Era um típico dia cheio no trabalho. As pilhas de papel sobre a mesa e a caixa de entrada do email que parecia nunca ficar vazia estavam a ponto de deixar a advogada criminalista louca. Gizelly amava seu trabalho mais que tudo em sua vida, porém nos últimos dias tudo parecia estar se voltando contra ela. Um de seus clientes foi sentenciado injustamente, um dos contratos relacionados a sua mudança para São Paulo havia dado problema e pra completar seu cachorro, Jack Bacon, estava doente. Ela estava a ponto de explodir.
A advogada não via a hora de dormir, pois sabia que pelo menos em seus sonhos ela teria paz. Gizelly tinha um sonho rotineiro, não a história em si era rotineira, mas sim uma personagem. Sempre que a mulher se sentia sobrecarregada no mundo físico, a mesma figura a visitava em seus sonhos para lhe levar um pouco de calmaria. Uma loira. Se lhe perguntassem, Gizelly não saberia como descrever seu rosto ou qualquer um de seus aspectos físicos que não fossem as madeixas loiras, porém jamais seria capaz de esquecer a sensação de leveza quando encontrava a mulher misteriosa em seu subconsciente. Era praticamente seu anjo da guarda.
A mulher havia feito uma visita a loira na noite anterior, e o sonho foi tão vivido que Gizelly era capaz de descrever até mesmo o perfume que ela usava. Os sonhos também tinham essa característica de serem muito sensoriais, como se fossem lembranças, embora a doutora nunca tivesse vivido aquelas situações. No sonho, Gizelly estava na sala de uma casa – casa que também já lhe era familiar de sonhos anteriores – e a mulher estava na varanda a sua frente, com os braços sobre a grade e o corpo inclinado sobre eles. Os cabelos loiros eram levemente movimentados pelo vento e a mulher mantinha os olhos fechados, como se apreciasse o silêncio do lugar. Gizelly se aproximou da figura e a enlaçou com os braços, rodeando sua cintura e se aconchegando em seu pescoço. Ambas suspiraram, apenas desfrutando uma da presença da outra. E então a advogada foi arrastada para longe da mulher, sendo despertada de seu sono e trazida de volta para seus problemas. Tudo que ela desejou naquela manhã foi poder voltar a dormir, poder voltar para a loira misteriosa, poder voltar para o lugar onde tudo parecia mais fácil.
A advogada verifica a hora em seu celular. 12h56. Faltavam quatro minutos pra seu horário de almoço, quatro minutos para poder respirar, quatro minutos para descansar sua cabeça. O stress era tanto que ela quase cedeu ao seu antigo vício do cigarro, porém sua amiga Manoela a impediu com uma bronca bem dada via FaceTime. Gizelly passou esses últimos minutos organizando os papéis que estavam espalhados para deixar seu escritório um pouquinho mais agradável a vista e partiu feito um relâmpago para fora do prédio quando deu seu horário de intervalo.
A morena respirou fundo sentindo-se livre pela primeira vez no dia. O céu estava azul e aberto, e o sol estava ameno, o que deixou a mulher num humor mais agradável. As persianas de seu escritório tapavam a vista, então ela nem tinha ideia de que o dia estava tão bonito. Decidiu ir a pé até seu restaurante favorito de toda Vitória, aproveitando para cumprir sua meta de exercício físico diário. Os saltos não ajudavam, porém depois de todo o stress passado por ela aquele era um mero detalhe.
Ao chegar no estabelecimento cumprimentou a todos por quem passava, desde a recepcionista até os garçons. Como costumava ir muito ali a advogada já era praticamente de casa. Se sentou na sua mesa favorita, uma que ficava na varanda do segundo andar, pediu seu prato preferido e sentiu-se mais feliz. Gizelly era uma mulher que apreciava as pequenas alegrias do dia-a-dia como ninguém. Em seus 28 anos de vida já havia passado por muita coisa ruim, então decidiu que aproveitaria tudo que a vida tivesse para oferecer de bom.
Quando voltou para seu escritório já estava mais calma e com algumas preocupações a menos. O pessoal da imobiliária ligou avisando que o problema aconteceu por conta de um erro da parte de um dos funcionários e pediu desculpas pelo transtorno, comunicou que papelada foi acertada e que estava tudo certo com os contratos do novo apartamento, o que fez a mulher suspirar em alívio. Os únicos cientes de sua mudança eram os membros mais próximos de sua família, seus amigos estavam alheios a situação, então a advogada achou uma ótima ideia marcar em um lugar com eles para contar a novidade. Ela amava Vitória, porém era inegável que São Paulo abriria muitas portas para a carreira da doutora.
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see you again
FanfictionHá quem diga que nós viemos a esse mundo com um propósito, seja ele social, próprio, ou até mesmo amoroso. Mas o que acontece se você não conseguir atingir seu objetivo? Será que temos uma segunda chance? Gizelly Bicalho já viveu uma vez, porém sent...