— Você não pode estar falando sério! — Gregory zombou enquanto descia da sua bicicleta, caindo numa gargalhada desenfreada.
O sol ainda estava brilhando no céu quando chegamos à praia e mesmo de longe, eu já conseguia ver o píer a alguns minutos de nós. Eu e Greg havíamos ido de bicicleta para a escola apenas para pedalar pelas ruas de Baybrook depois, passando pela praia. Aquilo alongava nosso caminho para casa, mas nós gostávamos de sentar no fim do píer e observar o mar enquanto conversávamos sobre tudo e nada em especial.
Naquela tarde, no entanto, tínhamos muito sobre o que falar. Eu relatara a Gregory todo o surpreendente episódio do dia anterior com Charlie, e ele me escutou calado e atento... pelo menos até o momento em que o falei da chave. Assim que mencionei o objeto, ele me olhou totalmente descrente e não segurou uma gargalhada alta. Riu tanto que não pode continuar pedalando, freando a bicicleta e descendo dela. Meu amigo caçoava de mim por cima dos meus resmungos, achando graça na minha pequena crença no objeto do relojoeiro.
Bufando, eu também desci da minha bicicleta, acompanhando o caminhar lento de Gregory até o começo do píer. No horizonte, uma imensidão de água brilhava como se estivesse recoberta por milhões de diamantes que refletiam o brilho do sol. Ao nosso redor, o aroma da maresia era vivo e inebriante.
— Greg, é sério! — Eu resmunguei, bufando novamente.
Nós encostamos nossas bicicletas no guarda-corpo do início do píer, as deixando ali enquanto seguíamos a pé pela passarela sobre a praia.
— Maddie, olha, acho que a bebida do Jett realmente não te fez bem. Você está maluca. — Ele brincou, ainda rindo muito.
— Eu não estou maluca! — redargui, irritada, mas Greg apenas riu mais. — Eu estou aqui te contando uma coisa séria e você está rindo de mim.
— Não, você está aqui me falando das propriedades supostamente mágicas de uma chave e, por isso, eu estou rindo de você. — Ele corrigiu, mal se contendo. — Devo chamar essa coisinha de Eros então? — zombou, tocando a chave pendurada em meu pescoço.
Eu o lancei um olhar afiado, mas não pude evitar me desfazer num sorriso divertido pela menção sagaz do deus grego. Eu nem sequer conseguia ficar brava com Greg direito.
— Está bem, eu desisto de tentar te explicar — me rendi, suspirando. — Mas vou continuar dizendo que aconteceu sim alguma coisa ontem e tem a ver com essa chave.
— Então você não desistiu de tentar me explicar. — Ele murmurou com um sorrisinho travesso.
Eu revirei os olhos para Gregory, aborrecida, mas ele não se importou. Passando o braço casualmente por cima dos meus ombros, ele encarou o horizonte à nossa frente. Já estávamos no meio do píer e a luz do sol cintilava forte em nossos rostos; a sensação era quente e vívida.
— Então... — Ele começou, quebrando o curto silêncio com sua voz grave e baixa. — Como você está com tudo isso? — indagou, me observando por cima do nariz. Havia alguma expectativa em seus olhos.
— Eu não sei. Eu estou feliz e... nervosa?
— Nervosa? — Ele franziu o cenho, confuso. — Mas você gosta dele que chegamos na escola.
Por um segundo, eu desenterrei as lembranças de Charlie no meu primeiro ano na Baybrook High School. Ele era mais velho, um ano à frente na escola e tão bonito quanto poderia ser. Era meu duradouro e platônico sonho de caloura.
— É, tem razão — concordei por fim.
Embaixo do píer, a areia já havia sumido e agora apenas água salgada circulava ruidosa. O barulho das ondas fracas quebrando nas sustentações da estrutura era sereno e tranquilizante. Quando finalmente chegamos ao fim da passarela sobre a água, nós nos sentamos na beirada com os pés para fora. Podíamos ver pássaros fazendo seu caminho distante dali, parecendo apenas silhuetas no horizonte longínquo.
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O Chaveiro de Corações
Romansa🏅 | Finalista do Prêmio Wattys 2022 🏅 | Finalista do Prêmio Wattys 2021 🌟 | Eleita uma das Melhores Histórias de 2020 pelos Embaixadores do Wattpad ⭐ | Destaque de setembro/2020 do @WattpadRomanceLP O coração de Charlie Berry parece estar sempre...