• capitulo 62 •

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Miriã

Aquela mesma rotina de sempre, aquela mesma filona. Eu estava com Cecília no colo por que ela dormia. Eu agradeci quando começou a andar a fila, e depois de muito tempo entramos e era aquela mesma coisa. Quando liberaram eu fui caminhando até o pátio, Marcola me esperava ali como sempre, com as mãos no bolso, aquele semblante sério. Cheguei perto dele e ele pegou Cecília no colo que logo acordou.

— Papai... Eu fiquei com saudade! - Cecília disse embolada ainda com sono agarrando o pescoço dele.

— Eu também princesa. Como tu tá? - Marcola perguntou pra ela sorrindo

Ele perdia toda postura de bandido com Cecília.

— Eu to bem papai, eu comi ontem cenoura! - Cecília disse.

— Isso aê minha gata, tu tem que ficar fortona pô! - Marcola disse.

Ele desviou o olhar dela e me encarou por inteira.

— E tu? Tá tranquila? - Perguntou sério.

— Tô. E você? - Perguntei e ele assentiu com a cabeça.

Ele foi caminhando na frente falando com Cecília e eu fui indo atrás. Ele se sentou em uma mesa e eu sentei de frente pra ele.

Cecília sentou e apoiou as mãozinhas na mesa e deitou a cabeça.

— Hoje! Eu vazo! - Marcola disse meio baixo.

— Você quer terminar por aqui? Fale já! - Perguntei encarando ele.

Ele me encarou e sorriu negando.

— Não, não quero ficar sem tu Miriã, tira isso da tua mente! - Marcola disse.

— E por que tá me tratando sem diferença? Já faz umas quatro visitas seguidas já! - Falei.

Ele pegou na minha mão e beijou.

— Desculpa minha gata, de verdade. Eu to com a mente lá fora e aqui no mesmo tempo pô. É foda, a cadeia cansa a mente de qualquer bico! - Marcola disse. - Eu quero tu, eu amo tu e eu não vou cometer o mesmo erro contigo. Confia! - Ele falou me encarando.

A gente confia desconfiando meninas e meninos!

— E vai fugir como? - Perguntei mudando de assunto.

Ele largou minha mão e suspirou passando a mão no rosto.

— Pode ser que eu volte, pode ser que não. - Marcola disse.

Eu senti aquela facada no peito e fiquei ali parada.

— Prefiro que você fique sem essa então! - Falei sentindo aquele frio na barriga.

— Pô, eu queria pagar todos os anos, mas não da pra ficar sem tu e a Cecília cara, quero minha vida de volta, tenho a Rocinha, minha família pra cuidar! - Marcola disse e eu neguei.

— Você quis ficar aqui, não quero ficar sem você porra, para de ser cabeça dura Marco! - Falei brava.

Ele negou a cabeça suspirando e pegou minha mão. Eu puxei na mesma hora e ele segurou firme.

— Eu amo tu. Eu sempre vou te amar, me perdoe por qualquer caô que te magoou, só não esquece que eu to contigo no pensamento 24 por 48! - Marcola disse e me deu um selinho demorado.

*****

Eu me despedi dele. Ele não quis soltar Cecília. Os olhos dele ficou vermelho, eu não me aguentei e cai em lágrimas, ele se segurou.

Eu sentia, eu sabia que podia dar merda, e dava pra ver o quão nervoso ele tava. Até por que, como ele disse.

Ele tem família, hoje o bagulho é diferente ”

Eu peguei na mão de Cecília enquanto ela dava tchau pro pai. Eu encarei a última vez Marcola e ele me fez um coração. Aquilo me partiu o coração, eu sai daquele presídio arrasada. Entrei no carro do Orelha e fomos pra Rocinha embora.

• aperta na estrelinha •

Amor atrás das gradesOnde histórias criam vida. Descubra agora