Ellen
— Leva o Benjamin, esse menino tá me fazendo surtar já! - Falei entregando pra Orelha que me olhava sem entender.
Ele pegou e eu Bufei.
— O que o moleque fez? - Orelha perguntou.
— O que ele fez? Eu carreguei ele por meses pra ele vir falar PAPA? Ah vá a merda Orelha, toda vez eu ensino a falar Mãmã, e ele diz o imbecil do pai! - Falei dando de costas e indo me trocar.
Eu precisava ir na escola. Dagmar tava sofrendo bullying pelo nome. E nem foi ele que chegou em mim e disse, fiquei sabendo pela Cecília.
Eu coloquei qualquer roupa e amarrei meu cabelo em um coque.
— Aonde tu vai? - Orelha perguntou.
— Vou ir resolver o negócio do Dagmar. Ninguém mexe com filho meu não, eu em! - Falei.
Orelha não disse nada. Me seguiu quieto enquanto eu estava horrorizada de como podia ter criança fazendo bullying.
Eu cheguei na escolinha e a diretora estava lá, com a cara de sonsa.
Eu guiei pra sala dela e me sentei pegando Benjamin. Orelha sentou do meu lado e ficou com aquela cara de tédio dele.
— Então mãe, a senhora me disse que o Dagmar está sofrendo bullying? - A diretora perguntou.
— Tá sim. Negócio é o seguinte, eu não mando filho meu ir pra escola pra tirarem onda com a cara dele. Que história é essa? Devia chamar a mãe desses demoninhos que falam mal de filho meu! - Falei de cara fechada.
Dagmar não nasceu de mim. Mas é como se tivesse. Desde o primeiro momento eu tratei como se fosse meu.
— Não mãe, eu entendo, isso a gente tem que tomar providências! - A diretora disse.
— E logo! Tá achando que é festa agora? Que bagulho deselegante, Tamo até pensando em levar pro carinha lá que cuida da vida dos outros. Por que as negada que era pra tá de olho aqui, não tá! - Orelha disse.
Carinha que cuida da vida dos outros... Vulgo Psicólogo.
— Eu entendo. Isso não vai acontecer vamos chamar os responsáveis das crianças. Aliás, vamos chamar Dagmar aqui pra ele nos dizer os nomes! - A diretora disse se levantando.
Ela saiu da sala e eu tirei meu peito pra dar pro Benjamin.
— Que peitão em, Benjamin é sortudo! - Orelha disse.
Eu dei um tapa nele e ele riu.
Logo entra a songa da diretora e Dagmar.
— Oi Amorzinho de mami! - Falei mandando um beijo e ele lançou um beijo.
Mãe sabe das coisas né? Não sei, eu tenho algumas intuições e pensamentos sobre ele, mas eu não comento com ninguém, só com a Miriã mesmo!
— Tem como você dizer quem é as pessoas que fazem bullying? - A diretora perguntou.
Dagmar ficou em silêncio e abaixou a cabeça.
Orelha deu uns leves tapinhas na costa dele e ele levantou o rosto, com os olhos cheio de lágrimas.
— Todos. Não tem ninguém que não machuque meu coração. Ninguém gosta de mim por eu ser menino e ter esse nome! - Dagmar disse em prantos.
Aquilo doeu em mim, Orelha na mesma hora abraçou ele e falou algo no ouvido dele que ele logo sorriu.
*****
Eu voltei pra casa, Orelha foi trabalhar e eu coloquei Benjamin pra dormir. Dagmar ficou em silêncio todo momento. Ele foi pro quarto e eu fui terminar de passar pano no chão. Coloquei uma musiquinha e comecei a dançar enquanto eu passava o pano.
Advinha a música...
Terminei de passar e fiz um lanchinho. Coloquei na mesa e fui até o Dagmar. Ele tava de costas eu fiquei encarando ele na porta.
Eu encarei o chão e o carrinho dele estava todo quebrado, enquanto a boneca que estava lá em casa que Cecília tinha trazido, ele estava cuidando com o maior amor.
Eu entrei e abracei ele por trás.
Ele tomou um susto e jogou a boneca pra longe.
— O que foi? - Perguntei.
— Mãe, por que menino não pode brincar de boneca? - Dagmar perguntou.
— E quem disse que não pode? É ruim o povo opinar o que eu posso ou não. Você tem que brincar do que você quiser, não existe isso de brincadeira de menino ou de menina. - Falei.
Ele negou logo com a cabeça.
— E por que eu só posso usar azul e não rosa? - Ele perguntou.
— Você pode usar a cor que for. A sociedade exige isso, mas você pode usar, azul, rosa, amarelo, vermelho... A cor que você quiser, ninguém tem nada haver! - Falei.
— E por que eu me visto de menino e não de menina? Eu queria ter cabelo grande igual a Ceci, queria pintar minhas unhas e passar batom também mamãe! - Dagmar disse na inocência.
Eu sabia. Mas não imaginei que com CINCO anos ele já ia falar sobre isso.
Eu não tenho medo do que vão falar e nem pensar. Mas eu tenho medo do que ele vai sofrer, as pessoas são tão maldosas. O mundo é cheio de pessoas preconceituosa, o olhar das pessoas já doem imagine uma palavra.
— Você pode ser o que você quiser meu bem, tanto que você sempre faça o bem as pessoas e seja uma pessoa que jamais pise em ninguém. - Falei dando um beijo em sua testa e abracei ele forte.
• aperta na estrelinha •
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Amor atrás das grades
Teen FictionEra apenas uma visita que Miriã iria fazer para seu irmão, já que ele tinha acabado de ser transferido para o penitenciária no Rio de Janeiro. Mas não foi oque o destino quis que acontecesse...