The Kiss

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Todos encararam a garota. Lucas balançou negativamente a cabeça, de saco cheio de ouvir aquela voz estridente. Vinícius estava perplexo; se sentia traído por aquela que um dia havia sido sua melhor amiga, tanto pela situação da invasão quanto pelo pedido repentino dela. Ficou chocado, Endrick somente havia ajudado Lisa em um momento, e ela já se jogara nos braços dele, pedindo pra passar a noite ao lado dele? O quão baixa ela poderia ser?

— Eu... eu vou ficar de vigia. Caso algum zumbi entre aqui. Ou o cara que escapou volte... Então, é isso. Vou ficar acordado. – Endrick sentia o olhar de Vinícius queimando sob suas costas.

Não entendia como de repente ela se afeiçoara a ele, literalmente em minutos. O abraço fazia sentido, pois afinal fora ele que a impedira de cometer suicídio. Mas o resto... Não podia deixar de imaginar como o amigo Vinícius se sentia com tudo aquilo. Conhecia-o bem desde o ensino médio, o suficiente pra saber o que passava na cabeça do internacionalista.

Seguiu o que disse e foi pra perto da porta, tentando não pensar mais sobre o assunto.

— Vini... – a voz da garota voltou ao ambiente. – Você quer...

— Não vai rolar. – Vinícius cortou a fala da garota, antes que ela pudesse completar o raciocínio. – Não vou dormir com alguém que me trate como segunda opção. E além de tudo, é uma traidora. – a última frase foi sussurrada, mas Lisa ouviu. Lágrimas brotaram nos olhos da garota, que foi deitar-se num canto, num choro quieto.

Lucas deitou-se, cansado daquela novela que formara-se entre o trio. Sua mente ainda vagava lembrando-se de Matheus... E assim dormiu, sonhando com o matemático saudável e vivo, diferente do corpo morto que estava na cozinha.

Vinícius foi o último a pegar no sono, mas o primeiro a acordar. Endrick ainda estava desperto, então trocaram de lugar, assim o engenheiro deitou-se, bem longe de Lisa, e apagou rapidamente, o cansaço vencendo qualquer sentimento que poderia ter.

Ao pegar sua arma e colocar-se a postos perto da porta, Vinícius sentou-se num banco e ficou vigiando o lado de fora. O sol já estava nascendo, e a claridade entrava aos poucos no ambiente. A cena seria bonita, não fosse o cheiro que emanava dos cadáveres, tanto de dentro quanto de fora da casa. Balançou a cabeça, tentando não pensar naquilo, mesmo que o odor fosse absurdamente forte, como se forçasse-o a reviver em sua mente o momento que vira um dos amigos ser baleado e o outro ser mordido por uma daquelas coisas...

Ficar sozinho daquela forma depois de tudo que havia acontecido era reconfortante. Não teve tempo para organizar os pensamentos desde que a garota aparecera no portão algumas noites antes. Imaginava se ela realmente havia traído o grupo, não gostando muito de pensar nisso. Apesar de tudo, aquela era sua Lisa, a garota bobinha que se perdia na rua se fizesse mais que duas curvas num caminho. Não conseguia imaginar que ela pudesse se juntar a um grupo que fizesse um massacre como o que havia ocorrido. Pelo menos esperava que não.

Ainda havia os amigos que fugiram. Seu querido Anarco, o resto dos meninos... Estavam todos sumidos e não tinha como entrarem em contato. Estava preocupado com Beatriz, que carregava o bebê, Rafael sem uma mão, Emily e Regina que haviam fugido sabe-se lá como. Se perguntava até como estaria Luiz naquele momento.

— Oi.

A voz tão conhecida assustou-o. Estava tão imerso no que pensava que não reparara que Lisa havia se levantado e agora estava próxima, uns três passos de distância. Não respondeu. Ainda estava magoado.

— Eu sei que você provavelmente não quer me ver, nem me ouvir. Mas eu preciso explicar umas coisas. Pelo...Pelo Matheus e o Garcia. – ela continuou.

— Você ainda ousa falar o nome deles?

— Me escuta, Vini! Não adianta ficar sendo grosso comigo assim. – Vinícius balançou a cabeça negativamente, desacreditado do que ouvia. – Eu vou explicar tudo, ok?

The Anarcotarios' Zombie ApocalypseOnde histórias criam vida. Descubra agora