Poucas vezes a escola pareceu tão incômoda. Eu gostava das aulas e dos estudos, mas minha cabeça doía e estava cheia de pensamentos distraídos. Eu só conseguia pensar no meu pai e nas coisas que me dissera.
Você é igual a mim, teimosa e egoísta.
Essas palavras iam e vinham na minha mente, me esmurrando sem piedade. Eu mal conseguia discernir quanto daquilo era verídico, sentindo a chave fria pendurada no meu pescoço e a culpa nas minhas costas como uma bagagem pesada. Dizia a mim mesma que ele estava errado, que não me conhecia. Mas se estivesse certo? Talvez eu estivesse sendo horrível com Charlie e comigo mesma, ou talvez apenas estivesse me torturando em vão.
Quando o sinal tocou, eu saí da sala em passos apressados para o refeitório, esperando ver Amy em nossa mesa habitual. E lá estava ela, ajeitando-se na cadeira como quem acabara de chegar. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo, e seus olhos, distraídos no prato do almoço.
Perguntei-me silenciosamente se minha amiga estaria melhor. Nas últimas mensagens, Amy havia me dito estar bem, aliviada e precisando de um tempo sozinha, mas eram seus olhos que diziam sempre a verdade.
— Alguém está especialmente linda hoje — elogiei, me aproximando.
Amy me viu e abriu um sorriso, batendo na cadeira ao seu lado em sinal para que eu sentasse. Rapidamente o fiz, a abraçando forte em seguida.
— Argh, parece que faz um século que nos vimos! — Ela me apertou mais e riu.
— Sim. Você está bem? — perguntei cuidadosamente, me afastando para olhá-la.
— Estou. — Ela respondeu depressa. — Estou bem e aliviada. Agora que li toda a história e pus um ponto final, estou livre.
Nos olhos de Amy não havia mais tristeza ou dor, apenas as feições sossegadas de quem se livrara por pouco, e eu estava feliz por vê-la daquele jeito.
— Mas e você? Não parece muito bem. — Ela sopesou, estreitando os olhos em mim.
Eu sorri fraco para Amy, mas ela me conhecia bem demais para não suspeitar que algo estava errado. Respirando fundo, eu encontrei seu olhar.
— Bem, se importa em ouvir uma longa história? — questionei, apoiando o cotovelo na mesa e o queixo na mão.
— Definitivamente não. — Ela respondeu e sorriu, alcançando sua latinha para bebericar o refrigerante pelo canudo.
Amy não disse nada enquanto eu a contava sobre todo o ocorrido dos últimos dias. Tomei cuidado para não mencionar a partida de Charlie, mas a vi ficar pensativa enquanto lhe falava do beijo no farol. Quando a falei sobre meu pai, então, ela mal piscou. Amy sabia toda a história complicada, mas estava tão surpresa com a volta dele quanto eu estivera.
— E foi isso. — Eu disse ao acabar, recostando na cadeira com um suspiro cansado.
— Meu Deus, Maddie... — Ela parou, me abraçando. — Eu sinto muito.
— Está tudo bem, não se preocupe. — Eu murmurei no seu abraço, talvez mais para mim mesma. — Ele foi embora... e acho que dessa vez, realmente não vai mais voltar.
Amy me observou e com um balançar triste de cabeça, deixou que um silêncio taciturno caísse por um instante. No entanto, elétrica como sempre, ela logo tratou de tentar me animar e me distrair com inúmeros assuntos, e eu fui levada pela sua conversa boa e pela sensação de felicidade que ela me trazia.
🗝
O último sinal da escola foi como uma sirene de guerra em minha mente. Enquanto caminhava pelo corredor lotado, me senti estranhamente sufocada. Eu normalmente gostava das pessoas e da agitação, mas ali, de pé e ajeitando meus livros no armário, todo o barulho fez minha cabeça girar e ficar ainda mais atribulada. Apoiei-me na porta do escaninho e fechando os olhos por um instante, inspirei fundo.
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O Chaveiro de Corações
Romance🏅 | Finalista do Prêmio Wattys 2022 🏅 | Finalista do Prêmio Wattys 2021 🌟 | Eleita uma das Melhores Histórias de 2020 pelos Embaixadores do Wattpad ⭐ | Destaque de setembro/2020 do @WattpadRomanceLP O coração de Charlie Berry parece estar sempre...