Emilly Narrando.
Fazia tempo que eu não bebia, nenhum gole sequer de álcool, mas hoje eu resolvi que beberia por todo o tempo que eu me mantive sóbria queimando em culpa, desejando ter sido melhor e incapaz de me olhar no espelho.
A lembrança dessa manhã ainda ardia na minha memória, cada gole da cerveja que eu dava descia com dificuldade e eu encarava as bebidas dispostas dentro do bar enquanto barman tirava uma garrafa ou outra para preparar algum drink.
Não me dei o trabalho nem de usar o copo, a sétima garrafa de cerveja da noite foi aberta com o jeans da minha jaqueta e eu entornei uma boa parte no primeiro gole.
Ainda sim eu lembrava, do meu cansaço, passando pela minha infantilidade e indo até a pergunta: que tipo de mulher é essa que eu resolvi me tornar? Ainda me questionava: O que eu ganhei com isso?
Flashback.
Jean: O que é isso? - Ele jogou a mala que usa para levar suas coisas para o jogo de futebol e me olhou confuso por me ver sentada no sofá ao lado de suas malas aguardando-o chegar desde as 11h quando prometera chegar.
Emilly: Eu acho melhor você passar uns dias na sua mãe.
Jean: Uns dias? - Andou para perto de mim rapidamente - Como assim, Emilly?
Emilly: Como assim, Jean? - Levantei do sofá e o encarei - São 22h! Até no nosso aniversário de casamento, Jean? - Não contive as lágrimas e deixei que ele visse o quanto estava ferida - Nosso aniversário... - Minha voz saiu falhada - Foi para isso que casamos? - Não iria levantar o tom de voz, meu peito ardia, mas não iria me desgastar mais ainda... Não quando a minha moral não está em dia - Tudo o que eu queria era um dia para nós, para a gente se curtir, sair, ver coisas novas, namorar! Quanto tempo nós não nos curtimos mais? Quanto tempo você não me toca como antes? - Toquei no meu bolso traseiro sentindo o plástico entre meus dedos e tremi por dentro para saber se anunciava o que eu havia encontrado ou não.
Jean: E por conta disso você junta minhas paradas e manda para casa da minha mãe? - Ele cruzou os braços e levantou uma das sobrancelhas claramente puto - Eu trabalho a semana inteira, Emy! Combinei contigo da gente ir comer alguma coisa depois que eu chegasse do futebol. Po tu me conheceu assim, morena e agora quer bancar de doida querer me botar no controle?
Emilly: Eu conheci um homem trabalhador, que prioriza a família, estava comigo para o que desse e viesse. Agora você sai todo final de semana, chega domingo a gente se soca na casa da sua mãe. Eu não sou capaz de lembrar a última vez que transamos de verdade, Jean!
Jean: E dá tesão porra? Se quando eu chego você já me recebe na briga, todo dia me cobrando, não me deixa respirar!
Emilly: Então bom, faz esse favor para nós dois e... - As lágrimas rolaram enquanto tirava minha aliança - Vai embora, Jean!
Jean: Ah sim. - Pouco caso fez e foi para cozinha beber água, desconsiderando completamente tudo o que eu havia falado.
Emilly: Jean!
Jean: O que é, Emilly?! - Falou mal humorado - Amanhã a gente conversa sobre isso, eu não estou com cabeça.
Emilly: E quando está? Você só tem cabeça para os seus amigos, futebol, cerveja e churrasco. Agora para agir feito homem você não tem!
Jean: Está reclamando de barriga cheia, te catei lá dentro daquele buraco onde você estava morando com a sua amiga, te dei teto, pago o caralho das contas aqui de casa, teu cursinho quem pagou foi eu, te orienta, Emilly! Se você tem seu estúdio hoje dá graças a mim, porque se não fosse você ainda estaria lá com aquela tua amiga doida. - Ele falou, eu não acreditei primeiramente, não imaginei jamais que ouviria dele essas palavras, mas ainda sim o fantasma de sua fala me fez sangrar na sua frente. A cocaína que havia encontrado em sua jaqueta foi deixada junto com a minha aliança e com a roupa que estava o abandonei.
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Agora eu quero ir
RomanceTraumas psicológicos levaram Betina deixar o interior de São Paulo e buscar uma vida melhor na capital. Mas para isso acontecer ela precisou mentir sua verdadeira identidade. ✓ História publicada originalmente no VK no dia 2 de dezembro de 2017 e fi...