Meus pés estavam doloridos e exaustos quando cheguei ao píer. Depois do longo caminho até a praia, eu cambaleei pela passarela de madeira com olhos nublados por uma tristeza tão grande que não cabia em mim. Não queria voltar para casa e ver o rosto de Josh novamente. Talvez ele tivesse pensado que se voltasse onze anos depois como um cavaleiro brilhante num cavalo branco, cheio de histórias de arrependimento, eu abrisse os braços e o acolhesse. Tão, tão errado. Eu nem sequer havia recebido um pedido de desculpas — ao invés disso, ele somente me estapeara com o que eu mais odiava: nossa cruel semelhança.
Desolada, eu caminhei até a beirada do píer, encarando o mar. A água estava escura pelo negrume da noite e apenas a lua era refletida nela, pois o céu não tinha estrelas. Embaixo do piso que guardava meus pés, as marolas reverberavam nos pilares de madeira, calmas e suaves. A brisa era fria, mas eu sabia que a água estava morna àquela altura da noite.
Eu pensei sobre como pulara dali com Amy e Greg e quase pude sentir a adrenalina correndo em meu sangue outra vez. Talvez minha amiga tivesse razão quanto a aventura abrandar a tristeza, porque eu quis uma naquele momento. Observei o mar tranquilo e imaginei como seria sentir a água em meu cabelo, a sensação de serenidade. Sempre ia à praia nadar com Gregory quando estávamos cabisbaixos ou muito estressados, e a maré estava tão baixa que achei que um banho não seria uma má ideia.
Desistindo de qualquer esforço para impedir que mais lágrimas escorressem pelos meus olhos e com a mente enevoada, eu comecei a tirar meu cardigã azul, jogando-o no chão do píer. Puxei um sapato, o arrancando com força e descalçando a meia com alguma pressa. Fiz o mesmo com o outro pé e quando minha pele desnuda entrou em contato com a madeira fria, respirei fundo, sentindo o ar puro e a maresia.
Josh não me tiraria o prazer de estar na praia. Haviam poucas coisas no mundo que eu amava tanto quanto aquilo e a paz do barulho do mar encheu meus ouvidos. Recuando um passo apenas para mensurar o pulo, fechei os olhos, preparando meu corpo para encontrar a água. No entanto, antes que eu pudesse fazê-lo, uma voz ecoou alta no ambiente.
Maddie! Gritaram de longe.
Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar do mundo.
Eu virei depressa, vendo Gregory correr ao meu encontro. Ele tinha os olhos desesperados e os lábios entreabertos para respirar, me alcançando rápido. Sem dizer nada e lançando-se em volta de mim num abraço, ele me cercou com seu corpo quente e familiar, segurando-me como se não nos víssemos há muito tempo. Senti sua respiração pesada no meu cabelo, quase fazendo esvoaçar os fios próximos. Então, sem pestanejar, eu desabei em seu peito, enlaçando os braços ao redor do seu torso e enterrando o rosto no suéter preto que ele vestia.
— Meu Deus, eu te procurei feito um louco! — Ele resfolegou, aflito, acariciando meu cabelo bagunçado pelo vento.
Com o ouvido encostado ao peito de Greg, eu podia ouvir seus batimentos descompassados e o ar sendo inspirado com força. Soluçando, afastei um pouco o rosto para olhá-lo por cima dos cílios nublados, ignorando meus olhos vermelhos e minhas bochechas encharcadas.
— Como você... como você sabia? — Eu indaguei vacilante, observando ele mexer carinhosamente no meu cabelo.
— A tia Cassie me ligou. — Ele começou, me analisando inteira como se se assegurasse que estava bem e intacta. — Ela não conseguia te achar e você deixou o telefone em casa. Mas eu sabia que estaria aqui.
Eu passei as mãos nos bolsos instintivamente à procura do meu telefone, mas como Gregory havia dito, ele não estava ali. O aparelho havia ficado na mochila caída no chão da sala, onde a larguei assim que cheguei. Mamãe devia estar tão angustiada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Chaveiro de Corações
Romance🏅 | Finalista do Prêmio Wattys 2022 🏅 | Finalista do Prêmio Wattys 2021 🌟 | Eleita uma das Melhores Histórias de 2020 pelos Embaixadores do Wattpad ⭐ | Destaque de setembro/2020 do @WattpadRomanceLP O coração de Charlie Berry parece estar sempre...