30 • Desatada

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Algum tempo depois...


O último dia de aulas antes das férias de verão era empolgante e nostálgico. Eu estava animada para entrar no meu ano final da escola, e ao meu lado, Amy tagarelava sem parar sobre como supostamente iríamos viajar para ver as belas montanhas do interior do estado nos dias de folga. Segurando sua mão, Louise ria abobada com ela e ambas esperavam enquanto eu terminava de apanhar minhas coisas no armário.

— Eu já te disse, mamãe ainda não me deu nenhuma permissão. — Eu disse para Amy, a vendo bufar de impaciência.

— Ah, por favor! A Sra. Davis é um amor e com certeza vai te deixar ir. — Ela choramingou.

Eu ri dela, finalmente fechando o armário e começando a caminhar pelo longo e familiar corredor em direção à saída da escola. E assim continuamos as três até que o sol do fim da tarde bateu em nossos rostos, me fazendo fechar um pouco os olhos pela claridade repentina.

Muitas pessoas já se amontoavam na grama verde, tirando fotos e se despedindo do ano letivo. Aquele era o último dia dos veteranos e agora eles deixariam seu posto para nós. Eu não gostava muito de pensar nas mudanças abruptas as quais o fim próximo da escola nos impunha, mas haviam pessoas que definitivamente não me deixaria perder em qualquer futuro: Greg, Amy, e agora, Louise.

Quando eu estava distraída demais na conversa com as garotas e nos meus próprios devaneios, mãos cobriram meus olhos, me fazendo segurá-las instintivamente para tentar me livrar. Entretanto, no segundo seguinte eu reconheci o perfume cítrico e fresco do meu namorado e relaxei.

— Consegue adivinhar quem é? — Ele sussurrou, rindo baixinho em meu ouvido.

— Um completo desconhecido. — Eu caçoei, deixando que ele deslizasse suas mãos pelo meu rosto.

Eu virei, encontrando o rosto de Gregory logo atrás de mim. Ele desceu os lábios nos meus num selinho, segurando minha mão e se aconchegando ao meu lado para cutucar Amy.

— Que ótimo que chegou, Greg! — Amy exclamou para ele. — Poderia, por favor, aconselhar a Maddie sobre como ela precisa ser um pouco mais insistente e convincente com a Sra. Davis sobre nossa viagem?

Aparentemente, aquilo não sairia da cabeça de Amy tão cedo. Gregory riu, passando os olhos ladinos em mim e arqueando uma sobrancelha.

— Mas a tia Cassie já não deu permissão? — indagou, um pouco confuso.

Amy me fitou, a princípio desentendida, mas logo corando de aborrecimento ao entender a peça que a pregara. Eu não consegui segurar a risada, gargalhando divertida.

— Por que você contou? — perguntei para Greg, o dando um toquinho com o cotovelo. — Estava sendo legal mexer um pouco com a cabeça da Amy — admiti, a vendo fazer uma careta brava para mim.

— Você está cancelada dessa viagem, Maddie. — Amy resmungou, e Louise riu alto, deixando sua cabeça repousar no ombro da namorada.

Distraída e divertida, eu passei a vista pelos arredores e pela multidão despretensiosamente, mas meus olhos logo pararam em uma pessoa em especial: Charlie. Lá estava ele, parado com um grupo de amigos, sorrindo e conversando. Ele parecia o mesmo de sempre, vestido com a jaqueta do time de basquete e roupas escuras. Pude reconhecer sua moto parada na esquina mais próxima e logo lembrei-me da breve viagem que fizera na sua garupa até o farol. Naquele dia, muitas coisas haviam mudado e muito havia sido dito.

Eu vou embora de Baybrook nas férias de verão.

Rapidamente, eu recordei de toda a história sobre seus pais e sobre sua ida para Raleigh. Talvez aquela fosse a última vez que veria Charlie, minha longa e cega paixão platônica, e eu fiquei parada por longos segundos, ponderando se deveria falar com ele. Não queria relembrar o passado nem tinha nenhuma dúvida sobre meus sentimentos, mas sentia que precisava dizer ao menos dizer um "adeus" para o garoto pelo qual um dia usara uma chave mágica pendurada no pescoço. O garoto que me dera bons momentos, ainda que enevoados pelo objeto misterioso do relojoeiro.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora