"Tu és a mulher A única mulher Em ti, eu encontrei O amor que eu procurei A paixão que eu nunca achei Meu bem, por ti eu esperei Porque tu és a mulher És a perfeita mulher"
- Tu És A Mulher C4 Pedro
Maandag, 5 august 2019
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Começo a remexer sobre a cama hospitalar. Sinto um pouco de desconforto. Abro os olhos lentamente, e constato que estou num quarto, o que leva a crer que a cirurgia terminou há algumas horas.
Não encontro ninguém no local. Estava tão acostumado a acordar, e ver a Heidi, mas deduzo que a mesma está num outro quarto, a recuperar-se. A sua recuperação, é mais rápida do que a minha. Em menos de uma semana, já pode estar em ativa, já eu, em torno de um ano. Após um transplante de medula óssea, o médico faz todas as recomendações, como qualquer outra pós-cirurgia.
Posso ter um bom tempo sem praticar ou fazer qualquer coisa que normalmente faço, mas, o essencial é que, irei recuperar, após receber a medula óssea da Heidi. Agora tenho uma parte dela em mim. Sorrio. Esta menina mulher, é mais do que uma pessoa altruísta. Como não apaixonar por ela? Fez o que poucas pessoas fariam. Cuidou de mim. Motivo o bastante para ver o quanto se importa comigo, que me ama.
Minha mãe entra no quarto, com uma máscara cirúrgica. Coloca o álcool e gel nas mãos, antes de aproximar-me. É preciso ter muito cuidado com uma pessoa que está no pós-TMO (Transplante de Medula Óssea). Somos muitos vulneráveis a infecções. Temos que estar presentes no mesmo recinto com poucas pessoas, e estas pessoas têm de estar protegidas. Devemos evitar aglomerações, e locais públicos. São muitas restrições que tenho que seguir, ao longo deste um ano.
A Sra. Janasenta na poltrona um pouco mais afastada. Sabia porque ela veio sozinha.
- Eu queria tanto poder estar mais perto de ti filho, abraçar-te. - fica emocionada.
- Mãe, não precisa chorar. Eu vou ficar bem.
Conversamos muito na sexta, no dia que nos encontramos. Descobri que acabaram por saber por onde estava porque, o meu irmão e a minha cunhada, vieram para Munique, passar pouco tempo. A mesma estava grávida, e acabou por ter um parto prematuro de 8 meses, neste mesmo hospital em que eu estou internado. Sven, ao deslocar no corredor, ouviu o médico a falar o meu nome, para um cirurgião, e acabou por saber de tudo, ao aproximar e procurar mais acerca. Foi um baque para ele saber que estava leucêmico. Contactou logo os nossos pais e nossa irmã, que vieram de Berlim, sem perderem mais tempo.
Eu pude ver que eles sofreram com a minha distância, como eu também sofri, e pior é que, causou uma dor. Uma forte dor. Nunca antes tinha visto a minha família daquela forma, por baixo, arrasados. E foi culpa minha. Eu poderia ter permanecido por lá, e acabaria que o meu pai iria aceitar a minha decisão. Mas com o infarto, não pensei muito.
Foi um momento de perdões, e ninguém pensava na minha fuga, apenas na doença que tenho. Meus irmãoslogo quiseram ser doadores, mas, impedi-os, porque algo dentro de mim já dizia que de um dos quatro, iria ser compatível. E foi.
Se talvez eu não tivesse fugido, sim, estaria como cirurgião, só que poderia não ser aqui em Munique, o que faria com que eu não conhecesse a Heidi. A vida poderia ter um outro rumo. Talvez estaria casado, com filhos...
Faltam apenas 5 anos para eu fazer meus 40 anos, e apenas a minha vida profissional, dei mais importância. De qualquer forma, não será tarde para eu ainda ter uma família. A diferença de idade, não importa.
- A Heidi está bem?
- Sim, ela está. Encontra-se desperta, só que o médico preferiu melhor ela não vir te visitar. Aceitou, devido a tua saúde. Prometi que logo que eu saia daqui, irei informá-la o teu estado. Ela preocupa-se muito contigo.
- Eu também preocupo-me.
- Esta menina faz-te tão bem! Vocês possuem alguma relação?
- Amorosa, não. Somos amigos.
- É bem estranho ver-vos juntos, e pensar que não são um casal. Mas mesmo que não possuem um relacionamento, sei que há algo entre vocês. O vosso olhar entre si...
- E há. Mas eu acho que não sou o suficiente. Sou uma pessoa fechada, consegui abrir para ela. Ela não merece estar com uma pessoa doente como eu. Merece uma pessoa saudável, que a fará sentir melhor.
- Hannes, pelo amor de Deus, não diga isto. Eu estive com a Heidi antes de vir aqui, e pude conversar com ela melhor. Uma pessoa que desde o momento que soube que estavas com um cancro, esteve contigo em todas as sessões de quimioterapia, ajudou-te nos momentos que estavas a sentir mal devido às doses fortes, logo fez os exames para saber se é compatível, juntamente com os amigos, ficou aqui contigo no hospital, prova o amor que ela tem. Fez tudo isto para te ver bem. E tu consegues a fazer sentir melhor. Não tente dizer isto, porque a fará sentir péssima. Não podes encontrar um pretexto para tentar a deixar longe. Heidi quer estar ao teu lado, por todos estes dias que irás passar numa recuperação. O tempo com a pessoa que amas, torna tudo mais leve, mais suportável. Eu nunca disse nem ti nem aos teus irmãos, mas, o vosso pai também esteve leucêmico, foram dois anos antes de tu nasceres. Eram dias que acordava, e queria morrer, não passar por tudo, e eu estava lá, a passar-lhe forças. Dizia que lutou contra a doença, por causa de mim. Foram momentos difíceis para nós dois, só que, estávamos juntos, a enfrentar tudo, e hoje, ele é uma pessoa saudável.
- Eu nunca suspeitei disto.
- Preferimos manter em sigilo, e agora, estás a passar pelo mesmo, e decidi contar. Só quero que saibas que, nunca estarás sozinho, e principalmente porque a Heidi existe na tua vida, e não podes querer privá-la. A doença é uma má fase que passamos e, fez com que vocês ficassem próximos. Não faças nada que os afastem. E conselho de mãe é para se ouvir.
Reflito no que ela disse. Não tenho dúvidas que a Heidi ainda continuaria a permanecer próxima, até a minha total recuperação. Talvez eu deveria dar uma chance para ela, para nós.
