vaga na USP

359 46 23
                                    

Os paulistanos tem fama de serem apressados, de sempre andarem correndo onde quer que vão e de terem o relógio como seu pior inimigo. A fama pode até ser verdadeira, mas quem pode culpa-los por se adaptarem ao meio em que vivem? São Paulo tem seu ritmo próprio, consequência de uma corrida contra o relógio para tentar acompanhar a velocidade de um mundo globalizado. As informações correm, as notícias correm, os carros correm e assim fazem também as pessoas. Marcela, como uma boa paulistana que era, vivia naquela correria há tanto tempo que o ritmo frenético lhe parecia o natural. Para ela, as outras cidades que funcionavam devagar demais. Por mais estressante que sua vida pudesse se tornar, ela não sabia se seria capaz de desacelerar e adaptar-se em outro lugar que não fosse uma cidade grande. Por vezes ela se pegava sonhando em morar na sua casinha de campo, longe de tudo aquilo, mas sempre que viajava pra passar alguns dias afastada de sua cidade ela quase morria de tédio.

Pra quem vê de fora pode parecer ruim viver uma vida sem pausas, porém aquela era a única que a veterinária conhecia. Seus amigos também estavam acostumados com o jeitinho paulistano de ser, então estavam confortáveis assim como a loira. Se viam quando seus horários permitiam, e eram felizes levando a vida dessa forma. A saudade as vezes apertava forte, mas aí eles davam um jeitinho – e com jeitinho eu quero dizer uma "corridinha" – e se viam.

E foi num desses apertos que Marcela e Bianca marcaram de se encontrar num café naquela tarde de terça feira. As duas não se viam desde o último rolê em grupo, ainda no final do ano anterior. Bianca havia passado o ano novo no Rio, mas ao contrário de Mari a carioca havia permanecido na cidade. Bia estava planejando abrir uma filial de sua loja de maquiagem na cidade maravilhosa, então havia ficado por lá para poder resolver os últimos detalhes de locação do espaço e contratação de funcionários antes da inauguração.

Assim que a loira soube que a empresária estava de volta ela fez questão de marcar o reencontro. Bia era uma de suas amigas mais antigas, então queria que ela fosse a primeira a ouvir a novidade que ela tinha a contar.

A loira avisa que vai sair a sua secretária e deixa a clínica, indo até o local combinado a pé mesmo. Não era muito longe, então não tinha porquê gastar gasolina ao invés de algumas calorias – e além do mais, a loira curtia caminhar.

O caminho até a pequena cafeteria de bairro é rápido, já que o estabelecimento ficava a algumas poucas quadras do trabalho de Marcela. A loira estava atravessando a rua em direção a entrada da lanchonete quando ouve a voz da empresária gritando seu nome. As amigas praticamente correm uma até a outra quando se veem, se trombando num abraço desajeitado pela pressa. Elas não se viam há muito tempo, então a saudade conseguia ser maior que qualquer medo de passar mico no meio da rua.

— Faz tanto tempo que a gente não se vê que eu acho que tu até cresceu. — Bianca brinca e Marcela ri do jeito besta da empresária.

— Como você tá amiga? — Marcela pergunta se desprendendo do abraço da carioca. — E a viagem, como foi?

— Foi incrível! A filial da loja lá no Rio é linda. — Bia diz sorridente.

As amigas saem conversando até chegarem na cafeteria e se sentam na primeira mesa vaga que encontram. Bianca contava, com muita empolgação, todos os detalhes de sua nova loja e Marcela ia deixando a empresária atualizada sobre tudo que rolou no grupo de amigos enquanto ela esteve fora.

— E você e a Gizelly? — Bianca pergunta sem muitos rodeios, apoiando os braços na mesa e inclinando o corpo para frente.

— A gente tá indo. — A loira puxa o lábio para esconder o sorriso. — Muito bem, aliás.

— Eu nunca imaginei te ver apaixonada assim.

— Pra ser sincera, nem eu. — A loira ri.

— Se me dissessem há uns meses atrás que uma capixaba iria conseguir te deixar assim, toda cadelinha, eu iria rir muito.

see you againOnde histórias criam vida. Descubra agora