Dagmar
Deixei o microfone de lado e peguei refrigerante. Marcola veio.
Me agarrou e abraçou.
— Seja quem tu quer ser, fogo no pau no cu dos cara que de discrimina. Manda o papo que eu meto bala. - Marcola disse e eu ri abraçando ele. - Seja feliz com macho e boa sorte, e não surte igual a porra da Miriã! - Marcola disse e eu assenti.
Ele voltou pro lugar dele junto da tia Miriã. Curió veio todo sem jeito. Ele me rodou e me pegou pra dançar forró enquanto tocava funk.
— Cadê o calipso pra gente jogar cabelo? - Curió disse.
Eu neguei rindo e ele beijou meu rosto.
Ele me abraçou.
— Tamo contigo tá ouvindo? Tu fez certo mermo, se um dia eu te critiquei, eu não to lembrado. - Curió disse e eu ri.
Ele saiu e eu fiquei ali. Começou a vir gente falar comigo.
****
Aproveitei demais. Eu dançava demais com as meninas, meu pai não tinha vindo falar comigo. Minha mãe tava já bêbada, pagou calcinha legal.
Sem babado algum.
Eu resolvi sentar um pouco, e logo eu vi meu pai me encarando. Ele se levantou e veio até a mim. Eu já preparei meu psicológico com o que eu iria ouvir dele.
Eu sabia que não era coisa boa. Ele simplesmente pegou na minha mão e me levou pro meio da pista. Ele pegou o microfone e ligou.
— Aê rapá. - Meu pai disse. - Queria tá agradecendo quem tá comparecendo no aniversário da minha FILHA. - Ele disse fazendo ênfase no filha.
Eu abaixei a cabeça sentindo um alívio.
— Tenho maior orgulho dela com o Benjamin sacou? Eu desejo alegria na vida dos dois, vocês corram atrás de ser quem vocês quer ser e se sente melhor, foda se a opinião da negada, ninguém paga a conta de vocês. Amo vocês! - Meu pai disse.
Eu deixou o microfone de lado e eu abracei ele.
— Você me aceita mesmo assim pai? - Perguntei.
A música tinha voltado.
— Te aceito do jeito que tu é, pra mim não mudou nada, agora o que muda é que eu tenho que tá de olho, essa fase é de namorinho pô, tenho ciúmes. Eu amo tu Dagmar, tu sendo do jeito que tu é. - Meu pai disse beijando minha cabeça.
Foi ai que eu vi que em volta de mim só tinha pessoas que queriam minha felicidade. Agora em diante eu iria ser eu. E eu não to nem ai pro que iriam achar e pensar de mim, o que importava era minha família, eles aceitaram e estavam comigo, então fogo nos preconceituosos.
Não dou meu cu pra eles cheirarem.
****
Ellen
A gente chegou do aniversário, eu estava podre. Eu me sentei pra tirar o cílios, e eu fiquei pensando por que eu só não tinha passado um batomzinho.
— Tu sabia disso faz tempo? - Orelha falou.
Eu encarei ele enquanto limpava o rosto.
— Sabia desde quando ela era pequena. Mas ela só quis se revelar agora. Ela tinha medo, além da sociedade, de você, do que você iria pensar. Você é traficante, ter um filho trans pra ela, você iria pensar que seria o cumulo. Que seria uma vergonha. - Falei.
Orelha negou e sentou na cama.
— Eu prefiro que ela seja feliz assim pô. To nem ai se ela gosta de macho ou de mulher, ela que tem que se sentir bem. Eu vou tá sempre dando força, é bagulho foda Ellen, é muito preconceito tá ligado? Ninguém tem direito de discriminar ela não, mas eu vou tá com ela, seja por certo ou errado, seja matando alguém que tá de preconceito ou não, não deixo de amar não! - Orelha disse.
— Eu fico feliz com esse teu pensamento! - Falei suspirando.
Realmente era bom isso. Orelha sempre foi tranquilo, mas eu ainda ficava meio assim, e se por conta disso ele virasse e não quisesse, ou tratasse Dagmar mal.
— Pelo menos agora da mim dançar quadradinho com ele no baile. Vai ser sucesso! - Orelha disse e eu ri.
• aperta na estrelinha •
Últimos capítulos...
Seja quem você quer ser, não deixem que apaguem a tua luz! 🏳️🌈
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Amor atrás das grades
Teen FictionEra apenas uma visita que Miriã iria fazer para seu irmão, já que ele tinha acabado de ser transferido para o penitenciária no Rio de Janeiro. Mas não foi oque o destino quis que acontecesse...