3 • Bebida e banana split

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Ela terminou tudo.

Com essas palavras, a rua emudeceu. Surpresa, eu deixei que Amy me abraçasse forte, liberando seu rosto das minhas mãos. Eu não soube o que falar por um minuto inteiro, vendo a expressão confusa de um Gregory em silêncio e claramente ponderando se deveria ou não perguntar algo. Respirando fundo, acariciei as costas de Amy, sentindo meu cardigã ser molhado por suas lágrimas. As palavras haviam morrido em minha garganta, mas não era como se algo que eu pudesse dizer naquele momento fosse consolá-la de qualquer forma.

Gregory se aproximou de nós, carinhosamente repousando uma mão no ombro da nossa amiga. Ele sempre era cauteloso com as palavras, mas quando meus olhos encontraram os seus, eu o implorei silenciosamente para redobrar o cuidado. Greg era esperto e já devia imaginar que Amy falava de Lena, mesmo que não soubesse que ela a pediria em namoro naquele dia; exatamente naquele maldito dia em que, por algum motivo, Lena resolveu que terminaria com ela.

— Amy... — Greg chamou baixinho. Ela virou o rosto desolado para vê-lo. — Eu não sei o que aconteceu, mas há alguma coisa que nós possamos fazer para ajudar? Qualquer coisa mesmo, o que você quiser.

— Na verdade, sim. — Ela murmurou. — Por favor, me façam esquecer.

O rosto de Amy ficou sério de repente e ela engoliu o choro, se afastando de mim. Algo surgia na sua expressão, um sentimento quente e nublado, menos parecido com a tristeza e mais semelhante à raiva. Compreendendo o que ela queria dizer, eu e Gregory nos entreolhamos. Ela sabia que não poderíamos a fazer esquecer, mas queria uma distração e, no fim, isso era mesmo tudo que podíamos lhe oferecer naquele momento.

Trocando um olhar cúmplice com Greg, eu segurei a mão de Amy e a arrastei para o banco de trás do carro dele, deixando que ela repousasse a cabeça no meu ombro enquanto íamos em direção ao Jett. Ela não falou nada o caminho inteiro, assim como também não chorou mais. Parecia bambolear na linha muito tênue entre a tristeza e a revolta, alternando entre um e outro com respirações pesadas e o barulho de lágrimas deglutidas lentamente. Eu e Gregory a conhecíamos bem o suficiente para saber que ela precisava daquele tempo no modo quieto para acertar os próprios pensamentos, então nos certificamos de assegurar seu precioso silêncio.

Não mais que vinte minutos depois, Gregory estacionou no Jett. As luzes vermelhas do letreiro iluminavam a fachada do restaurante, sobressaindo-se no pôr do sol. No horizonte, uma mistura de rosa e laranja tomava o céu e podíamos sentir a maresia ser arrastada até ali por uma brisa suave. Nós descemos do carro e Amy pairou de pé por um segundo, observando o estabelecimento com sua lotação moderada. As pessoas começavam a chegar no lugar e eu quase achei ter sido um erro ter a levado para lá, mas então, uma risadinha cabisbaixa escorregou dos seus lábios. Ela virou-se para nós, meneando a cabeça para entrarmos logo, e ambos eu e Greg respiramos aliviados.

Assim que entramos no restaurante, vermelho-vivo tomou nossa visão. Toda a decoração era de madeira avermelhada e objetos carmesins, embaçando os sentidos com sensações quentes e vívidas. O som da música e das risadas altas encheu nossos ouvidos, e rapidamente avistamos uma mesa vazia. Quando chegamos nela, Amy sentou-se no estofado aveludado entre mim e Greg, deixando um suspiro pesado escapar da garganta.

— Eu sei que vocês querem saber o que aconteceu. Eu... eu vou contar. — Ela disse, respirando fundo na tentativa vã de conter as lágrimas. — Mais cedo, a Lena pediu para me ver depois da aula. Eu até achei estranho já que íamos nos encontrar à noite, mas não me importei. Então, ela disse que precisava conversar comigo e contou toda uma história de que me amava, mas que eu não era a pessoa certa para ela e... e... — Amy parou, reprimindo um soluço antes de continuar. — E ela terminou tudo comigo! E eu até comprei essa droga de anel, porque achei que seríamos namoradas!

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora