20 • Cartas claras no escuro

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Eu abri os olhos pesados pela sonolência, observando o entorno. O barulho da TV enchia o lugar e depois do sono, tudo parecia ter sido somente um pesadelo, então demorei um pouco para associar que estava na casa de Gregory. Ele dormia no meu colo exatamente como eu havia visto antes de cochilar e passando a vista pelo relógio de parede, ajustei a visão até discernir os ponteiros que mostravam já passar da meia-noite.

Eu esfreguei os olhos e estiquei os braços, me espreguiçando devagar até que meus músculos estivessem satisfeitos. Meu pescoço doía e minhas pernas estavam dormentes, mas ainda assim, não me mexi muito, receosa em acordar Gregory bruscamente. Tão suavemente quanto parecesse não querer realmente despertá-lo, toquei seu ombro. Sem resposta, eu repousei a mão na bochecha de Greg, me inclinando para chamá-lo baixinho de perto.

— Greg?

Ao me ouvir, ele finalmente se mexeu, virando e abrindo os olhos com um suspiro.

— Hum? — murmurou, sonolento.

— Hora de ir para a cama. — Eu disse suavemente, segurando um sorriso.

Greg concordou com a cabeça, sentando-se grogue no sofá. Ele também checou o relógio, arregalando um pouco os olhos em surpresa.

— Ficou acordada esse tempo todo? — indagou, uma sobrancelha levantada e olhos preocupados. Eu balancei a cabeça em negação.

— Eu cochilei um pouquinho só — admiti, aproximando os dedos polegar e indicador em sinal de pouco, e ele riu.

Eu levantei do sofá, apanhando o controle da TV e a desligando. O silêncio encheu o cômodo sem o ruído do aparelho e Gregory apoiou os cotovelos nos joelhos, passando a mão na testa com uma careta dolorida.

— Está bem? — Eu questionei, me aproximando. Ele levantou a cabeça para me olhar.

— Só com um pouquinho de dor de cabeça — respondeu, sorrindo e repetindo meu gesto com os dedos.

— Vou pegar um remédio. — Eu disse, já começando a me afastar, mas fui impedida por Greg. Ele apanhou minha mão carinhosamente, me virando de volta para si.

— Não, não, estou bem. — Ele garantiu e levantou ainda segurando minha mão. Meus olhos seguiram os seus enquanto ele se erguia muitos centímetros acima de mim. — Eu só preciso dormir mais um pouco. Você vem?

Eu concordei com a cabeça e Gregory apanhou nossos celulares no sofá, me levando com ele pelas escadas. Passamos pelo corredor escuro e chegando em seu quarto, ele acendeu a luz, revelando o cômodo familiar.

— Você fica com a cama. — Ele falou, andando em direção ao guarda-roupa embutido, de costas para mim enquanto procurava lençóis.

— Não, não, não — discordei rapidamente. — Me dê meus lençóis cor-de-rosa e eu vou ficar bem aqui no chão — redargui, parando ao lado da cama com as mãos nos quadris e os pés fincados exatamente onde planejava dormir.

Greg me fitou e riu distraidamente, mas logo voltou para o armário, balançando a cabeça em negação.

— Você fica com a cama. Isso não é uma negociação. — Ele insistiu com uma risadinha.

Quando Greg virou outra vez, trazia lençóis cinzas, um travesseiro branco nas mãos e um sorriso maroto no rosto.

— Bem, então vamos ficar os dois no chão. — Eu retorqui, cruzando os braços. — Eu não vou ficar na cama enquanto você vai para o chão.

Greg revirou os olhos, deixando os lençóis e o travesseiro na cama e ficando de pé na minha frente, de braços igualmente cruzados. Nós nos encaramos como se travássemos uma guerra de quem piscava primeiro, tal qual fazíamos quando éramos crianças. Depois de alguns segundos, ele não evitou sorrir, revirando os olhos outra vez enquanto respirava fundo.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora