• capitulo 56 •

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Miriã

Eu seria ingrata demais de deixar ele lá sem visita. Eu queria ir ver ele de qualquer jeito. Orelha saiu de casa e eu custei a dormir, mais quando dormi, só acordei com o choro de Cecília.

Eu encarei o relógio do celular e vi que era quase meio dia. Me levantei cambaleando e peguei ela.

Fui caminhando até a sala e dei mama pra ela. Troquei a fralda, fiz arrotar e fiquei com ela no colo.

A porta bateu e Ellen entrou com Curió e Orelha.

— Eu to com bafo ainda em, nem deu pra escovar os dentes! - Falei ainda morta de sono.

— Deu pra perceber esse seu bafo de esgoto! - Orelha disse.

Eu mostrei o dedo do meio pra ele e encarei Curió que tava com a cara fechada.

— Amiga, o Marcola foi pra um presídio, dessa vez não teve cdp. Ele foi pego junto com Juninho! - Ellen disse.

— Marcola só toma no cu também em, pelo amor, nunca vi igual ele, ele vai mais preso do que troca a cueca freiada dele! - Orelha disse e eu concordei.

— E ai? Como é? Como vai fazer? - Perguntei.

— Ele quer falar contigo! - Curió disse sério.

— Daqui umas duas semanas ele sai da observação e vai pra cela. Você ainda tem tua carteirinha? - Ellen perguntou e eu assenti. - Então, não perca por nada. - Ela disse e eu suspirei.

Eu me sentei no sofá e acariciei a cabeça de Cecília.

— Os gambé vacilou com ele. O x9 da polícia. A gente tá indo atrás. Vai ter invasão a qualquer momento, então evita de sair da tua goma, ouviu? - Curió disse e eu assenti.

******

Peguei aquele exame nas mãos. Eu suspirei e larguei em cima da mesa. Eu caminhei até a janela e fiquei encarando aquele céu cinza, aquele ar gelado.

Fechei os olhos lembrando de quando eu morava em São Paulo. Quis tanto Juninho lá, quis tanto que ele ficasse livre da vida do crime. E ele quis ir pelo mais “ fácil ”, e sempre o mais fácil acaba se acabando de alguma forma.

*****

Marcola

Aquilo tava martelando na minha cabeça. Eu tava com as pernas presas, as mãos também. Encarei do outro lado da sala e Juninho tava ali com a cabeça abaixada.

— Tu não aprende nunca né teu filho da puta! - Falei encarando ele.

Ele levantou a cabeça e riu pelo nariz.

— Quem não aprende é tu né Marcola. Papagaio foi um bosta! - Juninho disse negando com a cabeça.

— Aqui, tu dorme com um olho aberto, por que tu vai torrar, e eu memo que vou tá lá te torrando neguinho, tu errou o pé feio. Vacilasse comigo, mais com aliado meu, com o parceiro que tava comigo em qualquer bala não! - Falei e Juninho virou a cara.

Ficou o maior silêncio.

— Tu deu o cargo pra ele! - Juninho disse.

— Que porra de cargo, dei a responsa dele ficar na frente da Rocinha. Tu foi um pela saco do caralho, bagulho ridículo de inveja, tu não é homem não porra, tua vez ia chegar. - Falei e ele me encarou negando a cabeça.

— Não. Eu não queria a responsa do Papagaio, eu queria a Rocinha pra mim. E tu ia rodar nessa. - Juninho disse.

— Pô irmão, quem vai rodar é tu, e vai ser no microondas! - Falei e ele engoliu seco.

• aperta na estrelinha •

Amor atrás das gradesOnde histórias criam vida. Descubra agora