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4 anos depois...

Renato

Meu alvará tava pra cantar, porra! Maior felicidade, papo retão mesmo. Não me disseram que dia, nem quando, mas eu sabia que estava bem próximo, o doutô me deu o papo reto.

Só meu pai que sabia e eu pedi pra não falar nem nada pra Joyce se não ela faria maior barulho, já conheço po e eu queria bolar uma surpresa pra minha preta!

Doidona do jeito que ela é se eu dissesse seria bem capaz de nem dormir mais... Assim como eu conto os dias, sei que ela conta as noites.

Tava quieto, feliz por dentro e ao mesmo tempo confuso com o que eu iria encontrar lá fora! Eu já tinha perdido a noção do tempo faz uma cota.

Coé, foram oito anos aqui dentro, uma vida po... Uma vida! Uma vida preso pagando por algo que tu não cometeu. Uma vida preso injustamente!

Uma vida sendo privado, humilhado e sofrendo injustamente... Mas Deus foi forte na minha vida, presente pra caralho... Pois foram inúmeras as vezes que pensei em cessar minha vida, acabar com esse sofrimento de uma vez.

Mas agora tá chegando ao fim... Liberdade tá vindo e nunca mais eu volto pra esse buraco! Quero distância, tá repreendido isso aqui! Nem bicho merece esse lixão.

Renato: Pega 200 e paga 500.

XXX: Coé, Renatinho? - me encarou e eu permaneci firme. - Colé, Lekinho? Que porra é essa? Eu vou pagar mais que o dobro?

Lekinho: Meu mano já disse como funciona o esquema.

XXX: Isso é injusto po, tá maluco?

Lekinho: Maluco tá tu po, injusto é isso aqui que nós vivemos po. Se tu quer viver, pega... Se não quiser arranje a merda da grana que tu precisa de outra forma, rapá! Mete o pé... - o cara nos encarou receoso.

XXX: Vou querer po... Vou querer! - Pôs o sinal do Lekinho peguei o dinheiro, contei e o entreguei.

Renato: Tu tem 20 dias pra devolver!

XXX: Coé, cara... Só isso?

Renato: Tá achando pouco? - ele assentiu. - Então agora são 15 dias. - Lekinho me encarou.

Lekinho: Agora rala ! - o cara saiu e ele me encarou rindo.

Renago: Qual foi? - encarei ele de volta.

Lekinho: Tu é foda, porra! O cara reclama do tempo e tu diminui po... Sujeito ruim pra caralho tú! - dei risada. - Sacanagem.

Renato: Ah... Não fode! disse rindo.

Esse tempo aqui aprendi muita coisa... Ouvi muita coisa e entendi muito mais. Tive que me adequar, achei espaço, confiança e entrei no jogo seja pro bem ou pro mal.

Foi uma forma de sobrevivência no início, passatempo pôs isso, mas depois peguei apreço pelo respeito e de certa forma poder que adquirir.

Lekinho: Tu já pensou no que eu te ofereci lá fora? - neguei.

Renato: Não. - fui sincero.

Lekinho: Pensa bem... - neguei.

Renato: Ki... To fora, mano! Sair daqui to fora disso, aqui dentro é maneiro... mas lá fora quero curtir minha liberdade, recuperar o tempo que eu perdi de volta junto da minha mina, quer dizer, ao menos tentar... - ele riu.

Lekinho: Também pensei assim na primeira vez que estive aqui e sai, mas não demorei nem três meses voltei, sabe porque? - neguei.

Renato: Colé?

Lekinho: Nós, ex presidiários tem oportunidade não pô! Uma vez ficha suja, ficha suja sempre será, irmão. A sociedade te exclui meu parceiro, a mídia te empurra e o crime te abraça! O crime te abraça e lá não importa se tu já puxou cadeia ou não... Lá todo mundo é igual, tá todo mundo na mesma merda e tem o mesmo inimigo que é o filha da puta do estado. Sai a primeira, segunda e hoje estou aqui pra tentar sair pela terceira e sabe lá Deus se voltarei pela quarta vez. - riu. - Mas quando tu entra uma vez é difícil não voltar! - balancei a cabeça em negativa.

FICHA SUJA (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora