10 - A echarpe

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Por Izabel

Eu esperei tudo. Que ela ficasse sem graça. Que ficasse estranha. Que demonstrasse preconceito. Menos que ela gargalhasse.

Ela deu uma gargalhada bem alta. Gostosa, como se eu tivesse contato uma piada. Não resistir em pergunta se era isso que ela estava pensando. Que era uma brincadeira.

- Não Izabel. Desculpa, ri por causa do meu irmão. Mas não acho que é piada. (Ela me respondeu contendo o riso)

- Não imaginei essa risada. Você parece ser uma mulher tradicional.

Eloize me fitou fazendo uma cara de quem percebeu que eu não estava sendo honesta na frase e disse:

- Preconceituosa você quis dizer né? Nem vou me ofende. Relaxa. Nunca avaliaria alguém pela escolha sexual dela. Pelo contrário. Admiro ainda mais a amizade de vocês pois vejo que de fato não tem nenhuma conotação sexual. Isso é raro hoje em dia.

Fiquei alguns segundos olhando no fundo dos olhos de Eloize. Admirando cada detalhe da sua frase quando Hugo aproximando-se e falou:

- O que é raro meninas? (falou colocando a minha dose de conhaque na mesa.)

- Nossa amizade. Eloize admira o fato deu ti aguenta.

Todos riram. O irmão dela sentou ao meu lado e perguntou como era ser fotógrafa em Londres.

- Magnífico. Aqui é tudo muito intenso. Ora o sol ta lindo Ora a neve ta caindo. Um espetáculo de cores.

Ele parecia ser um cara legal. Solto e chegado a um rabo de saia. Percebi logo suas investidas. Mas preferi fingir demência. Tanto para ele, quanto para o fato de Eloize o citar com relação à risada que deu ao saber da minha opção sexual. Nunca em toda minha vida pensaria em me relacionar com um homem. Eu sempre olhei, desejei e tive mulheres em minha vida. Olha uma mulher bonita era como mergulhar em um mar de sensações onde o meu corpo vibrava cada músculo. Cada terminação nervosa. Eu jamais olharia pra Enzo. Nem para homem algum.

Olhei novamente para Eloize, agora com um riso solto falando qualquer coisa que eu não tinha ouvido pelo fato de ter ficado distraída em meus pensamentos, eu sentir meus músculos tremerem. Ela era linda demais e isso mexia com meus instintos.

Naquele instante eu percebi que desde o dia da foto no aeroporto essa sensação havia tomado meu corpo. E agora, vendo ela sorrir distraída, ficou ainda mais forte a ponto de sentir meu coração acelerar levemente. Seria o conhaque? Não, com toda certeza os olhos castanhos daquela mulher me causava uma sensação de encantamento.

- Você esta bem? (Senti sua mão sobre a minha na mesa.)

Respirei fundo. Afastando o pensamento e respondi:

- To sim. Só me distrair um pouco. Só isso.

Tentei ser o mais natural possível. Ela franziu a testa e tentou me colocar a par do assunto da mesa.

- Bem estamos falando que você é uma excelente fotografa.

Ri sem jeito. O fato de ouvir dela o assunto sobre fotos depois da minha recordação de segundos atrás, me fez ficar sem graça. Resolvi ir ao banheiro. Uma saída estratégica era boa. Eu realmente tava com a mente confusa.

- Vou ao toalete. Já já volto.

Entrei no banheiro atônica. Rapidamente joguei água no rosto todo a ponto de molhar minha echarpe amarela. Olhei-me no espelho e pensei.

Nem pense nisso Izabel. Ela é hétero e casada. Eu só posso ta maluca. Ou carente demais!

- Meu Deus! (falei alto dentro do banheiro)

A photografia (Livro Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora