25 • Azul e dourado

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Cada ranger dos degraus de madeira para o quarto de Greg compunha a trilha sonora do meu nervosismo. Ele seguiu na minha frente, largando sua pequena bagagem de mão aos pés da cama assim que entrou no cômodo e acendeu as luzes. Cansado, ele caiu de costas no colchão, esparramando-se nos lençóis com uma risada divertida, de sapatos e tudo. Eu o observei da porta por um instante, mas logo me aproximei, segurando seus tornozelos e balançando-os.

— Os sapatos... na cama... de novo. — Eu reclamei, o vendo sorrir mais e revirar os olhos enquanto sentava e começava a tirar os tênis escuros.

— Dá para entender por que mamãe te ama tanto. — Ele resmungou, jogando os sapatos e suas meias aos pés da cama.

Greg tirou também a jaqueta jeans, ficando em sua camisa e calças pretas. As roupas escuras caiam perfeitamente bem no corpo dele, parecendo o deixar ainda mais alto e forte e ajustando-se aos contornos que agora eu observava com mais atenção. Tão, tão bonito.

Gregory voltou a deitar, mas dessa vez, se aconchegou mais para um lado, deixando um espaço para mim na cama de casal. Eu abandonei minhas sandálias no chão e tomei prontamente meu canto no colchão fofo, sentando de tornozelos cruzados na sua frente. Ele tinha os braços atrás da cabeça, deitado muito confortavelmente e exibindo seu sorriso ladino.

— Então, você vai me contar o que andou aprontando ou é um segredo? — Ele indagou, piscando para mim.

— Primeiro você — desconversei, remexendo para me ajeitar na cama. — Me conta sobre o Nathan — pedi, cheia de expectativa.

— Ele está bem, apesar da perna quebrada. — Greg começou, seu sorriso esmorecendo um pouco. — Mas esse foi seu único ferimento grave e ele está muito, muito feliz por estar vivo. Deve receber alta nos próximos dias, se tudo continuar bem. — Seus olhos brilharam de felicidade.

— Ai, estou tão feliz! — exclamei, empolgada, bagunçando o cabelo de Greg. Ele riu, fechando os olhos com o carinho. — Ele falou sobre o acidente? — perguntei baixinho, o vendo abrir os olhos e se virar mais para mim.

— Não muito. — Sua voz tomou uma entonação muito menos entusiasmada do que antes. — Ele só lembra de estar dirigindo até que viu o clarão de um farol alto e escutou um barulho forte. Nada mais depois disso.

Eu assenti como quem entendia, resolvendo por não mencionar mais o acidente. Greg estava animado demais para precisar falar daquilo.

— Mas e você? Acho que já te disse que não é boa em esconder o que está sentindo. — Ele sugeriu, quebrando o curto segundo de silêncio e sorrindo. — E definitivamente está tentando esconder algo agora.

— Argh! Só você acha isso — resmunguei.

— Talvez porque eu te conheço como ninguém? — Ele insinuou, jocoso.

Eu podia dizer a Greg que ele era convencido ou descarado demais, como sempre fazia, mas ao invés disso, deixei que um sorriso bobo e quase apaixonado aparecesse no meu rosto. Estava completamente desarmada e entregue, jamais podendo negá-lo a verdade.

— É, talvez — concordei, atacada pela ansiedade outra vez.

Eu levantei rapidamente da cama, andando de um lado para o outro no cômodo e observando a fresta de luz que entrava pela janela e pintava de claro o carpete cinzento do quarto. Gregory estreitou os olhos em mim, estranhando e se arrastando pelo colchão até que estivesse sentado na beirada da cama, os pés no chão. Inclinando-se e repousando os cotovelos nos joelhos, ele me encarou, os olhos presos no meu vaivém nervoso.

— Está bem, o que aconteceu? — Ele perguntou, desta vez sério e preocupado.

Sem conseguir olhá-lo diretamente ou parar de deambular, eu cruzei os braços no peito, respirando fundo.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora