5 • A chave da coragem

2.4K 282 144
                                    

Maddie! Alguém gritou de longe.

Aterrorizada, eu corri, mas meus pés estavam afundando em água gelada e escura. Paredes se fechavam ao meu redor e o som ensurdecedor de água caindo e relógios trabalhando me fez tombar no chão, tapando os ouvidos. Eu estava num vão terrível, sem saída e sendo inundado. A única porta do lugar estava trancada e por mais que tivesse tentado por tudo no mundo abri-la, não conseguia.

Precisa da chave, uma voz rouca e fantasmagórica dizia.

Sem saída e em pânico, eu caí ajoelhada no chão com as mãos nos ouvidos. Eu chorava, sentindo o nível da água subir e começar a me submergir. Madelyn! Continuavam a me chamar, mas eu não conseguia responder; minha voz estava presa na garganta. Madelyn Rose Brown! Gritaram uma última vez antes que a água me engolisse por completo.

Então, eu abri os olhos.

Ofegante, olhei ao redor. Estava no meu quarto seco e iluminado pelo brilho do sol da manhã. Tudo havia sido apenas um pesadelo. Os lençóis estavam todos bagunçados ao meu redor, eu estava suada e minha cabeça martelava. Nem sequer lembrava como havia ido parar na cama e minhas lembranças embriagadas me diziam que havia dormido no sofá com Gregory.

Ah, sim, Greg! Pensei. Ele com certeza havia me levado para o quarto. Passando a mão na testa úmida, algumas coisas me vieram à mente: meu amigo tentando me acordar no sofá e falhando, borrões dele me carregando no colo pelas escadas e meus resmungos quando ele me deixou no colchão e me cobriu com os lençóis.

— Madelyn Rose! — A voz de mamãe reverberou, me tirando dos meus devaneios. Ela estava de pé ao lado da cama, as mãos na cintura e o rosto zangado. — O que aconteceu com você? Vai se atrasar para a escola!

Eu precisei de um segundo inteiro para assimilar o que mamãe dizia, mas meus olhos logo se arregalaram quando passaram pelo despertador: eu tinha meia hora até minha primeira aula.

Eu dei um pulo da cama direto para o banheiro, passando por minha mãe ligeira como uma flecha. Podia escutar os passos dela se afastando para o andar de baixo junto aos seus resmungos, mas ignorei tudo enquanto entrava de cabeça no chuveiro frio, escovava os dentes, penteava mal o cabelo. Tudo não durou mais que dez minutos. Eu me enfiei num jeans e na primeira blusa que minhas mãos alcançaram, fazendo o tecido azul deslizar pelo meu corpo. Agarrando uma jaqueta e a mochila no caminho, desci as escadas em saltinhos e cruzei a sala.

— Mãe, estou indo! — gritei, me apressando em direção à porta.

— Para onde pensa que vai assim? — A voz zangada dela ecoou, me fazendo parar com a mão na maçaneta. 

Quando virei para ver minha mãe, ela estava encostada no batente da entrada da cozinha, me observando com os braços cruzados no peito e uma maçã na mão.

— Mamãe, eu juro que eu explico tudo quando voltar, mas agora...

— Bebeu ontem? — Ela me interrompeu bruscamente.

Não podendo negar, eu suspirei fundo e assenti.

— É, eu sabia. Segundo relatos, você chegou perto das oito com o Greg, evidentemente embriagada. — Ela resmungou, vindo até mim. — E pelo que lembro, você me prometeu que não ia beber ontem — relembrou com olhos repreensivos.

Eu inspirei fundo novamente, encarando a porta. Não tinha nenhuma desculpa.

— Relatos de quem? — Me limitei a indagar baixinho, mesmo que já soubesse bem a resposta: aquilo era coisa dos vizinhos da frente.

— Não importa. — Ela apenas respondeu. — Sabe que não me importo que beba um pouco, Maddie, mas não faça mais isso quando for ficar sozinha em casa. Eu sei que provavelmente Greg ficou aqui com você por um tempo, mas ainda assim, não faça mais isso — mandou expressamente. Eu aquiesci com a cabeça e abri a boca para falar, porém, outra vez mamãe me interrompeu e disse: — Não, está atrasada! Tome. — E estendeu a maçã para mim, gesticulando em direção à saída.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora