13 • Teimosa e egoísta

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O tempo congelou para mim no farol. Como se estivesse despertando de uma miragem, eu sacudi a cabeça, processando as palavras de Charlie. Vi quando ele fechou os olhos e tomou uma longa lufada de ar, como se aquilo lhe custasse muita energia.

— O quê? — Foi tudo que consegui dizer no primeiro momento.

— Eu vou ter que ir embora de Baybrook em pouco tempo, Maddie. — Ele virou o rosto para me ver, o olhar pesaroso e triste. — Eu nunca contei isso a ninguém, mas sinto que posso abrir meu coração para você.

Eu o observei por um longo segundo, sentindo a culpa me atingir como um raio na cabeça. Era claro que Charlie se sentia daquela forma. Eu abrira seu coração com uma chave que ele não havia me dado, e vê-lo dizer aquilo tão sinceramente me acertou bem no ponto onde morriam os desejos e nascia a consciência. Engolindo em seco, eu olhei para o mar à minha frente. O sol já se escondia atrás da linha d'água e as cores quentes e rosadas do céu da tarde refletiam no oceano.

— Por quê? — Não evitei perguntar.

Charlie parou por um segundo, me examinando como se ainda decidisse se deveria ou não me contar. Por fim, ele inspirou fundo, desviando o olhar e encarando o horizonte também.

— Meus pais se divorciaram há pouco tempo. Não que eles já não estivessem separados nos últimos anos, mas agora foi de verdade. E bem, minha mãe não me quer por aqui — disse, abaixando a cabeça. — Meu pai se mudou para Raleigh e vou morar com ele. Eles resolveram me deixar terminar a escola ao menos, mesmo que eu saiba que pela minha mãe eu teria ido embora no dia em que papai foi — lamentou; o barulho das ondas era a única coisa que embalava sua voz.

Por um instante, eu também lembrei do meu pai e senti o coração pesar no peito. Agora sabia o motivo pelo qual Charlie era tão reservado com sua vida, porque todos sabiam tão pouco. Ele estava no olho de um furacão, assim como eu já estivera um dia.

Segurando a mão dele, eu o abracei, recostando minha cabeça em seu ombro e o compreendendo de todo coração. Por um momento, não vi o amante ali, mas apenas um amigo que precisava de alguém que o abraçasse. Esse pensamento era contraditório quando eu havia desejado tanto que ele não fosse só um amigo, e minha cabeça estava um vendaval.

— Eu sei como se sente — disse sinceramente, afagando sua mão. — E não se preocupe, ninguém vai saber.

— Obrigada. — Ele sussurrou, passando um braço ao redor dos meus ombros e virando o rosto para me olhar. — Não confiei em mais ninguém para contar isso. Eu gosto de verdade que esteja aqui, Maddie — falou, me alcançando para um beijo suave e demorado.

Eu fechei os olhos, sentindo os lábios de Charlie nos meus, mas quando ele se afastou, tudo parecia apenas errado. O observando, confusa e meio desnorteada, eu repousei a cabeça no seu ombro outra vez, ficando ali perdida nos meus próprios pensamentos emaranhados até que meu telefone vibrou. Eu o deixei tocar uma, duas vezes, mas na terceira, soube que precisava atender. Segurei o aparelho, passando a vista no nome de mamãe na tela e estranhando a ligação. Eu a havia avisado que estaria com Charlie e ela não ligaria tão cedo. No céu, as luzes do crepúsculo do anoitecer ainda apareciam devagar e eu sabia que não eram nem seis da noite. Preocupada, atendi o telefonema.

— Mãe? — chamei, escutando apenas uma respiração pesada no outro lado da linha.

Maddie... — Ela começou, a voz apreensiva. Seu tom fez meu coração saltar. — Querida, eu sei que está com o Charlie, mas preciso que volte para casa. Me desculpe.

— Tudo bem. — Eu concordei depressa, afastando-me um pouco do abraço de Charlie. — Aconteceu alguma coisa? — indaguei, curiosa e aflita.

Meu amor... — Ela murmurou do outro lado da linha, deixando as palavras morrerem um pouco, mas logo tomando ar para dizer: — Seu pai está aqui.

O Chaveiro de CoraçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora