10 • A verdade covarde

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O tempo pareceu congelar na praia. Amy observou a cena, atônita, o peito subindo e descendo pela respiração descompassada. Fazia poucos dias que elas haviam terminado e Lena estava com outra garota. Era rápido e todos pensamos a mesma coisa, ao mesmo tempo. Desolada, Amy deu alguns passos na direção delas, mas eu corri para pará-la.

— Amy, por favor, não! — pedi, a segurando pelos ombros. — Ir até lá não adianta nada.

— Ela... — Amy balbuciou, mas não conseguiu terminar. Seus olhos estavam nublados.

— A Maddie está certa. — Gregory disse suavemente, também repousando uma mão no ombro dela. — Isso só vai te fazer mal. Vamos embora daqui, hum? Você não precisa ver isso. — Ele pediu baixinho.

Amy não respondeu nem falou mais nada por um segundo inteiro. Lágrimas ameaçaram seus olhos zangados e ela engoliu o choro, batendo o pé nervosamente na areia antes de recuar um passo, ainda olhando fixamente para as garotas. Quando virei para ver também, Lena estava de pé, nos observando. Eu não podia escutá-la, mas percebi quando seus lábios pronunciaram "Amy" e seus olhos se arregalaram. Ela falou algo para a jovem junto a si, começando a vir até nós, e nesse momento, eu soube que aquilo não acabaria bem.

Amy se afastou com lágrimas escorrendo pelas bochechas e deu as costas sem nenhuma palavra, andando velozmente em direção ao píer. Suas pisadas eram fortes e duras, e eu e Gregory a seguimos, muito aflitos. 

Eu podia escutar os passos de Lena atrás de nós, o farfalhar de areia remexendo. Quando finalmente alcançamos a orla calçada, viramos para o píer. Greg segurou minha mão em passos velozes para alcançar Amy, mas ela parecia um trem descarrilhado em direção ao fim da passarela. Quando finalmente chegamos ao seu lado, as ondas já reverberavam brandamente debaixo de nós.

— Amy, espera! — Greg pediu, correndo até que conseguisse a ultrapassar e parar na sua frente.

— Eu fui uma idiota! — Amy xingou. Sua expressão era furiosa e triste. — Era claro que ela já estava com outra pessoa, mas não eu enxerguei.

— Ela pode ter encontrado essa garota depois, nós não sabemos. — Tentei amenizar, me aproximando.

— Não, eu não sou boba. — Ela rosnou, passando a mão pelo cabelo encharcado.

— Amy! — Uma voz distante gritou.

Meu olhar seguiu a fonte do som e eu logo avistei Lena correndo ao nosso encontro, seu vestido floral oscilando no vento frio. Amy virou-se e o barulho do seu choro sendo engolido ecoou, mas ela não se moveu.

Gregory respirou fundo e puxou o cabelo molhado para trás, já sabendo o que teríamos em seguida, assim como eu. Na verdade, apenas queria mandar Lena embora, mas não podia fazê-lo; sabia que apenas minha amiga poderia dar um ponto final naquilo.

— O que você quer? — Amy rosnou quando Lena se aproximou o suficiente para ouvi-la. Sua voz estava seca e enraivada.

— Eu sei o que você está pensando, mas me escuta... — Lena começou, estendendo uma mão para tocá-la. Amy, no entanto, desviou rapidamente do seu toque.

Não. — Ela retorquiu bruscamente. — O que vai me dizer? Qual a mentira que vai me contar agora? — questionou, a voz embargada pela tristeza. — Me fala a verdade, só dessa vez. Eu preciso ouvir.

Amy sabia exatamente o que ouviria quando pediu pela verdade. Embaixo do píer, o mar estava calmo, mas acima dele, uma tempestade estava prestes a se formar.

— Por favor, não faz isso. — Lena resfolegou, o olhar decaído. — Não precisa ser assim...

Fala, Lena. — Amy demandou de novo, a interrompendo. Eu podia até mesmo sentir as lágrimas quentes escorrendo por seu rosto. — Você já tinha outra enquanto estávamos juntas, não foi? — questionou. Um suspiro pesado escapou de Lena, e apenas por isso, ela já não precisava dizer mais nada. — Vamos, essa é última coisa que você precisa me falar. — Amy insistiu, no entanto.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora