sala me lembrava ela, o seu cheiro, o seu toque, o seu rosto.

Pensei que me afastando as coisas se tornariam mais fáceis, mas depois que a perdi, vi que isso só maltratava ainda mais.

Eu precisava de Sina na minha vida e pedir que ela saísse foi a ideia mais estúpida que eu já tive.

Enquanto descia no elevador até o térreo, minha mão acabou tocando no botão do setor III. Meu coração sentiu uma necessidade de estar ali, naquele lugar que era tão a sua cara.

Passei pelo corredor vazio e conseguia imaginar sua voz soando no ambiente, desejando bom dia aos funcionários. Por sorte, a porta da sua antiga sala estava aberta. Quando minha mão tocou o interruptor e as luzes se acenderam, ouvi meu coração se dilacerar dentro do meu peito. As mesas e as estantes continuavam ali, mas tudo o que distinguia ser uma sala normal para a sala de Sina havia sido tirado.

O local tinha perdido o brilho, perdido a cor. Agora era apenas uma sala comum, que em breve seria ocupada por alguém comum. Sina dava vida a esse lugar. Eu conseguia ouvir sua voz brava comigo, sua risada por algo que sua amiga Shivani falou, o cheiro delicioso do seu perfume, o barulho de seus sapatos batendo na madeira.

Agora a ficha realmente começou a cair. Eu não iria mais vê-la, não iria mais me sentar à mesa e discutir, não iria mais compartilhar ideias e pensamentos.

Sina se foi para longe e levou consigo um pedaço de mim.

• • • •

Dirigi para casa em silêncio pensando em tudo o que eu tinha feito, em como tudo poderia ter sido diferente. Eu poderia agora estar dirigindo para a casa de Sina enquanto ela me contava como seu dia havia sido cansativo enquanto sua risada preenchia o carro.

No fundo eu sabia que merecia passar por isso tudo, justamente por tudo que eu tinha feito com ela. Fui o maior filho da puta com ela depois de um final de semana incrível, fui machista e um egoísta.

Eu estava disposto a me permitir amá-la, mas não sabia se isso seria o suficiente para ela não desistir de mim.

Entrei em casa e vi meu pai na cozinha preparando o jantar. Me aproximei e observei a cena. As vezes eu sentia falta de uma figura feminina nessa casa para me ajudar em momentos como esses, mas sabia que onde quer que a minha mãe estivesse, ela torcia pela minha felicidade.

— Oi, pai. — Lavei minhas mãos na pia e me juntei a ele na ilha.

— Oi, Noah. Meu filho, o que está acontecendo com você? — Ele me olhou com a testa franzida. — Anda muito abatido.

— Problemas envolvendo uma certa mulher que não sai da minha mente. — Peguei uma faca na gaveta e comecei a ajudar o meu pai a cortar os tomates.

— Eu não sou muito bom em conselhos, mas o seu velho pode tentar. — Sorri.

— Eu e Sina estamos apaixonados, não há dúvidas sobre isso, mas eu sou um completo babaca.

— O que você fez, Noah? — Evan ergueu o tom de voz.

— Eu disse que não daria certo. — Suspirei.

— E por que exatamente não daria certo? O que há impedindo vocês dois?

— Eu mesmo. — Respondi.

— Como assim? — Vi o meu pai me olhar mas não levantei a cabeça.

— Ela esteve aqui em casa, nos declaramos, admitimos os sentimentos que existiam, mas eu pedi que ela fosse embora, porque não daria certo. O problema é que não existe nada que faça isso dar errado.

— Só você. — Meu pai me corrigiu.

— Exato. — Cocei a nuca. — Eu sou o maior problema disso tudo.

— Mas eu ainda não entendi o problema disso tudo. Certo, você disse que não daria certo, mas por quê?

Cocei a garganta. Aquele assunto era uma ferida aberta em mim.

— Eu sinto que não sei amar Sina como ela merece ser amada. — Meu pai me olhou incrédulo.

— Noah — Meu olhar encontrou o seu. —, amor não é um bolo que vem com uma receita e você segue passo a passo. Amor é espontâneo, tentamos e vamos colocando em prática até que aquele amor se adapte ao que é necessário. Eu não posso chegar aqui e te falar que eu fiz isso ou aquilo com a sua mãe. — Ele fez uma pausa, pegou a sacola de cebolas e me entregou uma. — Até porque essa receita não iria dar certo, já que a sua mãe nos deixou. — Riu sem humor. — Nós aprendemos caindo, tentando, nos moldando. Se o amor de vocês não estava dando certo naquele caminho, vocês tentam outra coisa, e por aí vai. — Escutei tudo em silêncio.
— Mas, caso não dê certo como foi o meu caso, vocês simplesmente desistem. É assim que funciona.

— Você acha que eu deveria tentar? — Perguntei receoso.

— Mas é claro! Você foi um verdadeiro fraco por desistir de primeira. Nós não descobrimos nada da vida se ficarmos só no achismo. — Engoli em seco. — Vocês se amam, são solteiros, o que mais impede a felicidade de vocês?

— Tudo bem. — Suspirei outra vez. — Mas vou dar tempo ao tempo.

— Muito bem, meu garoto. — Meu pai bateu de leve em minhas costas. — Sina deve estar confusa com tudo o que está acontecendo, por isso deixe a mente dela respirar um pouco. Desejo do fundo do meu coração que vocês sejam muito felizes juntos.

— É isso o que eu desejo também, mas agora  não sei se vai funcionar. — Minha voz saiu em um sussurro.

— Seja positivo. O destino há de dar um jeito nisso tudo.

Essa foi uma das melhores e mais importantes noites da minha vida. Fiz o jantar com o meu pai, comemos juntos e depois fomos arrumar a bagunça que havíamos feito. Eu precisava mesmo de uma noite dessas, de pai e filho, de pessoas que se amam.

Meu pai me aconselhou, me alertou e clareou meus pensamentos sobre tudo. Eu agora estava mais diposto do que nunca a dar uma chance a esse amor. Sina era a mulher da minha vida e estava escorrendo dos meus dedos por besteira.

Eu estava disposto a amar Sina Grey, e dessa vez era de verdade. Dessa vez eu não iria desistir dos meus sentimentos.

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora