22 • Coração corajoso

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Eu havia acabado de terminar meu almoço quando Amy me telefonou. Ela tinha muitas coisas para me contar e eu concordei solenemente em encontrá-la na praia, curiosa pelo que me diria. Com alguma pressa, apanhei minha bicicleta e pedalei pela ensolarada Baybrook. O dia estava claro e quente, e as ruas estavam movimentadas pelo começo do final de semana, mas minha mente estava cheia demais para atentar às pessoas enquanto passava ligeira por elas.

Eu pensava em Nathan. Gregory havia dormido em Wilmington e voltaria à tarde, mas ainda sem o irmão. Trocamos mensagens por toda manhã, ele me enviou fotos de Nathan fazendo caretas para mim e nos falamos por telefone. Claro, o mais velho estava cansado e com uma perna quebrada, mas dadas as circunstâncias, eu agradeci por vê-lo vivo e bem.

Eu também pensava em Charlie. Ele ainda não havia respondido minhas mensagens de desculpas e talvez não quisesse mais me ver. Eu me sentia péssima, desonesta e cruelmente egoísta. Havia pegado a chave do seu coração e aquilo me dava a enorme responsabilidade de cuidar dele, mas ao invés disso, eu só o enganara. Agora que havia experimentado, não me parecia nada bom estar do outro lado da moeda: o de quem parte o coração ao invés de ter o seu partido. Ambos os papéis eram igualmente dolorosos.

Pedalando rapidamente, eu logo avistei a praia. O barulho do mar e a maresia invadiram meus sentidos, e era maravilhosa a sensação de estar ali. Continuei até avistar Amy sentada na areia, com o cabelo ao vento e encarando o oceano à sua frente. Crianças brincavam com uma bola ao redor dela e outras pessoas aproveitavam a água.

Parando, eu deitei minha bicicleta no tapete de grãos amarelados e brilhantes ao sol. Sem me incomodar em tirar minhas sandálias, caminhei até Amy. Ela mal percebeu minha chegada até que sentei ao seu lado, a abraçando de supetão. Ela logo virou-se, ficando tensa, mas me reconheceu rápido e me abraçou de volta. Seu típico cheiro de cereja e flores encheu meu olfato junto à maresia. Ela tinha um sorriso no rosto quando finalmente me olhou, me abraçando uma última vez antes de soltar-me.

Antes de tudo, Amy me cercou de perguntas sobre Nathan. Mal havia acreditado quando Greg lhe ligou para contar do acidente. Queria saber como Nathan estava, quando voltava para casa, se ficaria bem. Eu respondi todas as suas questões preocupadas prontamente, mas percebi quando seu olhar divagou. Ela parecia pensativa.

— Eu acho que você quer me contar alguma coisa — sugeri, dando um toquinho em seu cotovelo. Amy riu, corando de súbito.

— Sim, sim. — Ela confirmou. — Para não fazer rodeios, eu conheci uma garota — começou, um sorriso tímido se formando enquanto eu me abria numa gargalhada contente e barulhenta. — Humpf! Me deixa terminar! — resmungou, ficando ainda mais vermelha.

Eu me silenciei, jogando as mãos ao ar como quem se rende. Ela riu baixinho, abraçando os joelhos e voltando a olhar para o mar.

— Como eu dizia antes de alguém me interromper, eu conheci uma garota — retomou, respirando fundo. — Na verdade, meio que ela que me conheceu. E eu... eu acho que estou apaixonada — confessou. Seus dedos remexiam uns nos outros.

— Amy, isso é ótimo! — Eu disse, alegre, mas ela somente me entregou um riso receoso. — Não é? — indaguei, uma sobrancelha arqueada em confusão.

— Sim, é. — Ela suspirou. — Mas estou com medo.

— Medo de quê? — perguntei baixinho, me aproximando mais dela.

— Eu tenho medo que aconteça o mesmo que aconteceu com a Lena. Além disso, dessa vez eu literalmente sou um segredo.

— Amy, a Lena passou — assegurei, vendo-a balançar a cabeça lentamente em concordância. — E o que quer dizer com ser literalmente um segredo?

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora