47.

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Sina.

Saí do transe em meus pensamentos quando ouvi alguém bater na porta delicadamente.

Entra. — Gritei, mas me arrependi logo em seguida, desejando que o tempo voltasse para que eu colocasse meus fones outra vez ignorando aquele som.

— Me chamou? — Noah disse me olhando de cima a baixo, me secando descaradamente.

Engoli em seco e ajeitei minha postura na cadeira.

— E-eu? Não! — Respondi nervosa. Puta que pariu, meu corpo estava me traindo mais uma vez.

— Na verdade eu quem te chamei, Sr. Urrea. Só usei o nome da Sina para que o senhor viesse mais rápido. — Olhei incrédula para Shivani. Não acredito que ela jogou sujo desse jeito.

— Que pena. — Disse ríspido. — O que é?

— É que a Sina foi deixar uns papéis na sua sala e você não a atendeu, e como é algo prioritário e eu quis poupar minha amiga de qualquer situação constrangedora, achei melhor você vir aqui pessoalmente. Não é, amiga?

— O quê? — Senti um fio de suor começar a se formar na minha testa e as palmas das minhas mãos ficarem geladas. Não era um bom sinal.

— Aonde estão os papéis?

— Aqui co-comigo. — Respondi e Noah caminhou até minha mesa, pegando a pasta cinza em suas mãos.

— Depois você vai lá pegar de volta e conferir comigo.

— A Shivani vai. — Respondi com a voz trêmula.

— Eu disse você e não ela. — Respondeu e saiu andando, batendo a porta atrás de si.

Soltei o ar pesado que estava preso em meus pulmões e Shivani riu de mim. Mostrei o dedo do meio para ela que mandou um beijo para mim.

— Ficou nervosinha, Sina Grey?

— Eu te odeio, Shivani. Muito. Que vergonhoso! E que merda foi essa de "poupar minha amiga de situações constrangedoras"? Constrangedor vai ser eu ter que ir na sala dele.

— Talvez agora vocês se acertem. Não se esqueça de me agradecer depois. — Ela deu uma piscadela e eu joguei minha borracha em sua direção, acertando o armário.

— Ele te deixou tão nervosa que até a sua mira ficou ruim.

— Shivani!

— Admite, Sina. Noah mexeu com você de uma maneira que você não esperava.

— Sim, mas isso n...

— O fato é: você está apaixonada mas não quer admitir pois seu orgulho é muito grande e você tem medo do que pode acontecer.

Ela estava certa. Espera, deixa eu corrigir isso: ela estava certa na parte de que eu estava com medo do que podia acontecer. Noah era um mistério para mim ainda, independentemente da nossa situação, andar com ele é andar pisando em ovos. Ele era muito fechado, qualquer informação que escapasse dele era quase um milagre.

— De onde você tirou essa ideia louca de que eu estou apaixonada? Eu não estou. Você está vendo coisa aonde não tem.

— Eu te conheço há anos, Sina. Sei que você já ficou com vários caras, e nenhum deles te deixou assim. Nenhum cara te fez chorar, nenhum tirou o foco do seu trabalho e muito menos entrou na sua mente e te envenenou como Noah fez. Se isso não é amor, eu não sei o que é.

— É que ele... É diferente. — Suspirei. — Não sei explicar. Ele me dá calafrios, me deixa vulnerável. Mas isso não é amor.

— Vai me dizer que tudo isso é tesão? — Fiz que sim com a cabeça. — Tesão pode mexer com a gente, mas não desse jeito. Isso é amor. Mas eu não vou mais insistir nesse assunto. Quando você voltar para a realidade e perceber tudo o aconteceu com você depois que o Noah entrou na sua vida a gente conversa. — Dessa vez foi a minha amiga quem colocou os fones de ouvido e voltou a fazer o seu trabalho.

Tentei fazer o mesmo, mas minha cabeça só pensava nele, e eu me odiava por isso. Eu estava assim há dias, com zero foco e concentração enquanto ele seguia sua vida normalmente. Isso não podia ficar assim, e eu sabia muito bem como resolver aquilo. Mas enquanto o momento não chegava, as palavras de Shivani ficaram martelando na minha cabeça. Será que eu realmente estava apaixonada? Ok, nenhum homem realmente me deixara daquele jeito, mas necessariamente aquilo era amor? Não poderia ser outra coisa? Desejo, sei lá.

Coloquei Ariana Grande para tocar e finalmente consegui me concentrar. Minha mente relembrava os dias incríveis e produtivos do trabalho que eu já tive e rapidamente comecei a digitar toda aquela papelada. A música me ajudava a deixar tudo mais leve, alegre, atraente. Juntar música e trabalho era algo que eu adoro fazer, e sempre funciona bem.

Eu não sabia exatamente quanto tempo havia se passado, estava completamente focada no que fazia, até que senti meu celular vibrar na mesa. Desbloqueei a tela e vi que tinha uma mensagem.

"Você está atrasada.", dizia a mensagem de Noah.

— Estou indo lá. — Falei baixo e sem animação para minha amiga e a mesma me desejou boa sorte. Eu iria precisar mesmo.

Me arrastei mais uma vez até aquela sala, recebendo pela segunda vez naquele dia olhares torturantes. Por Deus, era muita humilhação para um dia só. Eu nunca fiz isso por ninguém, por que eu deixava Noah me afetar tanto assim?

Bati na porta e ele rapidamente a abriu, me puxando pelo pulso para dentro. Acabei tropeçando nos saltos mas ele me segurou pela cintura. Senti meu corpo arrepiar com aquele toque que eu tanto senti falta.

— Você veio mesmo. — A voz dele soava feliz e eu não estava gostando daquilo.

— Eu cumpro com a minha palavra. — Me soltei de seus braços e sentei na cadeira que ficava em frente à sua mesa. — Vamos direto ao ponto, não tenho muito tempo para isso.

— Senti sua falta. — Ele levou a mão até meu ombro, mas eu a tirei rapidamente.

— Você me chamou para isso? — Revirei os olhos e Noah me olhou desentendido. — Eu já falei que não tenho tempo, Noah. Lembra? Você disse que aqui seríamos extremamente profissionais, não quero que descumpra com a sua palavra.

— Claro que não... — Me puxou para perto dele e eu me desequilibrei outra vez, apoiando meu joelho em sua perna. Tentei me afastar, mas ele colocou a mão direita na dobra do meu joelho, fazendo com que eu ficasse mais perto dele.

— Noah... — Meu nervosismo naquele momento já era evidente, mas eu estava pouco me incomodando com aquilo, só queria sair logo dali.

Ele levou sua mão livre até minha cintura, fazendo com que eu praticamente me sentasse em seu colo. Inferno.

GREY ↯ noartOnde histórias criam vida. Descubra agora