Renato:Já chega né, cara? - falei puto.
Joyce: Ainda não tirei como eu quero! Espera. - disse rindo.
Renato:Não tirou o que, mano? Tu já bateu mais de 1000 fotos, Joyce! Bora, tá tarde já. - dei logo essa desculpa.
Joyce: Aff! - saiu na frente.
Renato: Segura a tua sacola pelo menos! To cheio de coisa ô. - mostrei.
Em um braço levava o cooler e no outro a sacola da madame que tava tirando varias selfies. Maluquice mano, fico puto.
Garota tira mais de 1000 fotos e no final nem posta nenhuma, fala que não prestou. Doida demais, muito aleatória!
Na entrada da favela tava rolando batida, meu pai já tinha ligado avisando e perguntando se eu tava com documentos na mão.
Mas se tem uma coisa que eu não ando sem, é sem documentos po. Dou nem ousadia pra levar esculacho deles por besteira... Ando sempre em dias, mesmo sabendo que até assim eles procuram graça contigo!
Renato: Segura aqui, Joyce! - dei o cooler pra Joyce quando eles fizeram sinal pra encostar.
XXX: Tá passando o que pra ela? Tá escondendo o que aí dentro, porra? - um dos policiais já veio na nossa reta.
Renato: Nada... Não to com nada não, senhor. Aqui só tem bebida... - parei na mesma hora.
Nem me respondeu, ou olhou pra nossa cara, só pegou o cooler na mão da Joyce na maior grosseria, e abriu jogando tudo chão.
Tinha só três latinhas ali e uma marmita com o que sobrou da larica que ele abriu remexendo e depois jogou tudo no chão.
Ao constatar que realmente não tinha nada demais, tacou minhas coisas longe e deu com a mão apontando pra eu me encostar na parede. Fui tranquilo, mas já com ranço.
Ranço mesmo po, nem é ódio... Ódio eu acho uma parada muito forte pra falar que se tem, mas ranço... Ranço eu tenho sim!
Pra quem cresce sendo esculachado a troco de nada, humilhado e taxado apenas por ser preto, pobre e morador de favela o sentimento que gera na menor das hipóteses é esse mesmo.
Porquê na pior... Na pior o sentimento que rola, gera e traz um puta resultado geral já sabe qual é e tem muito a ver com isso... Com o tratamento que se leva e a visão que se carrega.
Ele me revistou na maior brutalidade, só de bicuda com coturno pra eu abrir mais as pernas coisa que já era impossível . Respirava fundo só pedindo pra sair logo!
Isso é humilhação demais, na moral. Mesmo vendo e sabendo que não temos nada, que somos apenas moradores a polícia esculacha sem pena, pega pra humilhar a troco de nada.
Joyce: Não fica bolado com isso não! - disse quando já estávamos chegando na casa dela.
Renato: To tranquilo, mas que da raiva dá...
Joyce: Esquece! Abstrai. - segurou meu braço. - Hoje vamos comemorar! - sorriu e eu sorri sacana de volta entendendo. Noite é longa, amanhã a maioridade chega! Dezoitão na cabeça.
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Narrativa generale+18 | 1/2 | Eles querem um preto com arma pra cima! ✊🏿 +18 | LIVRO COMPLETO DISPONÍVEL PARA ASSINATURA.