24 • E se?

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Eu toquei a campainha de Charlie com força, esperando ansiosamente na frente da porta de madeira avermelhada. Meus dedos não conseguiam parar quietos, remexendo a chave e seu cordão de um lado para o outro sem cessar. Eu sabia que era um tiro no escuro ir parar na casa dele sem avisar ou mesmo perguntar se estaria lá. Com o primeiro toque da campainha não respondido, meu ânimo escorreu por meus dedos, mas não desisti. Respirei fundo e levantei a mão para tocar a campana novamente, porém, antes que pudesse fazê-lo, o barulho das trancas da porta abrindo-se me fez parar.

Eu esperei, os olhos ansiosos pelo rosto bonito do garoto pelo qual um dia eu já havia imaginado estar apaixonada. Em alguns segundos, ele apareceu por uma fresta da porta. Charlie estava vestido numa regata e calças folgadas de dormir. Seus pés estavam descalços e vacilaram ao me ver.

— Maddie? — Ele arregalou os olhos, um pouco surpreso, mas logo recompôs o rosto numa expressão séria, lábios firmes um no outro.

Eu mal soube o que dizer no primeiro minuto. O entendia se não quisesse falar comigo depois do que havia feito, o deixando esperando à mercê da minha vontade de aparecer dois dias atrás. Então, para completar, eu estava ali para terminar algo que mal havíamos começado. Que bagunça, resmunguei em minha mente antes de abrir a boca para falar, reunindo toda a coragem que tinha. Charlie cruzou os braços no peito e recostou-se no batente da porta, esperando por meu próximo passo.

— O-oi... — Eu comecei, vacilando nas palavras e encarando meus pés ainda sujos de areia da praia. Os minúsculos grãos dourados lembraram-me da conversa com Amy e a coragem chegou ao meu coração outra vez. Respirando fundo, levantei os olhos e despejei: — Me desculpe. Eu nem sei como começar isso, mas acho que preciso me desculpar antes de tudo.

O rosto de Charlie mudou de sério para pesaroso. Ele respirou fundo, soltando os braços ao longo do corpo como quem se desarma e saindo da frente da porta em sinal para que eu entrasse. Assim que o fiz, ele fechou o umbral atrás de nós.

— Você está sozinho? — perguntei, esperando que ele não entendesse equivocadamente o questionamento. Só não me parecia muito bom terminar qualquer coisa na frente da mãe dele.

— Sim. — Ele respondeu, respirando fundo. — Maddie, olha...

— Charlie, me desculpa — interrompi rapidamente. Ele balançou a cabeça, aproximando-se um passo. Meus olhos não deixavam os seus. — Eu sei que deve estar me odiando agora. Marquei com você e não apareci sem nenhuma explicação. Isso foi horrível e, além disso...

— Está tudo bem, Maddie. — Charlie me cortou suavemente. Eu me calei, surpresa. — Está tudo bem, mesmo. Eu soube hoje o que aconteceu com o Nathan Elliot. Sei que você e o irmão dele, Gregory, são muito próximos, então imaginei que tivesse ficado mal com a notícia e acabou esquecendo. Eu devia ter te respondido logo, mas não achei que era hora para falar de encontros. Me desculpe.

Meio embasbacada, eu pisquei algumas vezes. Estava surpresa e me perguntava se aquele era mais um dos truques da chave ou apenas a reação genuína de Charlie. De qualquer forma, tornou tudo ainda mais difícil. Engolindo em seco, meus olhos vagaram pelo cômodo, mas logo encontraram os dele outra vez.

— Não, não — suspirei, me aproximando para segurar seu rosto carinhosamente entre minhas mãos. — Não se desculpe. Há mais pelo que eu preciso me desculpar.

Charlie franziu o cenho, confuso. Eu sabia que ele jamais acreditaria em toda a história da chave e do relojoeiro. Afinal, como Amy dissera, quem no mundo acreditaria nisso? Pensei bem e respirei fundo antes de continuar.

— Você é um garoto maravilhoso, Charlie. Você merece alguém que te ame de verdade, do fundo do coração e... e eu não posso te dar isso — confessei, deslizando minhas mãos pelo seu rosto para soltá-lo. — Eu sinto muito, não queria te dizer isso assim. Mas só não posso continuar fazendo isso com você. 

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora