O silêncio reinou por breves segundos.
— A Lisa? A minha Lisa? – Vinícius questionou, levantando-se de onde estava e já em direção à entrada da casa.
— Lukatto, você tem certeza? – Regina perguntou, com o semblante preocupado. O amigo concordou.
— Calma ai, a gente tem que pensar antes de agir. – Kaique disse. – Não dá pra simplesmente ir lá e receber ela de braços abertos.
— Mas é a Lisa! – Vinícius argumentou. Depois, refletiu e disse: – Tá, eu entendo. Mas ainda assim...
— Respira, Vini. Vamo todo mundo olhar? Ela te viu Lukatto? – perguntou Emily.
— Eu acho que não. – o lutador respondeu.
— Lukatto usou o modo furtivo, boa Lukatto. – Garcia disse, quebrando o clima da conversa.
— Vamos todos olhar. Se ela estiver sozinha ou com um grupo pequeno de pessoas a gente consegue intimidar pelo menos. – falou Regina, levantando-se. Todos seguiram-a, em direção a porta da frente da casa.
A garota parada no portão continuava batendo na madeira, abraçando o próprio corpo com frio. Não vestia nenhuma blusa de frio, somente uma camiseta e uma calça jeans, e ventava bastante. Os cabelos ainda tinham a mesma cor da época da escola, um tom de ruivo claro, que refletiam a luz do luar. O tamanho não havia mudado, seguia sendo uma mulher de baixa estatura, mas agora no auge de seus 28 anos. O corpo esguio carregava uma mochila que parecia grande demais para a imagem frágil que a garota passava. A expressão era de preocupação e ansiedade, assim como a dos amigos que a observavam.
Poucos tinham grandes lembranças envolvendo-a, mas para uns ela era importantíssima. Fizera parte do grupo de amigos, mesmo que brevemente. Mas de longe, Vinícius era quem mais era próxima de si: eram leais um ao outro, da maneira mais pura. Mesmo com a rotina da vida adulta, onde Vinícius havia sido contratado por uma multinacional como internacionalista e passou a ter bem menos tempo para lazer, ainda conseguiam se ver com grande frequência. O destino de Lisa a colocou para trabalhar como pesquisadora numa universidade que ficava há menos de 3 quarteirões da sede de onde Vinícius trabalhava. Antes do mundo ser tomado por feras que só seguem o instinto da fome, os dois almoçavam juntos pelo menos três vezes na semana. A distância que o apocalipse causou estava abalando demais ambos.
— Vini, vai lá falar com ela. – Kaique disse.
Vinícius respirou fundo, tomando a frente do grupo. Passou pela porta da frente, em passos firmes em direção ao portão. Havia várias tábuas de madeira atravessadas em frente as grades, um pequeno reforço feito pelo grupo mais cedo aquele dia. Encarou o rosto entre as frestas esperando que a garota pudesse reparar em si. Não demorou e logo ele pode ouvir a voz que tanto sentia falta dizendo seu nome.
— VINI!! É VOCÊ?? AI MEU DEUS EU SABIA QUE ERA AQUI!
— Oi Li, você tá bem? Foi mordida? – perguntou, se contendo. Tinha vontade de sair correndo e abraça-lá, no entanto, entendia as desconfianças dos amigos, que estavam alguns passos atrás de si.
— Eu to, Vini, to bem. E você? Meu deus, eu achei que nunca ia achar aqui, é a casa do Luiz não é? – a garota começou a bombardeá-lo com perguntas, transparecendo nervosismo. A mão magra agarrou as grades visíveis do portão, querendo se aproximar mais. – Eu posso entrar? To com muita saudade, Vini...
— Eu sei pequena, eu sei. – Vinícius respirou fundo. – Eu... Eu vou falar com eles, espera só um segundo, ok?
Saiu de perto antes que pudesse ver se a amiga tinha assentido ou não. Respirava descompassadamente, indo em direção ao grupo. Temia que não deixassem-na entrar; e a desconfiança era plausível, pois viviam tempos sombrios, não podia negar. Mas seu coração implorava para poder dar mais um abraço em Elizabeth. Seu peito doía de saudade.
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The Anarcotarios' Zombie Apocalypse
Science FictionCom o desenvolvimento da ciência e inumeros testes laboratoriais para atingir a perfeição do ser humano através de mutações genéticas houve, no ano de 2030, um grande erro laboratorial que resultou em algo grande e completamente divergente do objeti...