Voltei para dentro da casa, não me dei o trabalho de chamar o Pedro e voltei para o quarto segurando as lágrimas. Tranquei a porta do quarto e sentei no chão encostada a cama respirando fundo para não deixar cair sequer uma lágrima. O quebra cabeça da minha mãe era composto de peças que não se encaixavam e ela insistia que era normal. Mesmo quando eu oferecia peças novas, peças que poderiam ser facilmente encaixadas, ela teimava em mostrar que aquele quebra cabeça dela era o certo, o bom, o prático e ela se alimentava daquele conformismo que além de cegá-la me transformava na filha inútil.
Depois de tudo que nós duas passamos, ela simplesmente estava me mandando embora daqui, me botando de lado como se não tivesse solução para mais nada. Coloquei a mão em cima do meu celular, mordi meu lábio inferior com força tentando o impedir de tremer e sem olhar liguei o meu celular. Olhei para três ligações perdidas do Miguel, caguei para a provocação que havia feito para ele e retornei a chamada.
Ligação
Miguel: Qual foi, vacilona? Manda aquela foto lá e mete o pé. Poderia ter tirado tudo, se fosse pra foder minha mente, que fodesse de uma vez só.
Betina: Miguel... Cala a boca.
Miguel: O que tá pegando, Betina?
Betina: Nada.
Miguel: Tu me liga com essa voz e diz que não é nada? Tá doida? Não me enrola, o que tá pegando?
Betina: O que eu tenho que fazer pra tirar uma pessoa da casa? Digo... Judicialmente.
Miguel: O que está acontecendo aí, Betina? Seu padrasto por acaso tentou alguma coisa contigo e a sua mãe?
Betina: Miguel só me responde, por favor.
Miguel: Fala logo, Betina.
Betina: Não aconteceu nada, eu só quero saber.
Miguel: Você está com voz de choro, Bê, o que tá rolando aí?
Betina: Miguel que caralho, fala cacete.
Miguel: Você quer minha ajuda e começa a gritar comigo?
Betina: Porque você está enrolando. Quer saber? Eu vou perguntar ao Pedro, tá bom? Muito obrigada por nada.
Miguel: Betina largas de ser estúpida, você está nervosa, beleza? Eu só quero entender o que está acontecendo.
Betina: Só responde a minha pergunta.
Miguel: Sua mãe é casada com seu padrasto há quantos anos?
Betina: 9, 10 anos... Ai sei lá, tem muito tempo.
Miguel: Eles são casados no papel, tudo direito?
Betina: Sim.
Miguel: A casa está no nome do seu irmão, certo?
Betina: Certo, mas ele depois que foi embora nunca mais voltou aqui.
Miguel: Ok, as coisas da casa foram compradas pelo seu padrasto ou pela sua mãe?
Betina: Pelo o nojento. Minha mãe não trabalha, Miguel, ela faz uns bicos ali e cá, mas nunca se firma em nada.
Miguel: O seu padrasto tem direitos no imóvel. Sinceramente? Brigar na justiça por causa de uma casa é besteira. Se a sua mãe não quer e o seu irmão não faz questão há 10 anos... Desculpa, Bê, mas no máximo que você deveria tentar é conversar com ele.
Betina: Mas Miguel, eu quero a casa, ok? Eu faço questão de ter a casa então. Eu nasci e fui criada ali.
Miguel: Você nem na casa mora mais, Betina.
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Agora eu quero ir
RomanceTraumas psicológicos levaram Betina deixar o interior de São Paulo e buscar uma vida melhor na capital. Mas para isso acontecer ela precisou mentir sua verdadeira identidade. ✓ História publicada originalmente no VK no dia 2 de dezembro de 2017 e fi...