11 • Desafogando fantasmas

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Amy me enviou uma mensagem por volta das oito da noite, avisando estar em casa. Depois de finalmente saber que ela estava segura, eu repousei minha cabeça inquieta no travesseiro, de tornozelos cruzados e olhando para o teto. Passei longos minutos encarando a paisagem imutável até que meu celular vibrou novamente. Eu o apanhei depressa, esperando que fosse Amy outra vez, mas dois outros nomes estampavam a tela: Gregory e Charlie. Por costume e instinto, eu abri a mensagem de Greg primeiro.

Amy chegou em casa. Ela está bem, ele escreveu. E me desculpe pelo susto no mar. Eu jamais me perdoaria se alguma coisa tivesse acontecido com você, recebi logo em seguida, as mensagens fluindo quase sem pausa. Meu coração aqueceu num sentimento seguro e comovido. Sorrindo, eu mexi os dedos velozmente pelo teclado.

Você sabe que não precisa se desculpar. Já faz dez anos que eu te buscaria em qualquer lugar do mundo. Não adianta querer se livrar de mim, escrevi, deixando uma risadinha escapar. Mas ainda espero que tenha pelo menos um pesadelo comigo te afogando hoje à noite, eu emendei, rindo sozinha novamente.

Houve uma pausa na conversa e eu podia imaginar perfeitamente o riso baixinho e contente de Gregory enquanto lia.

É exatamente por isso que eu jamais me perdoaria, ele respondeu. Espero que tenha sonhos felizes me afogando. Nós dois sabemos que você me buscaria depois.

Eu nem sequer evitei sorrir ao ler a última mensagem, visualizando a expressão desavergonhada e despreocupada de Gregory bem clara em minha mente.

Vá dormir, Greg. Você abusa demais do meu amor, escrevi por fim, fechando sua conversa para abrir a de Charlie.

As mensagens de Charlie eram de duas horas antes, mas eu estava tão apreensiva e preocupada com Amy que nem sequer lembrara de respondê-lo. Eu me virei na cama, acabando deitada de bruços, com o queixo repousado no colchão e os olhos fixos na tela brilhante do celular. Eu li as mensagens devagar e pausadamente, suspirando.

Como você está, Maddie? A primeira dizia. Penso em você sem parar desde que saímos, e sei de um lugar que acho que gostaria de conhecer. Se aceitar, eu queria te levar lá segunda-feira, depois da aula, ele sugeriu.

Eu respirei fundo, digitando uma resposta o mais rápido que podia.

É claro que aceito, logo enviei.

Alguns minutos depois, Charlie respondeu, confirmando que nos encontraríamos depois da aula, me desejando bons sonhos e dizendo estar ansioso para me ver.

Eu virei de costas para o colchão novamente, tombando mais feliz entre os lençóis, mas ainda assim, não tão entusiasmada quanto esperava estar. O sentimento foi estranho e eu passei a mão pela chave atracada ao meu pescoço, a deslizando entre meus dedos. Eu havia sonhado com aquele momento por muito tempo e agora que ele estava acontecendo tudo parecia... diferente. Pensei que talvez os eventos do dia tivessem me deixado cansada demais até mesmo para me entusiasmar com Charlie, mas não sentia apenas isso. Quando segurei a chave na loja do relojoeiro, tinha certeza do coração pelo qual a pegaria, mas algo naquele dia transformara minha convicção numa sensação incerta e confusa. O que estava acontecendo comigo, afinal?

Levantando a chave até que meus olhos pudessem observá-la rodopiar no cordão, eu lembrei do relojoeiro. Havia algo sobre aquele objeto minúsculo e brilhante, algo além das portas que conseguia abrir. Por um momento, pensei que devia jogar aquela chave no fundo de uma gaveta e deixá-la lá para sempre, mas a ideia de acabar bruscamente meu começo com Charlie remexia o estômago. Não podia largar a chave — ela me mantinha refém dos meus próprios desejos.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora