She's back

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A paisagem a fez lembrar, lembrar de tudo que ela viveu naquela cidade. Foi onde ela foi destruída, reduzida a meros pedaços e, também, foi onde ela foi reconstruída. Ela teve seus pedaços catados com carinho, com simples e pequenos gestos que a fez se sentir com valor novamente. A ajudou a se reeguer, voltar a ser quem ela era, pelo menos até ela se deixar ser destruída de novo. Ela não tinha força o suficiente, ainda lhe faltavam alguns pedaços na época, ela não aguentou só se quebrou novamente. Mas contudo ela não saberia dizer se seria forte o suficiente agora, para não se deixar quebrar diante de uma situação como aquela, não se deixar ser levada pelo ralo feito qualquer sujeira descartável e indesejável para o esgoto que seria o seu inferno pessoal. Inferno, que uso adequado da palavra. De nenhum modo aquilo era uma uma metáfora, uma figura de linguagem, um exagero. Ela viveu aquilo. O inferno foi a sua vida por muito tempo. Ainda a chocava que ela sobreviveu aquilo, a ele. Um calafrio subiu pela sua espinha ao lembrar-se dele, assim como uma náusea crepitou em suas entranhas. Ela se limitou a sacudir tais lembranças de sua mente antes que elas pudessem se impregnar e acabar arruinando seu dia e sua viagem. Tem coisas boas sobre essa cidade, ela pensou. Ela tinha lembranças boas também, mas como toda coisa boa em sua vida, tais lembranças tinham um final dolorido. Mas eram doces lembranças, ela tinha que admitir. E como se tivessem querendo enfatizar seus últimos pensamentos, o carro passou por uma árvore com algumas cordas velhas e desgastadas, um pneu que um dia foi um balanço improvisado estava pendurado nas cordas, frouxo querendo cair ao chão.

Com toda certeza ela tinha memórias doces e felizes ligadas a essa cidade, ela pensou. Porém, eram lembranças demais que traziam sentimentos demais, ela mal havia entrado na cidade e já estava transbordando com sentimentos de todos os tipos. Fugiu de sua cabeça o motivo de ter sequer cogitado aceitar passar por esse turbilhão que ela tinha em seu peito no momento. O cantarolar ao seu lado a lembrou de tal esquecido motivo. Ela se virou para o seu companheiro. Era um bom motivo, ela admitiu com um sorriso no rosto.

Sua mente voltou para quando tudo isso havia começado.

- Eu recebi uma proposta de trabalho. Em que eu posso ficar aqui no país com você. - Ele começou, a pegando de surpresa. Mas logo a felicidade tomou conta de seu rosto.

- Isso é ótimo! Então, você não vai ir embora na próxima semana? - Perguntou ela, esperançosa.

- Não, eu não vou ir mais. Eu quero procurar um trabalho aqui de qualquer forma. - Ela sorriu largo. - Só tem um porém sobre esse trabalho. - ela assentiu, esperando que ele continuasse. Mas ele não disse nada, sua expressão mudou, o que a deixou nervosa.

- Diz logo. Você vai me matar com esse suspense.

- Nós teríamos que nos mudar para Greendale. - O rosto dela murchou. - Eu seria chefe da pediatria. - Ele continuou, mas ela quase não o escutava mais, sua voz foi ficando cada vez mais baixa até se extinguir totalmente. Tudo o que ela passou naquela cidade veio a sua cabeça, o que a tirou de lá e quem encontraria lá.... Ela estaria pronta para enfrentar seu passado cara a cara?

- Eu já falei com a sua irmã e ela tem um trabalho para você lá. - Lhe disse, animado. - Mas, é claro, se você não quiser ir... eu vou entender. Eu posso arrumar outro emprego.

- Eu posso pensar? - perguntou e apesar de saber que ele nunca a machucaria, ela não conseguiu evitar de ficar nervosa. Ele sorriu e caminhou em sua direção.

- Mas é claro, meu amor. - sorriu aliviada, soltando o ar que tinha prendido. - E eu falo sério. Se você decidir que não quer ir, eu vou entender. Sua felicidade é a coisa mais importante para mim, você sabe disso, certo?

Hole in my soul Onde histórias criam vida. Descubra agora