15 • O lar

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A rua estava estranhamente solitária e uma chuva afiada caia como choro triste quando Gregory estacionou na frente da minha casa. Enterrando os dedos no couro do banco do carro, eu respirei fundo, me perguntando se Josh ainda estaria lá dentro. A ideia fazia meu estômago remexer e minhas pernas fraquejaram outra vez. Estava cansada e só queria abraçar minha mãe sem a presença dele. Ainda assim, eu suspirei e me preparando para encontrá-lo, destravei o cinto de segurança.

— Maddie... — Greg chamou baixinho, também soltando seu cinto e virando para mim. Ele parecia receoso. — Você tem...

— Eu tenho certeza — disse, antes que pudesse perguntar, já sabendo que ele o faria. — Eu tenho certeza que quero entrar agora.

Greg assentiu com a cabeça e tomou uma lufada curta de ar, deixando os olhos caírem para o volante por um minuto. Outra vez, olhei para minha casa, e mesmo o ar no carro pareceu denso demais.

— Você vem comigo? — murmurei, voltando a fitá-lo. 

— Sempre. — Ele logo respondeu, sorrindo suavemente e segurando minha mão.

Eu sorri fraco para Gregory, apertando meus dedos nos seus antes de destravar a porta do carro. Eu inspirei todo ar que podia, encarando a chuva do lado de fora. Os pingos assíduos caiam no meu rosto, cada um como um choque de realidade, e eu parei, observando a casa por alguns segundos.

Eu estava com medo. Muito medo.

Greg parou ao meu lado e suas digitais tocaram as minhas. Arranjando toda coragem que tinha, eu segurei sua mão e segui o caminho até a varanda. Seus dedos enroscados nos meus eram as únicas coisas que sustentavam todos os meus cacos; estava estilhaçada após ver uma memória viva.

Eu segurei a maçaneta com força, assim como havia feito horas antes para encarar Josh. Agora, na segunda vez, nada parecia mais fácil. Eu estava ainda mais triste e nervosa, mas menos enraivada. Fechei os olhos, repentinamente ciente de todas as batidas do meu coração e da minha própria respiração, controlando as lágrimas nos olhos e os dedos trêmulos. Quis desistir, mas a mão de Greg cobrindo a minha na maçaneta me impediu, a segurando junto comigo.

— Se não quiser entrar, nós podemos voltar para o carro e ir para onde você quiser. — Ele disse baixinho, me observando. — Mas se quer mesmo, não vai encarar isso sozinha — emendou, segurando mais forte minha mão.

Eu fitei Gregory, completamente rendida, e num pulso de coragem, girei a maçaneta. A mão dele deslizou pela minha e o ruído da porta abrindo avisou nossa chegada. Eu entrei com meu coração saltando e encarei a sala iluminada e ocupada por apenas duas pessoas: mamãe deambulando nervosamente de um lado para o outro no cômodo e Bill tentando acalmá-la.

Josh não estava mais ali.

Eu suspirei de alívio, sentindo meu corpo todo amolecer. Escutei quando Gregory respirou fundo também, aliviado.

— Maddie! — Mamãe exclamou assim que viu, correndo até mim com os olhos cheios de lágrimas e me tomando em seus braços.

Cansada, eu apenas desabei no abraço, soluçando enquanto ela chorava em meu ombro. Nós nos apertamos forte, sentindo somente os corações uma da outra por longos instantes.

— Me desculpe! — Eu disse entre lágrimas e soluços, me afastando para olhá-la.

Atrás de nós, Bill recostou-se no corrimão das escadas, respirando pesado e com as mãos nos joelhos como quem acabara de soltar uma tonelada das costas.

— Me desculpe, me desculpe — choraminguei outra vez, mas ela só chacoalhou a cabeça para mim.

— Não, meu amor, não se desculpe. — Mamãe disse muito carinhosamente, segurando meu rosto entre suas mãos. — Eu que preciso me desculpar por permitir isso. Eu juro que não vou mais insistir, não vou mais deixar que ele te faça isso — prometeu, me abraçando outra vez.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora