21 • Doces vontades

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Antes de tudo, meu pescoço doía. A dor me despertou e abrindo os olhos de supetão, minha visão recuou pela luz, me fazendo fechar as pálpebras novamente por um segundo antes de as levantar de vez. Eu estava deitada no peito de Gregory, cercada por seu braço. O clarão do sol entrava pelas cortinas abertas, haviam lençóis e cartas bagunçadas ao nosso redor, e ele dormia suspiroso ao meu lado. Tomando cuidado para não o acordar, eu me afastei e me espreguicei, esticando o braço para alcançar meu telefone na beirada do colchão.

Havia esquecido tão completamente do celular que se o mundo estivesse prestes a acabar, eu jamais saberia. Nele, havia muitos recados de mamãe me perguntando como Gregory estava, se tinha notícias de Nathan, que horas eu voltaria para casa. Eu estava certamente enrascada por não ter respondido nenhuma daquelas mensagens.

As próximas notificações eram de Amy: tenho umas coisas para te contar, ela escreveu primeiro. Vamos à praia? Indagava. Eu digitei uma resposta para suas mensagens várias vezes, mas acabei deletando todas. Era justo que o próprio Greg a contasse o que havia acontecido, então somente lhe enviei um pedido de desculpas, dizendo que lhe explicaria tudo pessoalmente depois.

Por último, eu abri o balão de recados de Charlie, todos da noite anterior. Suspirando fundo e sendo inundada por um sentimento de desonestidade, comecei a ler. Oi, Maddie! Aconteceu alguma coisa? Dizia a primeira mensagem. Eu franzi o cenho, confusa com a pergunta. Você não vem? Estou te esperando. Aconteceu algo? Perguntava novamente.

Eu estranhei as mensagens de Charlie num primeiro momento, mas acessando minha memória distante, finalmente lembrei: havia pedido para encontrá-lo na praia na noite anterior. Se tudo tivesse acontecido como eu planejara, teria devolvido a chave ao relojoeiro e terminaria com Charlie. No entanto, depois da notícia de Nathan, eu nem sequer o havia mandado uma mensagem para avisar que não poderia mais ir.

Batendo a mão na testa, eu me xinguei dezenas de vezes por fazer aquilo, me sentindo uma completa idiota. Tentei elaborar vários pedidos de desculpa, mas nada que escrevia parecia justificável o suficiente para a proporção do meu erro. Por fim, somente enviei o mais simples perdão, mas mesmo estando online, Charlie não respondeu; e eu entendia o porquê.

— Madelyn Rose, sua idiota — resmunguei baixinho, tirando o cabelo do rosto e me afastando de Greg adormecido ao meu lado.

Quando já estava quase sentada na cama, fui surpreendida pelo som do despertador na cabeceira. Já era hora de acordar e ir para a... droga, a escola! Eu até esquecera que tinha aula, mas pensando depressa, decidi rapidamente por faltar naquele dia. Não conseguiria me concentrar mesmo que tentasse e sabia que mamãe entenderia.

Gregory remexeu na cama pelo barulho do despertador e eu tentei desligar rapidamente o aparelho para que não o acordasse. Entretanto, ele ainda se espreguiçou, abrindo os olhos por um breve instante. Eu me inclinei para ele e repousei uma mão em sua bochecha, o vendo recostar o rosto nela carinhosamente.

— Está tudo bem, volte a dormir — sussurrei.

Greg assentiu, sonolento, mas voltou a abrir a boca para falar logo em seguida.

— Nathan...

— Seus pais ainda não ligaram — falei rapidamente. — Deve estar tudo bem, não se preocupe.

Greg concordou com a cabeça, exausto e num estado quase anestesiado entre o cansaço e a tristeza. Ele fechou os olhos novamente, suspirando fundo antes de voltar para seu sono leve. Eu sabia que, no fundo, dormir era um mecanismo de defesa. Sabia que ele queria acordar e descobrir que tudo não passara de um pesadelo, ainda que tentasse manter a calma o tempo todo. Mesmo agora, ele continuava andando na linha tênue entre a serenidade e o desespero, lutando contra a tristeza.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora