• capitulo 63 •

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Miriã

3 horas de invasão. De bomba e tiro. Eu estava no chão do banheiro agarrada com Cecília. Ela chorava baixinho com medo. Ellen estava dentro do box comendo o quarto sanduíche.

Eu rezava que tudo aquilo acabasse na boa. Se tava invasão, é por que a rebelião no presídio tinha dado certo, e se tinha dado certo, podia ter várias possibilidades.

Marcola morto, ou vivo.

— Curió tá me ligando! - Ellen disse atendendo.

Eu acariciava Cecília que soluçava de tanto chorar.

— Fala Curió? Fala logo, alto e rápido em! - Ellen disse parando de comer.

Ela colocou no viva voz.

— Juninho e a bope tá aqui. As negada de Sampa também colou pra cá ajudar Juninho! - Curió disse rindo. - Ele quer a Miriã! - Ele disse alto.

Cecília me encarou e me agarrou mais forte. Eu abracei ela e suspirei.

— Ele não tem direito de querer nada. Querer não é poder! - Ellen disse. - E cadê Orelha? - Ela perguntou.

— Foi atrás de Marcola. Tem vapor rodeando aê, fica tranquila, qualquer b.o liga pô. Fé! - Curió disse e desligou.

Ellen colocou o celular no chão e suspirou.

— Eu vou pegar uma faca. Se entrarem aqui, eu meto facada! - Ellen disse se levantando na maior dificuldade e indo pra cozinha.

Ela foi e voltou com umas duas facas.

— Ellen, pelo amor ninguém entra aqui, tem vapor! - Falei.

— Ata, e você confia? Qualquer peidinho que derem perto deles, eles é o primeiro que voa longe! - Ellen disse se sentando perto da gente.

*****

Eu estava cansada já. Minhas costas doía. Não sei como, mas Cecília dormiu. Orelha do nada apareceu.

Quase foi esfaqueado pela Ellen que foi com tudo com a faca.

Ele só veio avisar que Marcola tinha chegado lá. E que tinha piorado. Tava chegando cada vez mais gente, tanto do Rio pra fortalecer o Marcola, como os povos de São Paulo.

Alguém avisa que aqui no Rio é bem mais forte?

Porra, morei a vida toda em Sampa, sei bem como é, e morando aqui no Rio, vi que o sistema é mais foda.

Ficamos ali conversando. Eu estava morta de medo. Aquilo era diferente de qualquer invasão. Aquilo ali era guerra, aquilo era acerto de contas, de ambas as partes.

Eu tremia, eu conversava com a Ellen, mas minha cabeça tava lá em tudo. O celular de Ellen tocou novamente, ela atendeu e colocou direto no viva voz.

— Opa! - Ouvi a voz de Orelha. - A bope vazou, Juninho quer falar com a Miriã. Vai um vapor ai te buscar! - Orelha disse e desligou.

— Ah você não vai mesmo. - Ellen disse.

Eu fechei os olhos e continuava aquele tiroteio.

— Eu vou! - Falei dando Cecília pra ela e me levantei pegando a faca.

— Cala boca menina, não aguenta nem com um assopro e quer ir lá. Toma um tiro e depois quem fica no sofrimento é eu otária! - Ellen disse de cara fechada.

Eu abaixei até ela e acariciei.

— Eu vou voltar. Eu só quero falar algumas coisas pro Juninho. Eu volto. Cuida da Cecília! - Falei beijando a testa das duas.

Eu me levantei e sai daquele banheiro.

• aperta na estrelinha •

Amor atrás das gradesOnde histórias criam vida. Descubra agora