7 • Sonho cor-de-rosa

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Charlie me esperava com um sorriso quando voltei para a mesa com as mãos tremendo. Aquele sorriso — a curva pela qual eu quase suspirei de alívio e algo entre surpresa e alegria. Até a atmosfera tornou-se diferente, como se tivessem nos colocado em lentes cor-de-rosa. 

No fundo do meu coração, eu sabia que a chave havia funcionado. Não falava de sensações incertas e pressentimentos, mas de uma voz em minha cabeça que balbuciava as palavras do relojoeiro como uma prece. Tive ainda mais certeza quando, quase sem piscar, Charlie disse:

— Você voltou ainda mais linda. — E estendeu a mão para mim através da mesa.

Eu estiquei minha mão para segurar a sua, repousando os dedos na pele morna. Podia derreter como gelo naquele exato momento se o garçom não tivesse chegado com nossas refeições em bandejas coloridas. Meu par soltou minha mão suavemente, deixando que o jovem pusesse nossa comida na mesa e arrumasse tudo.

Enquanto comíamos e conversávamos, eu podia sentir Charlie me observando por cima dos cílios a todo instante. A música da pista de dança parecia mais alta e uma balada romântica e lenta começou a tocar, fazendo o ar passar suave e adocicado entre nós. De repente, parando nossa conversa para ouvir atentamente à música por um segundo, ele levantou, estendendo a mão para mim outra vez.

— Me concede essa dança, senhorita? — Ele indagou, inclinando-se de um jeito brincalhão e exibindo um sorriso.

— Com toda certeza. — Eu respondi e pus minha mão na sua, levantando para atravessar as mesas até a pista de dança.

As luzes inquietas do lugar tomaram meus sentidos e nós atravessamos a pista, passando pelas pessoas envolvidas na dança. Eu estava nervosa e esforçando-me para não tremer sob as mãos de Charlie, especialmente quando ele me puxou para mais perto. Ele segurou minha cintura e me pressionou suavemente contra si, nos deixando tão próximos que nossos corpos roçaram um no outro.

Uma onda de calor subiu dos meus pés à minha cabeça, cortando o frio da noite. Para mim, não existia mais ninguém naquele lugar quando encarei a escuridão dos olhos de Charlie. Nossos rostos estavam a centímetros de distância e nossos pés se moviam no ritmo da melodia, levando o resto do corpo com eles. Mesmo o nervosismo e o medo haviam sido lavados pela música suave, me deixando embriagada de paixão e encantamento.

Dançar com Charlie era fácil e leve como pisar em nuvens. Ele me rodopiou e me trouxe de volta para si entre nossas risadinhas divertidas. Eu o encarei outra vez, o sentindo escorregar sua outra mão para minha cintura também. Instintivamente, lancei meus braços ao redor do seu pescoço. Mal conseguia respirar quando nossas testas se encostaram, olhos fechando-se lentamente. Estávamos tomados pela música lenta, e sua respiração morna no meu rosto era como o paraíso. Eu podia sentir o quão próximas estavam nossas bocas e por um segundo, quase sucumbi à forte vontade de beijá-lo.

No entanto, a música acabou e foi como despertar de um sonho. Nós paramos e nos afastamos um pouco. Charlie me observou com um sorriso fechado e charmoso, rodopiando-me uma última vez antes de me apanhar novamente.

— Quer dar uma volta na praia? — Ele sugeriu, erguendo um dedo para afastar uma mecha de cabelo do meu rosto; o movimento sutil quase me fez suspirar.

Assentindo com um sorriso cúmplice, eu deixei que Charlie segurasse minha mão, atravessando comigo todo o caminho de volta para nossa mesa. Com os dedos entrelaçados aos dele, eu não sabia se sonhava ou se tudo aquilo era mesmo real. Não podia imaginar do que era feita aquela chave e também mal me importava. A bruma suave que se deleitava sobre nós era como um perfume leve, a brisa de um campo de lavandas — estávamos embebidos nela.

Sumindo da minha visão apenas por um instante, Charlie foi pagar a conta sozinho, apesar dos meus protestos para a dividirmos. Quando ele voltou, mal tive tempo de me mexer antes que sua mão chegasse à minha novamente. Ele me acompanhou para o exterior do restaurante em passos calmos, mesmo que toda sua forma transbordasse a cor da velocidade e a adrenalina de aventuras em verões quentes demais. Ele era uma brasa delicada na noite fria.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora